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A propósito...

 

Nos Estados Unidos, a situação é conhecida como “By-the-way syndrome”, a síndrome do “a propósito”. O roteiro é típico: a pessoa vem consultar, em geral por um pequeno problema, responde às perguntas do médico, recebe a orientação e depois – em geral quando já está a caminho da porta – pigarreia e diz algo como “A propósito, doutor...”. E aí vai revelar a verdadeira causa de suas preocupações, o verdadeiro motivo de sua consulta. Que é, frequentemente, de natureza sexual.


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A síndrome do “a propósito” é muito frequente, e reflete a dificuldade que as pessoas têm em falar com os médicos acerca de problemas considerados tabus. Destes, a disfunção sexual é um exemplo. No ano passado, um estudo realizado nos Estados Unidos, abrangendo 3 mil homens com dificuldade de ereção, mostrou que 40% deles jamais haviam contado a um médico o seu problema. Isto reflete o desconforto destas pessoas, inclusive em relação ao profissional. Um estudo publicado no Journal of the American Medical Association (Jama), mostrou que três quartos dos pacientes achavam que o médico não daria atenção ao problema; 68% achavam que o doutor ficaria até perturbado nesta situação.


O que tem fundamento. Durante muito tempo esta foi uma lacuna no currículo das escolas de Medicina: ensinar aos estudantes como falar com os pacientes que têm problemas considerados embaraçosos. Uma pesquisa realizada em escolas médicas canadenses mostrou que a maioria não dedica mais que 10 horas de treinamento a esta questão – num curso que dura seis anos. Nas universidades de Harvard e de Massachusetts apenas 6% dos estudantes conseguiam conversar a respeito com pacientes mais idosos.


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Está na hora, portanto, de encarar este tema de maneira mais franca e menos traumática. Isto vale tanto para médicos como para pacientes. É preciso falar, é preciso trazer à tona as secretas causas de sofrimento. Falar, como mostra o tratamento psicanalítico, é essencial, é um grande passo para diminuir a ansiedade e para que a pessoa se sinta melhor. A propósito, você já pensou nisso?


Zero Hora (RS), 19/9/2009