As pessoas precisam do patriotismo, porque isso significa uma participação grupal, significa a afirmação de uma identidade nacional
Este fim de semana, que é também um feriadão, é balizado pelo patriotismo: começou no 15 de novembro da proclamação da República e terminará na segunda, dia 19, Dia da Bandeira. O que não é coincidência: a bandeira foi um dos primeiros símbolos criados pelo novo governo, e em quatro dias estava pronto.
O que apela mais ao patriotismo, o 7 de Setembro da Independência ou o 15 de Novembro? Difícil dizer, mas as duas datas têm muito em comum. Em ambos os casos foram decisões súbitas; em ambos os casos tiveram um protagonista principal, Dom Pedro I e o Marechal Deodoro; em ambos os casos, a proclamação foi feita desde o lombo de um cavalo. Um detalhe muito significativo; durante muito tempo o cavalo foi um símbolo de poder. Quem estava montado estava literalmente por cima. Ou seja: ambas as proclamações partiram da elite. Isso não quer dizer nada; não é raro que membros da elite saibam prever corretamente o rumo da História, e no caso foi exatamente o que aconteceu: foram decisões irreversíveis. Mas das quais o povo não participou. Na famosa frase do jurista, político e jornalista Aristides Lobo, um dos pais da República, "o povo assistiu bestializado ao ato da proclamação da República". O termo que usou é desagradável e grosseiro, mas também reflete a maneira como a elite via o povo.
A bandeira é complexa e tem uma história complexa. Em relação às cores: aprendemos na escola que o verde significa as nossas matas, o amarelo é o ouro e o sol. Mas uma outra interpretação nos diz que verde e amarelo estão associados à casa real de Bragança, da qual fazia parte o imperador D. Pedro I, e à casa real dos Habsburg, à qual pertencia a imperatriz D. Leopoldina, o que seria uma memória atávica e quem sabe saudosa da época da realeza. E depois temos o círculo interno azul. Corresponde à imagem da esfera celeste, inclinada segundo a latitude da cidade do Rio de Janeiro, às 8h30min do dia 15 de novembro de 1889. Cada estrela representa um Estado da federação. As estrelas não têm o mesmo tamanho; aparecem em cinco diferentes dimensões.
Finalmente, a inscrição "Ordem e progresso". Trata-se de um lema positivista. O positivismo, criado pelo francês Auguste Comte, é uma doutrina filosófica que valoriza a ciência como forma de entendimento, e que tinha vários seguidores no Brasil, entre eles o médico Raimundo Teixeira Mendes, de quem partiu a idéia da bandeira.
Pergunta: será que é fácil para um menino ou uma menina desenhar a bandeira? Será que é fácil compreendê-la? A resposta tem sido dada através dos tempos. Aprendemos a simplificar o símbolo. O verde e amarelo se consolidaram como nossas cores (e a Seleção canarinho ajudou muito neste sentido), a bandeira freqüentemente é estilizada.
As pessoas precisam do patriotismo, porque isso significa uma participação grupal, significa a afirmação de uma identidade nacional. Dá prova disso a emoção que sentimos quando, no Exterior, ouvimos alguém falar a nossa língua, ou escutamos, através de um alto-falante qualquer, Garota de Ipanema. Muitas vezes vibrei quando vi nossa bandeira, com suas estrelas de cinco grandezas e seu lema positivista. Mas a vez em que mais vibrei foi quando, assistindo à famosa maratona de Nova York, vi passar um corredor enrolado no auriverde pendão da nossa terra. E quando ele me abanou, sorridente (era daqui de Porto Alegre) foi a glória. Era a Independência, a República e todos os feriadões do mundo juntos.
Neste próximo fim de semana, a Opus (na verdade, Octopus: tentáculos culturais por toda a parte) está oferecendo um espetáculo simplesmente imperdível no Teatro do Sesi: o Grupo Corpo. O grupo mineiro é hoje a maior expressão da dança no país, e seu novo espetáculo tem sido elogiadíssimo.
No dia 12 de dezembro, no mesmo teatro, uma volta ao jazz no que tem de melhor, com os Swingle Singers, que há décadas encantam platéias. Vão lá.
Zero Hora (RS) 18/11/2007