Pena que o Paulo Coelho esteja viajando, deixando-me longe de seus conselhos. Ele é entendido em sinais, sabe interpretá-los tal como José que explicou o sonho do Faraó e falou nas sete vacas magras e nas sete vacas gordas.
Ignorante em todo o mais, sobretudo em sinais, fico sem saber se realmente o Governo de Lula está dando os primeiros sinais de exaustão interna e desencanto externo. Sinceramente, não creio nesta falência múltipla de órgãos. Há gordura suficiente para encarar os desafios que estão como aquele leão que o apóstolo viu rodeando as almas que cairiam no Tártaro.
Que as coisas estão meio complicadas, estão. O discurso continua bom, a turma do PT tem usança do palanque. Uma coisa é estar rodeado pela militância, a céu aberto, com bandeira e palavras de ordem que incrementam o entusiasmo, não apenas do povão, mas dos oradores, dos senhores que ficam no palanque, como pastores superescolados, apascentando o rebanho.
Outra é a solidão da mesa de trabalho, das decisões que devem ser tomadas, das prioridades que devem ser estabelecidas, do duro ofÍcio de governar um país e gerir os conflitos da sociedade.
A melhor maneira para evitar a dicotomia entre a intenção e a ação, é fazer. Fazer qualquer coisa concreta, que deite raízes e promova o crescimento nacional. Neste particular, o exemplo de JK é a melhor referência. No primeiro dia de Governo, foi a Volta Redonda, descolou um empréstimo com Nixon, teve início o dobro da nossa produção de aço.
Criou grupos de trabalho para realizar suas 30 metas, que foram todas alcançadas, inclusive a meta suplementar que era Brasília. Nunca se queixou da oposição, que armou duas revoltas militares para depô-lo. Foi o sinal de que o Governo estava dando conta do recado.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em 10/07/2003