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Artigos

  • Japonês não se preocupa com besteira

    O Estado de São Paulo (São Paulo - SP) em, em 13/07/2003

    Os jornais vivem dando notícias de opiniões estrangeiras sobre o Brasil. Conferimos enorme relevância a essas opiniões e muita gente costuma mudar as suas próprias, ou as absorvidas antes, em favor das últimas importadas. Não passa dia sem que os jornais publiquem pelo menos umas quatro matérias sobre opiniões estrangeiras a nosso respeito, não contando as das áreas financeiras, que, adicionadas às outras, deixam qualquer um maluco. Fogem-me exemplos agora, mas todo mundo já viu, a não ser que tenha prudência suficiente para não ler páginas econômicas. Ocupamos o segundo lugar no mundo em enfiar o dedo no nariz em público, precedidos somente pelo Gabão. Em compensação, somos um honroso 34 numa lista dos que coçam os fundilhos também em público, superando a própria Dinamarca, onde oito em cada dez cidadãos se entregam à reprovável prática, principalmente no inverno, pois banho não é um costume assim muito arraigado na Europa. E por aí vamos, em perpétua avaliação do nosso comportamento, acompanhando com atenção o que diz o famoso Primeiro Mundo sobre o nosso país e sobre nós mesmos.

  • Grande qualidade de vida

    O Globo (Rio de Janeiro - RJ) em, em 06/07/2003

    Antigamente, não havia qualidade de vida. Quer dizer, não se falava em qualidade de vida. Agora só se fala em qualidade de vida e, em matéria de qualidade de vida, sou um dos sujeitos mais ameaçados que conheço. Na verdade, me dizem que venho experimentando uma considerável melhora de qualidade de vida, mas tenho algumas dúvidas. Minha qualidade de vida, na minha modesta opinião pessoal, não tem melhorado essas coisas todas, com as providências que me fazem tomar e as violências que sou obrigado a cometer contra mim mesmo. Geralmente suporto bem conversas sobre qualidade de vida, mas tendo cada vez mais a retirar-me do círculo ou recinto onde me encontro, quando começam a falar nela.

  • Papai Noel, desengano

    O GLOBO (Rio de Janeiro - RJ) em, em 22/12/2002

    Neste Natal, muitos de nós, uma hora lá qualquer da noite, vamos ficar meio de beiço pendurado e ânimo melancólico. Sempre que converso com mais de uma pessoa sobre o Natal, pelo menos uma delas me diz que partilha comigo desse sentimento um tanto indefinido, não propriamente tristeza, mas uma certa dor difusa, uma certa saudade de nada, uma certa melancolia, enfim. É algo, como as doenças de antanho, que vem com os pneumas, os fluidos misteriosos que enchem o ar sem que nos apercebamos. Tanto assim que contagia até quem não é cristão, como sei que acontece.

  • A lei da mordaça

    O Estado de São Paulo (São Paulo - SP) em, em 15/12/2002

    Antes que me acusem de propaganda enganosa, apresso-me a esclarecer que os que esperarem aqui uma análise profunda da chamada "lei da mordaça", ou mesmo de uma explicação pormenorizada do que é a tal lei, se decepcionarão. Estou tão confuso sobre o assunto quanto a maior parte de vocês, se é que a maior parte de vocês, nesta época do ano em que somos forçados pela tradição a devolver à circulação o dinheiro que achamos que é nosso e ficamos com um riso besta estampado nas nossas faces ovinas, tem tempo para se preocupar com a lei da mordaça.

  • Novidades de fim de ano

    O GLOBO (Rio de Janeiro - RJ) em, em 08/12/2002

    Acabou o ano, ficaram poucas novidades para este restinho diante de nós, a principal das quais será a perspectiva da subida ao poder de um novo presidente e uma Câmara de Deputados e um Senado parcialmente renovados. Claro, ainda haverá os fogos de fim de ano, certamente um atentado ou dois e os Estados Unidos talvez não agüentando mais, de tanto se coçar para invadir o Iraque, partam para a guerra, acompanhados dos ingleses. Ouvi em um noticiário que os gastos americanos com armas subiram para a estratosfera, a começar pelo estoque de bombas inteligentes, daquelas em que ouvimos falar desde a primeira guerra do Golfo, que iam cair numa refinaria e, por leve equívoco, explodiam num hospital a cem quilômetros de distância da refinaria. A morte e destruição que virão já causam grande e sagrada alegria em certos círculos.

  • Saudades de FH

    O Estado de São Paulo (São Paulo -SP) em, em 24/11/2002

    A maior parte dos freqüentadores de botecos e assemelhados, grã-finos ou não, concordará comigo: já se ouvem críticas, às vezes contundentes e exaltadas, ao governo de sua excelência dr. Luiz Inácio Lula da Silva. Para começar, "Sua Excelência", não; "companheiro", no máximo, pois não só é o que os petistas usam entre si, como simplesmente não cola chamar um metalúrgico de "doutor", do mesmo jeito que se faz com qualquer um que ponha gravata ou dirija um carrão no Brasil. Doutor e sua excelência, uma conversa. Companheiro Lula e olhe lá, simplesmente não dá pé chamá-lo de outro jeito, o que já é - ninguém tinha pensado - um de seus múltiplos defeitos, pois só que tem o direito de chamar o presidente de "você" em público, aqui no Brasil, é o Jô Soares, como todo mundo sabe. E esse não, esse vai ser chamado de "você" a torto e a direito e, o que é pior, é capaz de atender.

  • Votar em quem e para quê?

    O GLOBO (Rio de Janeiro - RJ) em, em 22/09/2002

    Suspeitamos, muita gente e eu, que uma grande percentagem dos eleitores brasileiros, maior talvez do que se subestime na base do palpite, iria para a praia, o piscinão, o clube ou à pracinha, se não fosse obrigada a votar. Direito estranho esse, criação surrealista de nossa imaginação política, ou adaptação do que vigora, ou vigorou, em algum país que consideramos exemplar, ou seja, quase todos. É direito, mas, ao mesmo tempo, dever. Na verdade, esse “direito” seria perfeitamente dispensável, já que, de acordo com o que ouvimos, não se pode nem ir ao banheiro sem estar quites com a Justiça Eleitoral, ou seja, sem poder brandir o papelucho que recebemos depois de votar.

  • Panorama eleitoral da ilha

    O GLOBO (Rio de Janeiro - RJ) em, em 08/09/2002

    Estive em Itaparica até o fim de semana passada e receio que não temos grandes novidades em relação ao assunto que parece ocupar todo o noticiário, ou seja, as eleições presidenciais. Quanto às estaduais, há um certo movimento, com carros de som desfilando e tocando jingles e praticamente todas as paredes pichadas, como recomenda a boa democracia, inclusive no Rio e São Paulo. Nesse ponto, nos igualamos a todas as grandes metrópoles. Em relação à Presidência, contudo, receio que não haja paixões desenfreadas. Mas participei de debates eventuais no Mercado Municipal Santa Luzia, principal centro de negócios da cidade, e de lá trago algumas lembranças, bem como do bar de Espanha, um dos mais importantes centros de reuniões na nossa zona central.

  • Formando opiniões

    O GLOBO (Rio de Janeiro - RJ) em, em 25/08/2002

    Como já disse aqui, não gosto de ser chamado de “formador de opinião”. Não me agrada ser um cidadão como outro qualquer que, apenas por escrever uma coluna de jornal, ambiciona mudar a maneira de as pessoas pensarem. E nem creio que consiga isso, pois as opiniões costumam ser consideradas boas se coincidem, ainda que parcialmente, com as de quem é exposto a elas. Quem concorda comigo já concordava antes. Talvez sem perceber, mas concordava. Quem discordava vai continuar a discordar, talvez até com mais veemência.

  • Por fora das notícias

    O GLOBO (Rio de Janeiro - RJ) em, em 11/08/2002

    Participei, na qualidade de fedelho recém-saído da adolescência, patrulheiro, intolerante e panfletário destemperado, do tempo em que a palavra “alienado” era das mais usadas para quem quer que falasse em outra coisa que não o imperialismo norte-americano, a existência ou não de uma burguesia nacional e a caracterização da realidade política rural como feudalismo, além de uns poucos assuntos correlacionados. Era difícil endereçar insulto intelectual mais desdenhoso ou mesmo contundente, a ponto de haver gente que saía no tapa depois de ser chamada de alienada. Como a maior parte da turma, no fundo, só pensava de verdade em mulher, alguém acabava não agüentando e falando em mulher mesmo, mas tinha que ser cuidadoso.

  • O fim da impunidade

    O GLOBO (Rio de Janeiro - RJ) em, em 04/08/2002

    Aposto que vocês ainda não sabem do triste caso de Bingo. Procurei comentá-lo com vários amigos e ninguém tinha ouvido falar de nada sobre o assunto, para mim palpitante e talvez um marco em nossa realidade. Como eu já disse aqui, às vezes parece que sou o único a ler certas coisas, a ponto de recear ser tido como mentiroso. E, de fato, de vez em quando eu conto uma mentirinha, mas é caso raro, perfeitamente compreensível para um ficcionista e nunca suficientemente sério para justificar essa fama. Mas o caso não é inventado, é um drama da vida real e estou com o recorte na mão, para mostrar a quem duvidar da história comovente de Bingo, que, apesar de seus aspectos talvez melancólicos e certamente controvertidos, acaba por abrir caminho para vários progressos, em que o país, mais uma vez, poderá servir de exemplo para o mundo e alento para os brasileiros já descrentes das instituições, como acho que está a maior parte de nós.

  • A guerra permanente

    O GLOBO (Rio de Janeiro - RJ) em, em 14/07/2002

    Quando eu era rapazinho, creio que, em um ou dois filmes cuja ação se passava em Roma antiga e que durante um certo tempo eram muito comuns, vi algumas cenas em que dois patrícios romanos, com ar preocupado, falavam-se:

  • Se vivo estou, é algum milagre

    O GLOBO (Rio de Janeiro - RJ) em, em 30/06/2002

    Alguns de vocês (a maioria, meu Deus do céu?) é capaz de não suportar jornalistas e, portanto, achar merecido o que passamos, em horas, por exemplo, como estas que atravesso, tendo de já ter escrito sobre uma final de copa sem ter visto nem um lancezinho. E em que circunstâncias, meu caro senhor? Nas mesmas efetivadas no dia do jogo com a Inglaterra, na hora em que alguém inventou que só ganharíamos o jogo se o assistíssemos no boteco, com o resultado de que o boteco ficou entupido de gente exaltadíssima para ver o jogo já por volta das oito horas - e vocês podem muito bem imaginar o que aconteceu devido a isso, eis que diversos companheiros tiveram que ser reconduzidos às suas residências bem antes de o jogo começar.

  • Vida dura

    Estado de São Paulo (São Paulo - SP) em, em 23/06/2002

    Pode não parecer, mas a vida do jornalista é muito dura. Não me refiro a casos como o do Tim Lopes, que, como tudo mais o que de criminoso se faz no Brasil, nunca vai ser satisfatoriamente apurado. Lá se foi mais um herói, movido por vocação e ideal, porque por fama e por dinheiro ele não era. Jornalistas como ele morrem aos montes, em toda parte do mundo, vítimas de quem quer que contrarie interesses poderosos. Acontece aqui, acontece no Oriente e até no chamado Primeiro Mundo, só que com métodos mais sofisticados, como carros-bombas e semelhantes. Ninguém liga, como ninguém praticamente ligou à passeata em memória do Tim Lopes, um bando de gatos-pingados passeando comoventemente pela orla do Leblon. E nisso mesmo vai ficar, posso apostar.

  • Eles me pegaram novamente

    Estado de São Paulo (São Paulo - SP) em, em 16/06/2002

    Não se pode facilitar. Atualmente, vinha adotando, com notável êxito, a técnica já divulgada aqui mesmo e fornecida por um deles num momento de fraqueza, seguindo a qual, quando um médico dizia "quero ver você", eu lhe mandava uma foto minha recente, com uma gentil dedicatória e anunciando que tinha mais à disposição, sempre que se fizesse necessário ver-me. Funcionava às mil maravilhas e já até previa uma velhice feliz, quando a escada interveio. Muito ancho com minhas imunidades, esqueci a escada, essa traiçoeira construção que liga meu escritório à sala de visitas e comecei a não dar bola para ela.