De repente, houve percepção generalizada de que o PSB cresceu e surgiu como um dos mais importantes partícipes do jogo eleitoral. Mas ele já era partido com forte penetração no Nordeste, com seis governadores eleitos, sendo quatro nessa região: Pernambuco, Ceará, Paraíba e Piauí. O que deu caráter nacional ao PSB nesta eleição municipal foi ter enfrentado e derrotado o PT em capitais como Recife, Fortaleza e Belo Horizonte.
Mas o PSB elegeu também o maior número de prefeitos de capitais, ampliando sua atuação para o Centro-Oeste (Cuiabá) e o Norte (Porto Velho). O crescimento de mais de 40% na eleição de prefeitos vencendo em 440 cidades dá nova dimensão nacional ao partido, que passará a se sentir incomodado dentro do modelo de coalizão governista, um pouco sem espaço para parceiros que tenham planos de voos mais altos. Mais fácil fazer acordos com o PMDB, que tem tamanho, mas não tem unidade para lançar candidato próprio, do que com o PSB, que já tem seu candidato potencial no governador de Pernambuco, Eduardo Campos. O papel definidor do PSB pode ser exercido já nas próximas eleições presidenciais ou pode ser adiado para 2018, tudo dependendo das condições objetivas que encontrar pela frente.
As eleições municipais têm mais a ver com a composição futura do Congresso Nacional e também com a eleição de governadores do que propriamente com a próxima disputa presidencial. No entanto, a maneira como os partidos espraiam seu poder político pelo país afora é parte fundamental da logística a ser montada para 2014.
Para efeitos práticos, o que importa é a fotografia do momento, e é certo que o PMDB, com 1.026 prefeituras (168 a menos que em 2008), e PT, com 635 (91 a mais), os dois partidos que estão no poder, governarão quase 1/3 dos municípios brasileiros, o que dá à campanha de reeleição da presidente Dilma forte plataforma para eleger bancadas no próximo Congresso. A base governista tem tudo para manter o controle político no Senado e na Câmara, acrescida do PSD, que surge nesta eleição como a quarta legenda a eleger mais prefeitos, nada menos que 496 nesta sua primeira eleição.
Se somarmos a essas as prefeituras de PP (468), PDT (312) e outros partidos menos votados, teremos um quadro amplamente favorável à campanha de reeleição. Mas acontece que também a oposição manteve uma boa base eleitoral pelo país, melhorando sua posição no Norte e no Nordeste, onde o domínio do governismo era avassalador.
Com as vitórias em Manaus e Belém, no Norte, e Maceió e Teresina, no Nordeste, o PSDB fincou os pés nas regiões, onde tem os governadores de Alagoas, Roraima e Tocantins. A eleição de Arthur Virgílio em Manaus, numa revanche pessoal, depois de ter sido derrotado por Lula na eleição para o Senado em 2010, coloca-o em posição proeminente novamente no PSDB, de que já foi secretário-geral e líder no Senado. O fato de Virgilio ter uma imagem nacional foi também ministro no governo Fernando Henrique dá-lhe condições de interferir nas decisões estratégicas do partido, e ele sem dúvida voltará a ser um dos principais líderes oposicionistas.
No total de prefeituras, o PSDB continua sendo o segundo partido, com 702, mesmo fora do governo há dez anos. Somadas às 278 prefeituras do DEM e 123 do PPS, a oposição tem uma boa base municipal para as futuras disputas.
O que pode desequilibrar a disputa é a decisão que o PSB de Eduardo Campos venha a tomar quanto a 2014. No primeiro momento, a tentativa será de acomodação dentro da aliança governista, até porque as definições para a disputa presidencial só ocorrerão a partir do fim de 2013. Uma aliança entre o PSB e o PSDB de Aécio Neves formaria chapa com força nas principais regiões, mas difícil será um dos dois abrir mão da cabeça de chapa.
Uma aliança hipotética no segundo turno é previsível caso Campos decida investir mesmo na carreira solo em 2014. O senador Aécio Neves pretende concorrer mesmo que a presidente Dilma continue com sua popularidade alta como hoje, sem grande abalos econômicos a enfrentar. Estaria semeando uma colheita para quatro anos depois.
Resta saber se o governador Eduardo Campos se resignará a disputar espaço com o PT e o PMDB por mais quatro anos, na esperança vã de vir a ser o candidato da coligação em 2018.