EU QUERO ACREDITAR QUE VOU olhar este novo ano como se fosse a primeira vez em que 365 dias desfilam diante de meus olhos. Ver as pessoas que me cercam com surpresa e espanto, alegre por descobrir que estão ao meu lado dividindo algo chamado amor, muito falado, pouco entendido. Entrarei no primeiro ônibus que passar, sem perguntar em que direção está indo, e saltarei assim que olhar algo que me chame atenção. Passarei por um mendigo que me pedirá uma esmola. Talvez eu dê, talvez eu ache que irá gastar em bebida, e seguirei adiante - escutando seus insultos e entendendo que esta é sua forma de comunicar-se comigo. Passarei por alguém que está tentando destruir uma cabine telefônica. Talvez eu tente impedi-lo, talvez eu entenda que faz isso porque não tem ninguém com quem conversar do outro lado da linha, e desta maneira procura espantar sua solidão. Em cada um destes 365 dias eu olharei tudo e todos como se fosse a primeira vez - principalmente as pequenas coisas, com as quais já estou habituado e esqueci-me da magia que as cerca. As teclas do meu computador, por exemplo, que se movem com uma energia que eu não compreendo. O papel que aparece na tela, e que há muito tempo não se manifesta de maneira física, embora eu acredite que esteja escrevendo em uma folha branca, que é fácil corrigir apertando apenas uma tecla. Ao lado da tela do computador acumulam-se alguns papéis que não tenho paciência de colocar em ordem, mas se eu achar que escondem novidades, todas estas cartas, lembretes, recortes, recibos ganharão vida própria e terão histórias curiosas - do passado e do futuro - para me contar. Tantas coisas no mundo, tantos caminhos percorridos, tantas entradas e saídas na minha vida.