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Bush, por quê?

 

OBAMA É O SOL nascente. Bush é a luz que se apaga. Nestes seus oito anos fui inclemente com ele, sem saber se algumas vezes exagerei, mas a verdade é que a sua marca na história é um grande desastre.


Suas reações diante dos desafios de governar foram erradas e geraram hipotecas para o mundo que permanecerão muito tempo. Assumiu a Presidência com os Estados Unidos prósperos, superavitários, única, isolada e incontrastável potência. Céu de brigadeiro. Surge um raio, Bin Laden e o 11 de Setembro. Bush, pelo temperamento, pela sua formação pessoal, pela sua personalidade, reage a tudo de maneira errada. Em vez de convocar o mundo para a grande cooperação e aliança contra o terrorismo, opta por ser guerreiro, seu primeiro pensamento foi invadir o Iraque, só acredita na força das armas e não das ideias (o contrário do que afirmou Obama). Para gastar na guerra e diminuir o imposto dos ricos, partiu para o déficit. Incentiva o descontrole do mercado financeiro, a farra dos derivativos, a corrupção dos balanços das grandes empresas. Liquida a economia americana, que extrapola sua desgraça para o resto do mundo.


Dia 20 esse homem transmitiu o governo a Obama. Em qualquer parte do mundo ele seria execrado, vaiado e, se pudesse, estraçalhado.


Mas nada disso aconteceu, e o novo presidente disse: "Quero agradecer ao presidente Bush os serviços que prestou aos Estados Unidos e a maneira como conduziu a passagem do poder". Nenhuma manifestação do povo de protesto. Continua Obama: "Em 233 anos de nossa democracia por aqui passaram só 44 americanos eleitos pela soberana vontade da nação. Nenhum país conseguiu tão longo período de estabilidade institucional". Bush retira-se. É tratado pelo povo ali reunido com respeito. Com todos os seus defeitos, deu oito anos de sua vida em favor do país. Rodeando-o, ali estavam os ex-presidentes Clinton, Bush, pai, Carter. Não eram pessoas, eram instituições e assim faziam parte da história americana.


Pretos, brancos, amarelos, mestiços reunidos numa grande família, para festejar o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. A poderosa democracia americana mostra sua força. Velhos negros, velhos brancos, veteranos e novatos, numa foto íntima, mostrando ao mundo o governo do povo, seu vigor, suas instituições. O passado era o desastre: a herança de duas guerras e a maior crise econômica do século. Mas a tudo isso sobreviveu, graças à liberdade, liberdade de escolher, de realizar a busca da felicidade de que falou Jefferson, o sonho americano, exemplo para todos nós.


Folha de S. Paulo (SP) 23/01/2009

Folha de S. Paulo (SP), 23/01/2009