Diante das discussões gerais sobre a ortografia, que se repetem, com o mesmo e monótono estribilho, nos últimos cem anos, decidi endereçar ao mestre e amigo Evanildo Bechara uma carta, assimilando uma proposta mais adiantada. Selvagem. Sem hífen ou acento. Um duelo com a escrita. A próxima tentativa? O português na ortografia dos ideogramas.
Meu Kerido Evanildo Bexara,
Pesso enkaressidamente ke konsidere kom boa vontade a prezente missiva, ke dirijo a um omen douto, mestre dos mestres, linias, por isso mesmo, eskritas kom temor e tremor.
Sobretudo nos dias ke correm, dias de mudanssas radikais, onde sossobram sertezas e medram ardidos kaminhos.
Alssemos, pois, karo mestre, o paviliao da paz no kampo de batalia da ortografia.
Ke cessem alfim as inuteis geras, sange, e orror ke a etimolojia - tiranika! - nos impoe inklemente.
Sejamos fassanhudos e atakemos os orizontes de antanho ke ate oje pezam sobre nossos ombros desvalidos.
Fassamos uma obra meritoria, demokratika. Tratasse dum esforsso ezijente, de pura vontade e adezao.
Para ke servem assentos, hifens & sedilhas, tantos e tamanhos, senao para dividir os sidadaos, maltratalos e perseguilos?
Karo Bexara, komo sabe, era assim ke penssavam muitos de nossos inklitos patrissios, desde o sekulo dez e nove.
Konto kom seu espirito sutil nesse ezame. Sem fantasmas latinos e espiritos gregos. Kuanto a mim, ditei estas mal trassadas linias para ke visse, com seus proprios olios, a pele e o aroma de uma lingoa nova.
Lingoa liberta e nassente, lingoa leve, sem a pezada erudissão ke onubila, ao fim e ao kabo, a imajem dakilo ke realmente keremos dizer.
Asseite o meu abrasso kordial, keirame bem!
Kom a estima ke devo ao mestre e amigo
Marko