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Vacinar faz bem

 

Para a saúde do presidente Lula, o Fórum de Davos poderia representar um risco, e ele fez bem ficando em casa, mas, para a saúde do mundo em geral, marcou um avanço. Isto por causa do anúncio feito por Bill Gates (Microsoft): a fundação que ele dirige vai doar US$ 10 bilhões para estimular a pesquisa de novos imunizantes, e para levá-los aos países mais pobres. “Esta será a década da vacina”, disse Gates.


Esperemos que ele esteja certo. Apesar dos impressionantes êxitos conseguidos pelas campanhas de vacinação, muito ainda resta para ser feito. Precisamos, para dar um único exemplo, de uma vacina contra aids. Acontece que, para a indústria farmacêutica, de maneira geral, é mais interessante produzir remédios contra o colesterol alto, por exemplo, ou remédios para a disfunção erétil – coisa que têm consumo certo na classe média – do que arriscar em vacinas, que atendem basicamente às necessidades das populações pobres.


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Mas os custos da pesquisa e da produção não são o único problema nesta área. Por incrível que pareça, há gente que é contra vacinas, pelos motivos mais variados. Já no final do século 18, quando o médico inglês Edward Jenner começou a vacinar contra a varíola, um teólogo escreveu um sermão intitulado “A perigosa e pecaminosa prática da vacinação”. Argumentava que a doença era um castigo divino e que evitá-la era “coisa do demônio”. No século 19 foi fundada, nos Estados Unidos, uma Sociedade Antivacinação. E no começo do século 20 estourou no Rio a Revolta da Vacina – sempre contra a vacinação antivariólica.


A isto se acrescentaram argumentos de ordem legal (contra a obrigatoriedade), política (vacina é em geral coisa de governo, e oposição sempre existe), econômica, técnica. Às vezes, os argumentos têm fundamento; no passado, vacinas não bem preparadas ou testadas causaram problemas, inclusive letais. Mas quando se faz o cálculo das vidas salvas pela imunização vê-se que os benefícios ultrapassam de forma esmagadora esses eventuais custos e problemas.


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Estas considerações se tornam importantes no momento em que o Brasil se prepara para uma campanha de vacinação contra a gripe. De novo, há pessoas criticando os governos e a Organização Mundial da Saúde, argumentando que a vacina custou muito caro, que a indústria farmacêutica se beneficiou com isso. Pode ser. Mas o vírus não está nem aí para essa polêmica; se puder, ele infectará, e ficará contente se não encontrar imunizante pela frente. Por isso, a vacina é necessária. Com ou sem discussão a respeito.


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A propósito: do dr. Roni Quevedo recebo a informação de que o periódico médico inglês The Lancet decidiu retratar-se da publicação do artigo que, 12 anos atrás, ligou a vacina tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba) a casos de autismo, deflagrando uma onda mundial de paranoia contra a imunização de crianças.


Zero Hora (RS), 13/2/2010