Ainda Bem
Volto a escrever no JC depois de férias. E já digo qual a notícia que mais me preocupou, durante esse tempo em que andei longe das folhas ‒ a da minha morte.
Volto a escrever no JC depois de férias. E já digo qual a notícia que mais me preocupou, durante esse tempo em que andei longe das folhas ‒ a da minha morte.
Lisboa. Não está bem, todos vêem. Sigamos no relato de seu fim.
Um adeus diferente dos de todo dia, esse era verdadeiramente definitivo. Então lhe dei um beijo na testa e fui para casa. Na mesma noite, redigi o testamento. Hélio Coutinho, tabelião, lavrou no livro dia seguinte.
O Conselho Nacional de Educação (CNE) decidiu no começo deste mês, ao tratar do tema Linguagem Neutra, que sua adoção "alteraria a estrutura do português que aqui se fala". A conclusão foi de que ""trata-se de um fenômeno ainda incipiente", no Brasil de hoje, e "só pessoas ligadas ao núcleo em que nasceu usam" tal linguagem.
Decidiu ir a São Paulo e junta, com mais quatro médicos, confirmou esse diagnóstico. Melhor voltar e morrer no Recife. Só que não conseguia suportar essa espera e decidiu abreviar sua história. Melhor o fim do espanto que um espanto sem fim.
Voltamos, ao Brasil, depois dessa última decisão monocrática do ministro Toffoli de anular todos os julgamentos do Petrolão. Pensei escrever artigo com título em homenagem ao livro de Ruben Fonseca, "A Grande Arte da Corrupção". Ou alguma variável como "A Corrupção Venceu", "Viva a Corrupção", "Ah! Que Delícia de Corrupção" (mais um ponto de ironia que ainda não foi inventado). Para examinar os argumentos desse advogado do PT que virou ministro pelas mãos do hoje Presidente da República, a quem serviu como Advogado Geral da União. E do silêncio cúmplice de seus 10 colegas no Supremo que estão calados e, aparentemente, muitos satisfeitos.
Para tanto é preciso, antes de tudo, lembrar que nosso poeta só escrevia sobre o que estava de seu lado ‒ amigos, família, geografia da cidade, admirações literárias, mitologia, por aí. Nada, nele, era por acaso.
No prefácio à sua monumental Comédia Humana, Balzac escreveu "A acusação da imoralidade é a última que resta a fazer quando não se tem mais nada a dizer". E o que devem dizer as pessoas de bem depois da última decisão do Supremo?, eis a questão. Calar? Lembro frase atribuída ao reitor perpétuo da Universidade de Salamanca, Miguel de Unamuno, "Há momentos na vida em que que calar é mentir". Tudo menos calar, pois. Nem sair às ruas, como Balzac, denunciando a "imoralidade", talvez fosse demasiado melodramático, mesmo levando em conta esse torpor que hoje invade nossas almas.
Habeas-corpus na hora. Revisão Criminal. Quem está dentro sai fora
Mais conversas, hoje novamente só com cantadores, em livro que estou escrevendo (título da coluna). E já lembro que assim, como Pelejas, são conhecidos os grandes desafios entre cantadores famosos. Desde o século XIX, começando com os dois maiores daquela época, Romano Teixeira e o negro cativo (ele próprio assim se definia) Ignácio da Catingueira. Só para lembrar, cantadores cantam sempre acompanhados com suas violas. Menos o dito Ignácio da Catingueira e Fabião das Queimadas, que usavam pandeiros. E o Cego Aderaldo, já no século XX, com sua rabeca. Vamos às mais célebres, dessas Pelejas.
Tudo começou quando Tancredo Neves morria, era inevitável. No Ministério da Justiça convoquei, para reunião, quem poderia dar opinião sobre como José Sarney, vice-presidente, passaria a ser presidente da República.
No Brasil, segundo a Constituição de 1891, nomeados pelo Presidente da República deveriam ser submetidos à aprovação do Senado. Com 3 diferenças relevantes, em relação a hoje: I. O indicado assumia o cargo antes mesmo da aprovação; II. O debate se dava em sessão secreta; sem haver, necessariamente, uma sabatina pública. III. A Constituição definia que o indicado deveria ter notável saber – sem especificar um notório saber jurídico, como ocorre hoje.
Pode o Supremo investigar? NÃO! Segundo ao art. 129, esta é uma "Função institucional do Ministério Público"
Todos considerando "fingir", acabamos de ver, como o ato de falsear a realidade. A quem leia o poema com essa percepção, bom lembrar advertência do próprio Pessoa: "A essência da ironia consiste em não se poder descobrir o segundo sentido do texto por nenhuma palavra dele; deduzindo-se parecer, dito segundo sentido, do fato de ser impossível dever o texto dizer aquilo que diz".
Já no Poder Judiciário é todo dia. Como faz pouco, em decisão monocrática e fora de qualquer recurso, quando o ministro Toffoli (que não fazia parte do processo) mandou para casa um corrupto, Prefeito de cidade do Amapá, condenado em última instância com sentença transitada em julgado?