É possível que São Paulo tenha dois candidatos de direita no segundo turno? As pesquisas eleitorais mostram que essa hipótese existe, embora menos provável do que uma disputa entre o prefeito Ricardo Nunes e o psolista Guilherme Boulos. Em Goiás, também a direita está dividida entre o candidato do governador Ronaldo Caiado, a quem Bolsonaro chamou de covarde recentemente, e o do ex-presidente.
Ao que tudo indica, a direita brasileira dará uma demonstração de força no próximo fim de semana, mas também de divisão, o que pode dificultar a chegada ao poder em 2026. A não ser que Bolsonaro, por um golpe de mágica jurídica que costuma acontecer entre nós, possa disputar a eleição. Nesse caso, a direita e a extrema direita se unirão em torno de seu nome, e esse é um fenômeno que pode fazer com que a direita tradicional seja fagocitada.
Hoje, existem vários candidatos disputando o direito de ter o apoio de Bolsonaro para ser o candidato da direita na próxima eleição presidencial, todos pisando em ovos para não irritar o líder, que, assim como Lula fez com a esquerda em 2018, não pretende abrir mão da sua prerrogativa enquanto não se esvanecer a última esperança de concorrer. Assim como aconteceu naquela ocasião, a direita perderá tempo discutindo quem é o herdeiro de Bolsonaro, com a peculiaridade que todos, com exceção de um, são de centro-direita e se veem induzidos a radicalizar para agradar ao chefe.
O único radical da mesma laia de Bolsonaro é Pablo Marçal, hoje dedicado a abrir seu próprio caminho mostrando-se mais radical do que o próprio, a quem acusa de ter se entregado aos comunistas que, segundo ele, dominam a política brasileira. Parece piada, mas Marçal, que tenta chegar ao segundo turno contra Nunes, o candidato natural da direita, abre uma divisão resiliente entre os bolsonaristas.
As pesquisas mostram que, até o momento, ele é o preferido dos eleitores de direita, recebendo mais votos do que Nunes, apoiado por Bolsonaro. Caso tenha sucesso, o que ainda parece improvável, deixará o ex-presidente em situação difícil. O que na aparência seria uma vitória esmagadora da direita, será na verdade uma carnificina que deixará marcas profundas na direita, enfraquecendo-a. Marçal, de qualquer maneira, já é um vencedor destas eleições, e ganhará mais força na medida em que as chances de Bolsonaro se tornar elegível diminuírem, resultado mais provável dos processos a que responderá na Justiça eleitoral.
Já inelegível, terá outras condenações. Os candidatos de direita ou centro-direita que estão na fila parecem não acreditar na chance de um moderado vencer a eleição pela direita, e volta e meia sentem necessidade de mostrar para o eleitorado, e principalmente a Bolsonaro, que são capazes de radicalizar. Até o momento não têm força política para levar a candidatura para o centro, que seria o maior espaço disponível na luta partidária.