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A disputa no Rio

 

Pesquisa do Instituto GPP que circulou ontem entre os líderes políticos dá um empate técnico na eleição presidencial no Rio de Janeiro, com a presidente Dilma Rousseff com 45% e Aécio Neves com 42%. A disputa pelos votos do Rio de Janeiro, o terceiro maior colégio eleitoral do país, é um os pontos mais sensíveis deste segundo turno da campanha, com a presidente Dilma buscando recuperar os votos que perdeu no Estado e Aécio Neves tentando ampliar sua votação para reduzir a diferença nacional para a candidata do PT.
 
Em 2010, Dilma teve 43,8% dos votos no 1º turno, e agora recebeu 35%. A candidata do PSB Marina Silva ficou com 31% dos votos, a mesma votação da eleição presidencial anterior, e Aécio Neves, com 27%, aumentou a taxa de votos do PSDB, que foi de 22,5% na eleição de 2010.

A reorganização das alianças políticas está fazendo com que o governador Pezão saia na frente, pois conseguiu a adesão de um grupo importante do PT regional, para dar apoio à presidente Dilma, ao mesmo tempo em que seu grupo no PMDB e nos partidos aliados aumenta a ação a favor do candidato do PSDB Aécio Neves.

De um lado, o movimento Dilmão, de outro o Aezão, e o governador procura se equilibrar entre os dois. A ala do PT liderada pelo prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, se uniu ao grupo de líderes do PMDB que reúne o próprio governador, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, o presidente da Alerj, Paulo Melo (PMDB), e o secretário-geral do PMDB no estado, Carlos Alberto Muniz, para neutralizar não apenas o Aezão como também o apoio do senador Lindbergh Farias e seu grupo do PT ao candidato do PRB Marcelo Crivela, que disputará com Pezão o segundo turno.

A votação desta eleição foi muito mais equilibrada do que a anterior, quando a presidente Dilma teve uma vitória com cerca de 1,8 milhão de votos à frente do PSDB. Hoje, sua diferença ficou em cerca de 700 mil votos, e estaria sendo reduzida. Uma análise da votação pelos municípios do Rio mostra bem a vantagem que o governador Pezão tem mantendo os pés nas duas canoas: ele venceu em 66 municípios, enquanto Garotinho venceu em 24 e Crivela em apenas 2 (Belford Roxo e Macaé).

Esses números mostram também por que Crivela precisava fazer um acordo político com Garotinho, o terceiro colocado. Apesar do alto índice de rejeição, Garotinho tem muito mais penetração no interior do estado que Crivela. Na eleição presidencial, Dilma venceu em 53 municípios e Aécio em 25, enquanto Marina ganhou em 15, mas de grande eleitorado como a capital e a região do lagos, além de Volta Redonda.

O grupo que apóia o Aezão tem dois coordenadores: Jorge Piciani do PMDB e Francisco Dornelles, do PP e candidato a vice de Pezão. Eles estão tentando localizar o eleitor típico de Marina, mas consideravam essencial para o trabalho de converter os votos dos “marineiros” para Aécio o apoio formal da candidata Marina Silva, que deve ser concretizado hoje.

Ontem foi a vez de a maioria do PSB forçar um apoio a Aécio que estava sendo rejeitado pela direção do partido, controlada por Roberto Amaral, muito ligado ao PT. O ex-ministro de Lula perdeu a condição de presidir o PSB, e provavelmente será substituído por Geraldo Julio, o prefeito de Recife. O PSB pernambucano liderou a marcha do partido em favor de Aécio, e também hoje Renata, a viúva de Eduardo Campos, deve dar o apoio formal da família à candidatura oposicionista, depois de ter manobrado nos bastidores para conseguir a adesão do partido.
 
Ontem, ao agradecer a decisão da direção do PSB, Aécio repetiu a frase de Eduardo Campos que se transformou em um lema depois de sua morte: “Não vamos desistir do Brasil”, disse ele na sua última entrevista, ao Jornal Nacional, um dia antes de morrer no desastre de avião em São Paulo.

O Globo, 09/10/2014