O ex-presidente Lula tem tido uma atuação ambígua nessa eleição. De vez em quando desaparece, dando margem a boatos de que estaria doente ou teria brigado com a presidente Dilma. De repente, eis que Lula surge cheio de gás num palanque no interior do Pará ou no Rio, fazendo discursos, mais que exaltados, delirantes, em defesa do PT e da reeleição de Dilma. Do jeito que ataca seus adversários, atirando para tudo quanto é lado, não parece estar muito certo da vitória.
O ato falho de pedir “só mais essa vitória” para o PT, como fez ontem, indica que o apelo é quase desespero pela possibilidade de derrota, que nunca foi tão grande. Além da baixaria de induzir a platéia a chamar o adversário de bêbado e drogado, ou de investir contra jornalistas que considerada adversários, Lula apela para mistificações diversas. Chegou a perguntar onde estava Aécio Neves quando Dilma lutava contra a ditadura com armas na mão. Ora, Aécio tinha sete anos de idade quando Dilma tinha 20.
Fazendo-se de ofendido, Lula disse que Aécio não sabia como tratar uma mulher, por tê-la enfrentado com palavras duras. E citou “leviana” como sendo uma ofensa à presidente. Aproveita-se Lula do fato de que em algumas regiões do país, sobretudo no nordeste, “leviana” tem a conotação de prostituta. E ajuda a disseminar a idéia de que o adversário agride mulheres, inclusive fisicamente, como a rede suja da internet espalha incessante e anonimamente.
Mas os vídeos mostram que o próprio Lula chamou Alckmin de leviano várias vezes nos debates da eleição de 2006. E atacou adversários hoje aliados, como Sarney e Collor, chamando-os diretamente de “ladrão” e palavras do gênero, o que diz nunca ter feito. Mesmo que vença, como as pesquisas do Datafolha indicam hoje, o PT sai da eleição menor do que entrou. E Lula também. Sobretudo por se valerem dos métodos mais baixos para vencer.
O partido continua com a maior bancada da Câmara, mas perdeu nada menos que 18 deputados federais. Elegeu apenas três governadores no primeiro turno – sendo que a jóia da coroa é sem dúvida Minas Gerais, arrebatada do grupo político do senador Aécio Neves – e nos três estados em que ainda disputa o segundo turno, pode vencer no Ceará e no Mato Grosso do Sul, mas deve ser derrotado no Rio Grande do Sul, um estado emblemático para o partido e para a presidente Dilma.
No Senado, continuará sendo a segunda maior bancada, mas com menos um senador. Para culminar a má atuação, o PT perdeu nas eleições deste ano o privilégio de ser o partido com maior número de votos na legenda para a Câmara dos Deputados, que ostentava desde 1990. Para mal de seus pecados, ainda ficou atrás do PSDB nesse tipo de voto, o que mostra a vitalidade do partido de oposição.
Os tucanos receberam 1,92 milhão de votos, correspondentes a quase 24% dos votos válidos, enquanto o PT recebeu 1,75 milhão de votos de legenda, ou 21,6% do total de votos válidos. Em 1990, quando iniciou a hegemonia agora derrubada, o PT teve 1,790 milhão de votos, que representavam 24,1% do total dos válidos, e o PSDB apenas 340 mil votos, ou 4,6%.
Por fim, com o eleitorado literalmente dividido, o vencedor receberá um país traumatizado pela violência da campanha eleitoral desde o primeiro turno, quando o PT usou de técnicas de propaganda negativa para desmoralizar Marina Silva e a própria presidente, sem nenhum pudor, insinuou que ela era sustentada por banqueiros, em referência à sua principal assessora Neca Setubal. É muito mais exagerado do que dizer que Lula é sustentado por empreiteiras, o que ninguém disse.
O PT vem desde 2010 recebendo menos votos para Presidente do que nas eleições anteriores, e a oposição cresce. Depois de perder duas vezes seguidas no primeiro turno para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-presidente Lula só conseguiu vencer no segundo turno, quando tinha uma votação em torno de 60%. A presidente Dilma foi eleita em 2010 com 56% e hoje aparece nas pesquisas do Datafolha com 52%, empatada tecnicamente e com o risco de perder a eleição.
A oposição já agrega a metade dos votos válidos, e dependendo da famosa margem de erro, pode vencê-la. Além do mais, o país ganhou uma oposição aguerrida, que se não vencer terá uma atuação muito mais eficaz no eventual segundo mandato de Dilma, com todos os problemas que são esperados nos próximos anos, crises econômicas combinadas com institucionais decorrentes do processo de delação premiada sobre a corrupção na Petrobras.
Vencedora, a oposição terá pela frente um PT jogado novamente na oposição, com uma multidão de burocratas partidários desempregados, cheios de rancor para dar.