Beatriz
No hábito de ler diariamente os jornais do Amapá, dei de frente com uma história triste, que se torna bela pela carga de sentimento humano que encerra.
No hábito de ler diariamente os jornais do Amapá, dei de frente com uma história triste, que se torna bela pela carga de sentimento humano que encerra.
Lévi-Strauss, há 50 anos, disse no seu famoso "Tristes Trópicos" que o principal poluidor da Terra é o homem. Daí, talvez, pudéssemos retirar um aforismo: se é o homem o responsável pela poluição, seria ele que deveria acabar. Mas não é esse o problema, e sim o de salvar a natureza para o homem. Em 1972, fiz talvez o primeiro discurso no Parlamento brasileiro sobre ecologia, com uma visão científica e fora do ufanismo romântico das belezas naturais e sua conservação.
A América Latina ofereceu ao mundo, nos anos 80, a maior onda de democratização depois da Segunda Guerra Mundial. O processo foi indolor, sem a violência e as guerras da descolonização na África e na Ásia.
Com o passar dos anos, já é possível ver as consequências que vão surgindo e as tendências que se vão formando com a nova (?) Constituição de 1988. Acho que essa avaliação está passando ao largo dos estudiosos do direito e da sociologia política. A verdade incontestável é sua ambiguidade, sua dupla face: uma com normas próprias do regime parlamentarista, outra do presidencialismo predominante.
Em 1985, quando falei como presidente nas Nações Unidas, tive uma pequena divergência com o Itamaraty. Eu mesmo trabalhara o meu discurso e tinha escrito: "Malsinado o homem que tiver vergonha de pensar na terra sem a companhia de Deus" e "o Brasil é um grande país mestiço que se orgulha de sua identidade". Eles me advertiram que a referência a Deus não era diplomática, uma vez que a ONU era uma instituição laica e tinha países de vários credos ou mesmo ateus ou agnósticos. A outra observação era que eu não podia falar em país mestiço. Não era de bom tom. Recusei as duas observações e mantive meu texto. Sobre ser mestiço, ressaltei que várias das mais altas expressões criadoras da nossa cultura provieram da mescla racial, da mútua fertilização das etnias.
Ninguém tem a verdadeira noção da importância de possuir um cartão de crédito. Ainda mais se for Ouro. É que pessoa alguma se dá ao luxo de ler a documentação que o acompanha. Em primeiro lugar você é distinguido com uma carta personalizada do presidente de um dos maiores bancos do Brasil e às vezes do mundo. Ele diz que está muito feliz de ter sido escolhido por você e lhe agradece com uma dádiva extraordinária: “Para comemorar a sua escolha você acaba de receber o nosso cartão que permite comprar em quase todas as lojas do mundo”. Para concluir manda-lhe mensagem carinhosa: “Parabéns. Poucos podem ter este cartão, especial como você”.
Mais do que as casas, as ruas de Brasília dão problema. Teotônio Vilela, que era um grande "causeur", sempre me dizia que a cidade fora feita para ninguém receber citação judicial, com endereços que apenas referem números e pontos cardeais, como em Nova York, tentando evitar elitismos e criando o primeiro deles, que é de saber, num tempo em que a maioria da população era candanga, quase analfabeta, destas coisas que marcam a Terra.
RIO - A crise mundial que vivemos não tem precedentes e está vinculada a outra que deixou o socialismo à morte. Marx concebeu sua teoria num mundo que não existe mais: nem na geografia política, econômica e social, nem no estilo de vida.
A REVISTA "Serafina", da Folha, me pede para escolher os dez livros que marcaram a minha vida. Dez, só dez! Os livros têm sido meus amigos de todos os momentos, desde que, menino, descobri a Biblioteca do Povo, com livros como "A Revolução da Maria da Fonte", que eu li com encantamento e formou uma das heroínas da minhas infância: "No lugar da Fonte, Concelho (sic) da Póvoa do Lanhoso, no coração do Minho, existiu a que foi a Joana d'Arc do Setembrismo".
MEUS LEITORES estão me achando muito sisudo.Vou atendê-los com o menu do Obama no almoço de posse, esquecido do verdadeiro, que era "Bush assado ao molho de ferrugem" e a crise que varre o mundo.Obama, com sua fantástica exposição midiática, despertou todas as curiosidades, até o apetite de milhões de pessoas na exposição glamourosa das baixelas, em que a presença de seu adversário McCain foi ofuscada pelo primeiro prato que foi servido, "cozido de frutos do mar", acompanhado de um vinho californiano, Duckhorn Vineyards 2007, de cepas francesas de sauvignon. Depois, uma composição de aves americanas (faisão e pato), servido com um chutney (molho picante) de cerejas amargas e batata-doce com melado, acompanhado de Goldeneye 2005, um pinot noir. De sobremesa, um bolo de maçã e canela com glacê doce e champanhe da Califórnia (horrível!).
OBAMA É O SOL nascente. Bush é a luz que se apaga. Nestes seus oito anos fui inclemente com ele, sem saber se algumas vezes exagerei, mas a verdade é que a sua marca na história é um grande desastre.
Sempre o mês de janeiro foi um tempo light. Período de férias, recuperador de forças, esperança e alegria, pernas para o ar que ninguém é de ferro, sol e maresia, mulheres com seu corpo exposto às caricias do sol, liberto das roupas e dos arrependimentos. A mídia sem notícias, recorre-se apenas aos desastres nas rodovias ou crimes inusitados. Até os anúncios fogem.
Ano novo, dores de cabeça novas. Vim passar o Natal e o fim de ano em São Luís. Minha casa tem uma vista para o mar, de frente para a baía de São Marcos, onde ficam fundeados os navios que vão para o porto da Madeira, da Vale do Rio Doce, ou Itaqui, terminal de carga geral.
ANO VELHO , ano novo. De viver, vive-se com a invenção do tempo. Escrever sobre estas festas e estado de espírito é coisa difícil, a começar pela exigência dos gramáticos. Ano-Novo, com maiúscula e hífen, é o champanhe se abrindo, a festa da passagem. Já ano novo, tudo minúsculo, são todos os dias do novo ano. Por isso é correto dizer bom Ano-Novo e feliz ano novo. De um jeito ou de outro, queremos um 2009 de progresso, tranqüilidade e paz, dando graças por ter vivido o ano de 2008. Paz para Guido Mantega, tranqüilidade para o Meirelles e o progresso fica mesmo para o presidente Lula. Mas não é isso que as cassandras andam berrando no mundo todo.
O calendário marcado pelos dias gloriosos do ano e a vida cotidiana ajudam os cronistas. Como fugir dos sinos do Natal, que têm os sons das lembranças de todos os Natais, tanto quanto a nossa vida? São memórias que vão desde a infância, nas sombras cinzas das lembranças daquele interior perdido nos campos verdes do Maranhão, quando íamos à igreja louvar o nascimento do Filho de Deus, cujas sandálias João Batista dizia ser indigno de desatar, até a madurez da reza em comum com a família, lendo o Evangelho de São Marcos, que descreve o que aconteceu na manjedoura de Belém.