Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Problemas às pencas

Problemas às pencas

 

Nos últimos dias o PT anda às voltas com problemas que afetam sua imagem, faltando poucos meses para a eleição presidencial. Alguns deles poderiam ser evitados, outros não. Cada notícia sobre os atrasos das obras para a Copa, especialmente os estádios de futebol, é mais um ponto negativo na avaliação da capacidade de gestão do governo. Poderia ter sido evitado se o governo, desde que foi anunciada a decisão da Fifa, em 2007, tivesse trabalhado com seriedade.

Mas por um bom tempo pareceu que a propaganda seria o suficiente para aumentar a popularidade do governo. A realidade tratou de colocar as coisas nos devidos trilhos, e o gasto excessivo ( que seria bancado pelo setor privado, lembram-se da promessa?) acabou explicitando as verdadeiras necessidades da população: hospitais, escolas, “padrão Fifa”, e não estádios de futebol.

A crise da Petrobras poderia ter sido evitada se a presidente Dilma não tivesse furado com seu “sincericídio” a bolha de mentiras que protegia o mau negócio da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Uma reação correta, mas atrasada, que parece estava martelando a cabeça da presidente, que evitou estourar a bolha antes para não atrapalhar a eleição do presidente Lula em 2006.

Estávamos lidando com os escândalos do mensalão, e seria demais surgir outro escândalo, e logo na Petrobras. Foi nessa campanha, aliás, que o governo jogou todas as suas fichas na demonização das privatizações, e deu certo, para espanto do próprio marqueteiro João Santana que, mais tarde, admitiu em entrevista que ficara surpreso com a falta de reação do PSDB em defesa da privatização da telefonia, por exemplo, que levara os celulares para a classe média e até para os trabalhadores.

Como presidente do Conselho, a presidente Dilma lutou contra a compra da outra metade de Pasadena mas, como agora, não tinha condições de ir mais fundo na apuração. Hoje ela bate-boca em público com o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabielli, mas não tem condições de ir adiante, pois exporá ao cidadão as transações ocorridas na gestão da Petrobras durante o governo Lula.

O caso do deputado André Vargas, que insiste em não renunciar, porém, é exemplar de como a situação política foge ao controle dos caciques petistas, até mesmo do maior deles, o ex-presidente Lula. Na já famosa entrevista aos “blogueiros confiáveis”, como definiu muito bem um “jornalista confiável”, o ex-presidente Lula jogou Vargas ao mar, dizendo que ele tinha que se explicar “por que senão é o PT que paga o pato”.

Foi nessa entrevista também que Lula, num ato falho, pediu empenho para impedir a CPI da Petrobras lembrando que uma CPI para investigar uma corrupção de 3 mil reais nos Correios do PTB acabou se transformando na CPI do mensalão. Lula tem toda razão de temer que a CPI da Petrobras acabe em coisa pior para o governo e para o petismo, e é por isso que recomenda que o governo se dedique a inviabilizá-la.

Também a ex-ministra Gleisi Hoffman mostra-se preocupada com a situação de Vargas e fez um comentário bizarro sobre a situação: “O envolvimento do deputado com um doleiro não encontra justificativa para ter acontecido e acaba impactando no PT e na política”. Como não encontra justificativa para ter ocorrido, senadora? A senhora não ouviu o diálogo de Vargas com o doleiro Alberto Yousseff em que este diz ao deputado que está tratando da “independência financeira” dos dois?.

Mas tanto Lula quanto Gleisi Hoffman têm razão em uma coisa: esses casos estão mesmo impactando a imagem do PT, já muito abalada desde os tempos do mensalão.

O Globo, 23/4/2014