Em julho de 1897 a Academia Brasileira de Letras pulou para a vida.
De lá para cá usou sonho e ferramentas para dar concretude aos anseios e aos compromissos definidos por Machado de Assis, Lúcio de Mendonça e todo aquele agrupamento de notáveis.
A ação centrou-se inter pares como a mais necessária. Ladearam-na alianças com os detentores de outros saberes e a conquista de recursos materiais e tecnológicos.
Acredito que a Cultura é herança e trabalho. Não se esgota na contemplação. Não se sujeita à régua e compasso do conservadorismo. Não é necessário tensionar a tradição para conviver com o moderno. Modernidade não significa menos tradição. Não se deve fazer da crendice uma crença.
O futuro não é dádiva, mas conquista.
Convergências e divergências, impasses e acertos, insurgências e ressurgências, tudo nos anima na convivência com o sincretismo da diversidade.
Nessa trilha houve a recolha do passado e a imaginação do futuro, pois a Academia não é artesanal.
Declaro-me, mais uma vez, convencido do acerto em cultivar a ideia de que devemos ser uma Academia não só de letras literárias, mas voltada também para as humanidades e com parâmetros aquecidos. Todos aqueles parâmetros que indicam vida.
A Academia não é artesanal. Sua composição assim determina. Não desaprumemos a mão, não erremos o gesto, não desprezemos o sonho. Somos responsáveis pelo ativo cultural mais destacado do Brasil. Operacionalizemos, também, a “terceira margem”.
Cento e quatorze anos de vida e seguimos apontando, com fé, para a diversidade, mas sem fragmentação.
A premiação de hoje homenageia os que pensam e até se atormentam com o custo do vício de pensar. Os ganhadores não tem cara de segunda mão.
Os ganhadores tiveram reconhecidos o saber e a sabedoria, pelo que os prêmios de um lado não são pomposos e de outro, não são obsoletos.
Recordo, como de hábito, para me manter convencido, a lição de Borges, em Ruínas Circulares, “no sonho do homem que sonhava o sonhado despertou”.
Vida que segue.