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Artigos

 
  • O programa Fala Zero

    O Globo (Rio de Janeiro), em 08/05/2005

    Como diversos entre vocês (a palavra “como”, no caso, não é verbo, faço questão de esclarecer), fiquei um pouco surpreendido com a iniciativa do governo em orientar o uso da língua para o politicamente correto. Digo “um pouco” porque espero patadas desse governo com regularidade e os brasileiros estão acostumados a ele meter o bedelho em tudo. Mas, se a surpresa foi pouca, a reação não pode ser, porque, demonstra a História, é assim que começa. Vão tomando um dedinho, a gente deixa, aí tomam a mão, tomam o braço, tomam o tronco e quando a gente (aliás, “gente”, assim como “pessoa”, não devia ser palavra feminina, porque há o risco de ofender homens extremadamente ciosos de sua masculinidade; tentemos empregar, por exemplo, “gento” e “pessôo” ao nos referirmos ao sexo masculino e “genta” ao feminino) se dá conta, já tomaram o corpo todo.

  • Quando o proibido é proibido

    O Globo (Rio de Janeiro), em 08/05/2005

    LOGO DEPOIS DE UMA PALESTRA EM Haia, na Holanda, um grupo de leitores se aproximou. Eles queriam que visitasse a cidade onde vivem, já que, garantiam-me, ali estavam fazendo uma experiência única na Europa.

  • O impossível acontece

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 07/05/2005

    Almoçava com meu amigo Roberto Feith, pedimos o que de melhor havia no restaurante cinco estrelas. Quando solicitamos a conta, milagre, o maître disse que ela já estava paga. Olhamos em volta e dei com outro amigo, médico em São Paulo, que me fizera a gentileza, a qual não pude retribuir, a não ser agradecendo com as palavras banais que usamos em circunstâncias iguais, raras para os meus lados.

  • A União Européia a perigo

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 06/05/2005

    Não mais do que de repente eis o grande propósito da União Européia a risco do plebiscito de sua Constituição. Um "não" majoritário não acarretaria necessariamente a quebra do conseguido até agora. Mas, sem dúvida, um possível revisionismo das medidas à frente, contidas na Carta Magna, e dispostas a transformar uma estrita união de estados no avanço de uma efetiva cidadania européia. Ficaria este progresso crucial exposto às revivescências das velhas soberanias nacionais. Os países do Benelux deram a partida, na consagração indiscutível, pelas suas populações, do marco adiante que representa o verdadeiro pacto federal proposto. E, no mesmo passo, segue-se a Espanha, onde o Governo socialista de Zapatero ganhou, hoje, a nitidez de uma busca real de alternativa ao eixo liberal que parecia o tônus do primeiro lustro do velho continente neste século. O núcleo, entretanto, de toda a solidez do projeto continua o eixo Berlim-Paris e, de mais a mais, o "não" surge inesperadamente como a tônica do plebiscito francês do dia 29 de maio.

  • Direitos humanos e o besouro barbeiro

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 06/05/2005

    Muitas coisas precisam nos preocupar. Mas falta tempo e, por isso, vamos sendo enganados pela vida cheia de problemas. Agora mesmo estamos vendo como nos descuidamos dos preconceitos. Foi preciso a Secretaria dos Direitos Humanos nos alertar para essa maldade.Não é que eu passei a vida toda considerando o preto uma cor, a preta, sem saber que assim estava ofendendo toda a África e sendo racista, porque "achando a coisa preta" ia denegrir pessoas, sem querer nem pensar. Lembro-me de Jorge Amado, que foi o primeiro a descobrir isso, porque ele sempre dizia: "a coisa está como entre as pernas dessas mulheres, preta". E, nesse caso, não ofendia as pretas, mas tratava das bondades do gênero feminino, segundo Caminha, o que ele certamente preferiria fazer para não ser enquadrado como racista.

  • A correção política e verbal

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 06/05/2005

    Semana passada, numa palestra em Fortaleza, perguntaram-me sobre a necessidade de um melhor diálogo da igreja com a sociedade. É evidente que não sou autoridade nem tenho especial interesse no assunto, mas questionei as duas palavras-chaves da pergunta: "sociedade" e "diálogo". No caso específico da igreja, ela se preocupa não com a sociedade, mas com a humanidade, que é a mesma desde que o mundo foi criado e habitado por mais de um homem. Houve um papa, não sei se João 23 ou Paulo 6º, que lembrou ser a igreja uma "expert" em homem. É isso aí.

  • Atualidade do feminismo

    Diário do Comércio (São Paulo), em 06/05/2005

    Um de nossos jornais publicou um artigo de autora americana sobre o feminismo. Na opinião dessa autora, o preconceito contra o feminismo continua a ter cultores.

  • O bem do mundo livre

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 05/05/2005

    Não morro nem muito menos vivo de amores pelo Hugo Chávez, não gosto de sua cara de índio aculturado, de seus trejeitos histriônicos, tampouco de sua maneira de governar por meio de plebiscitos certamente macetados. Tampouco apreciava Saddam Hussein, com o seu farto bigode e o seu farto arsenal de crimes.

  • A entrevista coletiva

    Diário do Comércio (São Paulo), em 05/05/2005

    A entrevista coletiva de Lula à mídia impressa e audiovisual não trouxe nenhuma novidade que não conhecêssemos, com a única diferença, de resto destacada nos jornais e no rádio e na televisão, foi a de que o presidente é unha e carne - expressão de mau gosto - com o ministro Palocci e com o presidente do BC, Henrique Meirelles.

  • A tentação da cristandade

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 04/05/2005

    Não se flagrará mais a humanidade na praça, como se a viu nas exéquias de João Paulo II. Uma coesão universal filtrava, a mão na mão, por entre o mirar aberto de um mundo em trégua, numa solidariedade transbordante. Ou num estado de graça percutente, subversivo às rotinas da ''civilização do medo''. Era o escape, que, inconscientemente, clama pela perenidade do instante, ou desliza às nostalgias de um mundo tornado à cristandade. A tentação seria de retornar-se ao universo mental que o Vaticano I procurou conter frente aos tempos modernos. O Concílio de João XXIII já foi o de um pleno desposar da Igreja pelos nossos dias e à busca de seus sinais, como o dos chamados de uma Igreja encarnada.

  • O Velho Chico ainda não encontrou sua vocação severina

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 04/05/2005

    Sustento, há muito (meio século!), que o Brasil tem dois problemas fundamentais a resolver: a Amazônia e o Nordeste. Da solução dependem o seu desenvolvimento e, mais, sua integração, na consolidação da identidade nacional. Infelizmente, conhecidos e apregoados, não tiveram até hoje, por falta de competência e firmeza (para não dizer coragem), ou por inapetência (mal ainda maior) de um governo que se dispusesse a enfrentá-los e resolvê-los.

  • A sogra do presidente

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 04/05/2005

    Graças ao controle remoto, costumo ver diversos programas e filmes numa mesma noite, mas dificilmente pego o início deles e mais dificilmente ainda vou até o fim. Numa dessas incursões, apanhei uma boa entrevista do Lula com o presidente da CUT, cuja cara e nome não guardei.Ignoro como o tema começou entre os dois. Devia ser a questão dos juros, e Lula confessou, com um humor condescendente, que a sogra dele, certamente a mãe de dona Marisa, fazia pequenos empréstimos no banco porque gostava de ter sempre algum dinheirinho em casa, provavelmente no colchão, no que estaria seguindo o exemplo do Severino, que também pratica o mesmo e saudável tipo de poupança ou esporte.

  • O impostismo

    Diário do Comércio (São Paulo), em 04/05/2005

    Quando inauguramos a fase atual do Diário do Comércio, fizemo-lo com uma ofensiva vigorosa contra o excesso de impostos que pesam sobre todas as classes do País, porém muitíssimo mais sobre as classes menos favorecidas, porquanto os impostos são iguais para todos os contribuintes.

  • Schmidt, o brasileiro

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 03/05/2005

    Toda biografia é de certo modo romanceada. A autobiografia também. Quem escreve e descreve o que foi vida de outrem insere sempre no seu trabalho sua própria experiência de vida e/ou sua interpretação dos acontecimentos narrados.

  • Besteira tem hora

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 03/05/2005

    Em outros tempos, poderia parecer piada do Teatro de Revista, do "Balança mas não cai", do Max Nunes. Mas a besteira tem caráter quase oficial, pelo menos, mais dia menos dia será adotada pelos manuais de redação dos jornais, das revistas e das editoras.