Se a saída de Maria Silvia Bastos da presidência do BNDES abriu espaço para o governo Temer se reconciliar com o empresariado, que tinha muitas reclamações da antiga gestão, a escolha do economista Paulo Rabello de Castro para substituí-la não indica que uma mudança de rumo será feita.
Maria Silvia fez o que tinha que ser feito num primeiro momento para equilibrar as contas do banco, e quem a critica não está lembrando a catástrofe que foi o governo Dilma, avalia o novo presidente do BNDES.
É preciso lembrar também que Paulo Rabello foi o criador e presidente da primeira empresa brasileira de classificação de risco de crédito, a SR Rating, e nunca deu o investment grade ao Brasil, mais rigoroso, portanto, que suas congêneres internacionais. Ou mais conhecedor de nossas mazelas.
Mesmo antes de tomar pé do banco que presidirá, ele tem opiniões claras sobre alguns pontos relevantes. Embora considere que o crédito é a base de um banco, especialmente de desenvolvimento, Paulo Rabello acha que o BNDES não pode dar crédito a empresas que tenham acesso ao mercado internacional, e não gosta da ideia de criar campeões nacionais do tipo da JBS que está hoje no centro dos debates.
A escolha de Paulo Rabello indica que o presidente Temer não quis, ou não pode, mudar o rumo do BNDES, apesar das reclamações do empresariado. Na conversa fatídica que teve com Joesley Batista, o presidente ouviu sérias reclamações, e não as contestou. Ao contrário.
Quando o dono da JBS disse que Maria Silvia não tinha interlocução com o empresariado e comentou que "o BNDES tá bem travado" Temer aduziu que o banco tem uma verba de R$ 150 bilhões parada, o que teria irritado a então presidente Maria Silvia.
No pronunciamento em que se defendeu das acusações, o presidente Temer citou-a e ao presidente da Petrobras, Pedro Parente, como exemplos de executivos de seu governo que moralizaram as respectivas estatais. Mas a pressão dos empresários estava forte e Maria Silvia percebeu no comentário crítico do presidente na conversa com Joesley que não teria muito mais espaço para continuar.
A situação política de incerteza serviu de estímulo para a saída, inclusive porque corria o risco de vir a ser chamada para uma CPI sobre a JBS. Já o economista Paulo Rabello de Castro, à frente do IBGE há um ano, teve uma posição de firmeza com a cúpula do Palácio do Planalto e a equipe econômica, e se deu bem.
Em entrevista recente ao jornal Valor Econômico, ele foi categórico: “A situação econômica é muito ruim. E tende a agravar a síndrome de confiança, porque tudo o que essa administração tem tentado fazer desde o dia 01, que foi comemorado há dias o primeiro ano, foi reinstituir a confiança. E no momento em que politicamente essa confiança é desmontada no seu aspecto mais visceral, que é a confiança na atitude do governante, realmente é para ficarmos muito preocupados”.
Sua sinceridade foi entendida como uma despedida do governo, o famoso “sincericídio”, até porque ele fez uma exclamação em meio à entrevista que irritou alguns assessores diretos do presidente Temer: “Dane-se o governo”, disse.
Mas Paulo Rabello estava defendendo a autonomia do IBGE, e se referia a qualquer governo que quisesse interferir no instituto. Ele falava especificamente sobre as críticas que os números do IBGE sofreram, por não refletirem a melhoria da economia que o governo estava vendendo.
Algumas revisões para melhor de números setoriais, que ele considerou normais, também foram criticadas, mas ele se bateu pela competência técnica do IBGE, e acabou sendo recompensado com a designação para presidir o BNDES. Mesmo ao sair Paulo Rabello fez questão de deixar claro que não considera que teve uma promoção, e se diz “um ibgeano com uma nova missão”.