Agosto, o mês do desgosto de 2009, terminou relativamente bem no que se refere à gripe. O registro dos casos mostrou um franco declínio. Na segunda semana, eram 1.165 casos; na terceira, 639; na quarta 151. O que, com o término do inverno, era previsível.
O que vem agora? Exercícios de futurologia são sempre arriscados, particularmente na medicina e na saúde pública. Mas podemos considerar algumas tendências. Assim, os epidemiologistas falam em uma segunda onda de gripe. O que, de novo, faz sentido. O inverno do Hemisfério Norte vai se encarregar de manter a doença, que poderá chegar até o nosso inverno em 2010. E como será esta fase? Os prognósticos se dividem em alarmistas e otimistas. Os alarmistas falam em uma mutação do vírus – para pior, claro: um germe de virulência maior. Mas não há razões para achar que isso vá acontecer. Pesquisadores da Universidade de Maryland, num estudo promovido pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, infectaram cobaias com vírus da gripe para investigar se o H1N1 poderia se fundir a outras cepas gerando um agente infeccioso mais agressivo. E não, o H1N1 não sofreu mutações – pelo jeito, e à semelhança de pop stars, não quer dividir o palco com os rivais. O estudo comprovou, no entanto, a facilidade de disseminação do vírus, reforçando a possibilidade de uma segunda onda.
Mas aí as coisas terão mudado. Em primeiro lugar, até lá deverá estar disponível uma vacina – e a vacina, mesmo sem conferir 100% de proteção, ainda é a maneira mais eficaz de combater a gripe. Não haverá vacina para todos. Não é um imunizante fácil de preparar, exige um meio de cultura não muito disponível, o ovo de galinha embrionado (“choco”) e isto resultará no estabelecimento de prioridades, o que, aliás, já é feito no caso da gripe sazonal. De qualquer modo a vacina protegerá inclusive aqueles que não a receberem: pessoas imunizadas funcionam como barreiras contra a disseminação do agente infeccioso. Não foi preciso vacinar todo mundo contra a varíola para acabar, não apenas com as epidemias, mas com a própria doença; depois que uma percentagem de cerca de 80% da população mundial recebeu o imunizante, o vírus, que só podia sobreviver no ser humano, sumiu. Hoje, só existe em culturas guardadas cuidadosamente em alguns laboratórios. Um resíduo da Guerra Fria: Estados Unidos e União Soviética fizeram questão de preservar o agente infeccioso, como potencial ameaça de guerra biológica.
Mas não precisamos apenas esperar pela vacina. Temos o verão pela frente; por que não transformá-lo no verão da saúde? Um período em que podemos praticar exercícios físicos (ou começar a praticá-los, no caso dos sedentários), podemos nos alimentar de forma mais sadia, podemos terminar com os hábitos que representam riscos, sobretudo o fumo. Tudo isso significa estimular o nosso sistema imunitário. Não diretamente, como o faz a vacina, mas indiretamente, criando barreiras orgânicas para o vírus. Afinal, se o H1N1 pode ser esperto, nós também podemos.
Zero Hora (RS), 8/9/2009