O governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, na tentativa de manter o apoio do ex-presidente Bolsonaro, aproxima-se perigosamente dele, a ponto de poder perder o apoio daqueles que, sendo antipetistas, votariam nele, mas não gostariam de enxergar nele a continuidade do governo que tentou golpear a democracia. Não existe um candidato de direita que se viabilize sem o apoio explícito de Bolsonaro, mas um simulacro do bolsonarismo ficará restrito a um nicho radicalizado que não é competitivo.
Menos ainda se, como parece que ele quer, um candidato que tenha seu sobrenome na chapa, sendo vice ou mesmo um membro da família como candidato a presidente, como o senador Flávio Bolsonaro ou sua mulher, Michele, que aparece como a mais viável entre os familiares. Mesmo que Bolsonaro apoiasse um outro candidato que não Tarcisio, não haveria uma adesão maciça do eleitorado, pois tanto Caiado quanto Zema ou Ratinho Junior são líderes regionais muito bem avaliados, mas sem repercussão nacional.
O último fenômeno desses que se destacou de Alagoas para o país inteiro foi o então governador Collor de Mello, que chegou à presidência da República como um pretenso renovador da política nacional saído do nordeste. Sua atuação midiática de combate fictício aos marajás do serviço público local mobilizou a opinião pública nacional. Os governadores de direita que hoje se colocam como candidatáveis à presidência não têm suas boas administrações irradiadas para o resto do país.
Entre eles, por ser o governador do maior Estado brasileiro, Tarcisio de Freitas é o único que tem repercussão nacional de sua administração, mas também não teria nenhuma chance de ser competitivo caso não seja apoiado por Bolsonaro. Por isso mantém a posição de que disputará a reeleição, que parece bastante provável a esta altura. Caso Bolsonaro não o apoie, preferindo um parente, ou demore a se definir, Tarcisio teria mais chance se reelegendo governador de São Paulo e esperando para 2030, já não tão dependente de Bolsonaro. Essa também seria uma boa solução para o PT dependente de Lula.
Se estiver em condições de saúde de enfrentar uma campanha, e recupere um pouco da popularidade, Lula ainda teria chance de se reeleger se a direita se dividir e Bolsonaro não for esperto o suficiente para garantir sua liderança apostando num candidato competitivo. Em recente depoimento, o ex-presidente Bolsonaro, tentando dar um ar de normalidade à minuta do golpe, relatou que discutiu, inclusive, intervenção, “dentro das quatro linhas” da Constituição. Ele admite com todas as letras a tentativa de golpe. Diz que se falou em intervenção no TSE, diz que viu a minuta e descreve os tópicos, depois dá todos os passos de um golpe, mas diz que não tinha apoio. Que não poderia seguir por isso.
Aí diz: “se você vai dar um golpe de Estado, tem que pensar no after day. O que faz depois do golpe? Como fica o mundo perante você? Então, foi descartado logo de cara”. Como não havia razão para discutir medidas excepcionais por causa de uma derrota eleitoral, o que Bolsonaro admite é que estava se preparando para dar o golpe, que não aconteceu inclusive pela certeza de que não haveria apoio internacional. O timing do golpe foi contrário à vontade de Bolsonaro, para sorte dos brasileiros. Mas se acontecesse já com Trump eleito, o caso seria outro. O mundo mudou com a ascensão dele, e o golpe de estado provavelmente teria o apoio dos Estados Unidos e dos países europeus hoje nas mãos da extrema direita.