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A polêmica do e-book

 

Em primeiro lugar porque, ao que tudo indica, será um sucesso de vendas. Segundo recente matéria do The Wall Street Journal, os e-books já respondem, nos Estados Unidos, por cerca de 8% do faturamento total da venda de livros, o dobro do ano passado. Especialistas no mercado editorial acham que poderão representar 20% a 25% do total de vendas até 2012. Paralelamente, caem as vendas de livros de papel: nos Estados Unidos foram vendidos, em 2008, 1,63 bilhão de unidades (excluindo volumes educativos e técnicos), mas neste ano de 2010 o total deve diminuir para 1,47 bilhão (e para 1,43 bilhão em 2012). Pergunta: como vai repercutir esta tendência no meio editorial? E em relação aos autores? Questão complexa. Para começar, temos o assunto dos direitos autorais. Tradicionalmente, o autor recebe uma porcentagem que pode variar entre 5% e 15% do preço de capa (10% é a cifra mais comum). Mas isso vai mudar.


O livro digital é mais barato, e ainda que a percentagem do autor possa aumentar (afinal, a editora não gasta mais em papel, em impressão, em transporte, e pode assim repassar percentagens maiores para o escritor), no cômputo final os resultados podem ser frustrantes. Nos Estados Unidos um livro "hard cover", de capa dura, é vendido em média por US$ 28; metade vai para a editora, e 15%, ou US$ 4,20, para o autor. Já o livro digital está sendo vendido por cerca de US$ 12,99; a editora agora fica com 70% e o autor com 25%, mas isso representa apenas US$ 2,27. Uma consequência desse fato é que os tradicionais adiantamentos pagos pelos editores (pelo menos a autores mais conhecidos) ficaram menores. Um fenômeno parecido com o que aconteceu na área musical: a internet fez com que menos bandas fechassem contratos com gravadoras.


O lado bom disso é que os preços menores dos e-books podem resultar em aumento das vendas, e portanto de leitores, o que, num país como o Brasil, seria muito benéfico. É verdade que a demanda maior é por autores e livros famosos; os estreantes vão ter mais dificuldades nesta nova conjuntura. No Brasil, segundo pesquisa da Câmara Brasileira do Livro (CBL), a maioria dos editores e livreiros vê o e-book com otimismo. Como nos Estados Unidos, a vendagem é ainda incipiente; somente 2% das empresas trabalham com o livro eletrônico em proporção significativa de seu catálogo. Mas a Inclusão Digital cresce em nosso país; cerca de um quarto da população já tem acesso à internet, e o mesmo, sem dúvida, acontecerá com o livro digital.


Finalmente, fica a pergunta: e o processo de criação literária, vai mudar ou haverá uma simples transposição do texto da página impressa para a tela? A indagação tem fundamento nas múltiplas possibilidades oferecidas pela informática. Nada impede que se combine o texto com imagens, com animações, com vídeos. No caso do livro impresso, isso seria muito caro ou impossível.


Agora, porém, talvez esteja nascendo um novo conceito de livro. Uma revolução semelhante àquela gerada por Gutenberg, quando, através da prensa, possibilitou a troca do pergaminho penosamente copiado à mão pelo prático livro como hoje o conhecemos. O mundo evolui e o livro evolui com ele.


Uma coisa, porém, é certa: no caso da ficção, contar uma boa história continua sendo essencial. E uma boa história, feita só de palavras ou de palavras e imagens, nasce na cabeça do escritor. Literatura continua sendo, basicamente, arte.




Correio Braziliense, 5/10/2010