Uma mulher pode até conseguir enganar seu parceiro fingindo um orgasmo, mas pesquisadores holandeses afirmam ter conseguido flagrar o falso clímax com a ajuda da tomografia computadorizada. Áreas ligadas a emoções ficam "desligadas" no orgasmo verdadeiro, mas ativas no falso. Folha Ciência, 21.06.2005
Estavam casados há mais de 20 anos, e nesses anos jamais -jamais!- ela tivera um orgasmo.
Isso não queria dizer que o casamento fosse infeliz. Não era. Ela amava o marido, homem bom, compreensivo, carinhoso, que satisfazia suas vontades e lhe dera três filhos lindos. O único problema era aquele, do orgasmo. Problema de que ele, aliás, não se dava conta porque, na cama, a mulher era uma verdadeira artista. Fingia chegar ao clímax com uma perfeição de dar inveja a qualquer atriz de filme pornográfico. A verdade é que ela conhecia o orgasmo verdadeiro; experimentava-o com o amante, o dono de uma loja próxima à sua casa, com quem se encontrava uma vez por semana. Não eram encontros agradáveis; tratava-se de um homem grosseiro, brutal mesmo, dado a piadinhas de mau gosto e que, além disso, bebia. Mas continuavam juntos porque ela fazia questão do orgasmo.
Foi aí que leu no jornal a nota pedindo voluntários para a pesquisa. Um detalhe chamou-lhe a atenção: teriam preferência as mulheres capazes de fingir um orgasmo.
Decidiu ir até lá. Porque o fez, não saberia dizer. Talvez quisesse viver uma aventura diferente, diferente daquela que vivia com o amante, diferente daquela que vivia com o marido. Foi. Introduziram-na em um laboratório cheio de aparelhos e pediram-lhe que fingisse um orgasmo. Foi o que ela fez, impressionando os cientistas que nunca haviam visto um clímax tão realista. Depois, mostraram-lhe as tomografias de seu cérebro. Ela ficou impressionada com as áreas brilhantemente iluminadas que via ali. A que se devia tal fenômeno?
- O orgasmo pode ser falso - disse um dos pesquisadores, sorrindo. - Mas a emoção é verdadeira.
Ela saiu dali pensando naquelas palavras. Com que então, havia emoções verdadeiras, profundas no sexo que fazia com o marido. Era uma possibilidade que nunca lhe ocorrera.
Naquela noite o casal fez sexo. E, pela primeira vez em 20 anos, ela teve um orgasmo verdadeiro. Tão verdadeiro que, para espanto do marido, ela pôs-se a chorar convulsivamente.
É o ápice do amor. Mas há um problema: não sabe o que fazer com o amante. Se pudesse, ela o abandonaria. Mas ele já a ameaçou de morte se ela fizer isso.
Continuam se encontrando. Ela já não tem prazer algum, não tem orgasmo algum. Mas não perdeu a antiga habilidade: finge como ninguém. Em seu cérebro acendem-se luzes. Tristes, brilhantes luzes.
Folha de São Paulo (São Paulo) 04/07/2005