Se o jovem médico de saúde pública que um dia eu fui lesse a manchete da Zero Hora do dia 28 de agosto, “IBGE alerta para obesidade de adolescentes na Capital”, simplesmente não acreditaria; rotularia o anúncio como algo do gênero ficção científica. Porque, durante muito tempo, o problema básico do Brasil foi a desnutrição, não a obesidade.
Mas agora a prevalência desta última é cerca de três vezes maior que a da primeira. Ou seja: o país mudou, e mudou muito. As mudanças nem sempre são inteiramente para melhor, sobretudo no caso de Porto Alegre, que lidera o ranking da obesidade adolescente. De qualquer modo, o fato está aí. Mas podemos transformar o limão em limonada (sem açúcar). Como?
Na escola os jovens aprendem muita coisa. Inclusive, e principalmente, a cuidar da saúde. Não se trata, vejam bem, de doutrinar os alunos; trata-se de motivá-los para que adquiram um estilo de vida saudável e, ao mesmo tempo, agradável: cuidar da saúde não precisa ser, não deve ser, uma coisa chata. A verdade é que os alimentos calóricos frequentemente são agradáveis ao gosto, são vendidos em embalagens atraentes e contam com um suporte publicitário ultraeficiente.
Por causa disso, existe no Rio Grande do Sul um dispositivo legal, a lei estadual nº 13.027, de 16/08/2008, que disciplina a comercialização de lanches e bebidas nas escolas no Rio Grande do Sul. Os estabelecimentos comerciais e as cantinas devem dar preferência a alimentos saudáveis como frutas, saladas de verduras, sucos naturais. Deve estar afixado, em local visível, painel informativo com informações sobre a qualidade nutricional dos alimentos.
Está proibida a exposição de cartazes publicitários que estimulem a aquisição e o consumo de balas, gomas de mascar, salgadinhos industrializados e refrigerantes no ambiente escolar. É proibida, também, a comercialização de bebidas alcoólicas e de produtos que contenham substâncias prejudiciais à saúde ou que possam causar dependência física ou psíquica.
Uma coisa, porém, é a lei, outra é o comportamento dos jovens. Não se trata de obrigá-los a fazer as coisas, mesmo porque isso frequentemente não funciona. Trata-se de educá-los. A cantina ou o equivalente pode se transformar num local para uma excelente aula prática sobre alimentação sadia – sempre evitando o tom moralista ou repressor. É bom dar oportunidade aos alunos para que façam sugestões. Tudo isso me faz lembrar um antigo provérbio latino que aprendi no Colégio Rosário: Non scholae sed vitae discimus, aprendemos não para a escola, mas para a vida. A educação em saúde é disso um grande exemplo.
Zero Hora, 4/9/2010