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Fora do compasso

 

Curiosamente a presidente Dilma tem feito tudo certo com relação à compra da usina de Pasadena pela Petrobrás, mas com oito anos de atraso. Mandou demitir o diretor a quem atribuiu um relatório falho que induziu o Conselho que presidia ao erro e, diante da afirmação de seu advogado de que recebera os documentos completos sobre as compra com 15 dias de antecedência, negou peremptoriamente a versão.

Parece ter razão, pois o advogado, que aparentava ter informações para encostar a presidente na parede, na verdade estava sendo apenas leviano. A fama de centralizadora da presidente Dilma não se justifica nesse episódio, pois ela deixou que circulasse a versão oficial da Petrobrás de que a compra de Pasadena fora um bom negócio durante vários anos, quando já estava convencida, pelo menos desde 2008, de que o Conselho que presidia na ocasião fora ludibriado por um relatório falho por incompleto.

O mais estranho, no entanto, é que permita que autoridades sob seu comando continuem divulgando a versão de que nada houve de errado na compra da refinaria, mesmo depois que ela, de próprio punho, admitiu que fora um mau negócio que nem mesmo deveria ter sido autorizado. Ninguém menos que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse recentemente que o negócio de Pasadena não teve nenhum problema. Nesse caso, o governo está atingindo o auge de sua incompetência, desmentindo a própria presidente para defender os membros da corporação responsáveis pelo mau negócio. E evitando que uma CPI do Congresso investigue o assunto seriamente, coisa que os órgãos de fiscalização governamentais não poderão fazer por constrangimentos próprios do corporativismo.

Disse que a presidente está fazendo tudo certo mas logo tenho que me retratar, pois com as manobras incentivadas pelo Palácio do Planalto, não haverá investigação nenhuma sobre a suspeita compra da refinaria em Pasadena, assim como outras suspeitíssimas refinarias, uma na Argentina, vendida a amigos dos Kirchner, e outra em Pernambuco, feita para agradar o bolivariano Hugo Chavez.
Se contarmos a refinaria boliviana que foi confiscada por Evo Morales à força da armas sem que o país reagisse, temos a Petrobrás sendo usada para ajudar nossa política de aproximação com os governos populistas da América Latina, com prejuízos em série. E a compra da refinaria de Pasadena, a quem ajudou?

Cheiro de queimado

Certos políticos, quando aparecem apenas por gestos inusitados, acabam pagando pela exibição. A ex-deputado Angela Guadagmin saiu dançando miudinho para comemorar a absolvição de um colega corrupto, no que ficou conhecido como "a dança da pizza"!, e não foi reeleita.

O deputado André Vargas levantou o punho à moda dos "revolucionários" para constranger o presidente do STF, Joaquim Barbosa, que estava a seu lado em uma cerimônia oficial do Congresso. Agora, corre o risco de perder o mandato acusado de corrupção.

Quando apanhado em flagrante tendo recebido um fogão e uma geladeira de presente de casamento em 2011 do bicheiro Carlinhos Cachoeira, o então senador Demóstenes Torres foi à tribuna do Senado para fazer-se de inocente. Disse que não poderia devolver presentes, e que não sabia que Cachoeira era bicheiro.

Em sua terra, Cachoeira era um empresário respeitado. As investigações mostraram que a amizade entre o senador e o bicheiro era mais que isso, era um contrato de trabalho. Demóstenes ajudava Cachoeira em seus pleitos no Congresso, o aconselhava, e recebia em troca muito mais que simples presentinhos de casamento.

A reação do deputado André Vargas, vice-líder do PT, ao ser apanhado em flagrante usando um jato particular alugado pelo doleiro Yousseff, que está preso, foi semelhante, mas desastrada desde o início.

Disse que pediu o avião por que as passagens comerciais estavam muito caras, depois disse que pagara o combustível – que custaria muito mais caro que os vôos comerciais para sua família – e mais adiante admitiu que nem o combustível saiu de seu bolso.

Vargas alegou também que conhecia Yousseff há mais de 20 anos de sua cidade, e que não sabia que era doleiro. Mais adiante, quando gravações da Polícia Federal mostraram-no como intermediário de um negócio entre o doleiro e o ministério da Saúde que rendeu a lavagem de dinheiro de mais de R$ 30 milhões, segundo a Polícia Federal, Vargas admitiu na mesma tribuna que fora “imprudente” ao aceitar o jatinho.

O PSOL pediu um a investigação sobre o deputado “revolucionário” à Comissão de Ética da Câmara, seguindo o mesmo procedimento do caso de Demóstenes Torres. É provável que, como no caso do senador do DEM, a PF tenha muitas outras gravações de conversas de André Vargas com o doleiro.

O Globo, 4/4/2014