"Uvas verdes", resmungou a raposa, ao ver que não conseguia alcançar o cacho que pendia da carreira. Este "verdes" reflete a frustração e o desprezo do bicho, mas também alude a um aspecto importante de nossa vida: a cor dos alimentos. Para ficar com apenas um exemplo, uma salada considerada colorida é considerada sadia, e é mesmo: as cores refletem a diversidade dos vegetais ali presentes, e diversidade é coisa importante na dieta. Além disso, aprendemos desde a infância a excluir certos alimentos, e as frutas são um exemplo disso, em função da cor: ninguém comerá uma banana, ou um tomate, ou uma laranja, que estão verdes, e neste caso não estaremos sendo movidos pelo despeito da raposa da fábula.
Mas a cor dos alimentos também tem um componente simbólico importante, e nada o mostra melhor do que o pão branco e o pão preto, ou integral. Este é feito com todo o grão de trigo, ou de centeio. No pão branco, parte do grão é eliminada no moinho e substâncias químicas são adicionadas. Esta prática começou na Idade Média: a aristocracia preferia o pão branco, que veio a ser associado com status. Além disto, o branco é um clássico símbolo de pureza; isto explica porque as pessoas preferiam também arroz branco e açúcar branco. Sem falar claro, no preconceito contra a coloração escura que, ao longo do tempo, alimentou o racismo no mundo.
Mas as aparências enganam. O processo de refinação remove da farinha cerca de 30 nutrientes importantes. Por isso, o pão integral é muito mais rico em vitaminas B6 e E, magnésio, zinco e ácido fólico; e é oito vezes mais rico em fibras. Fibra, hoje todo mundo sabe, é uma coisa essencial para o bom funcionamento do aparelho digestivo e para a saúde em geral. Duas pesquisas, uma da Universidade de Harvard e outra da Universidade de Washington, mostraram que o uso de pão integral em vez de pão branco baixa substancialmente o risco de doenças cardíaca e de acidentes vasculares cerebrais. Em contraste, as pessoas que ingerem alimentos processados, pão branco, arroz polido, têm duas vezes mais chance de desenvolver diabetes.
Claro, isto não é mais segredo. E agora vem a suprema ironia: como, em matéria de pão (e de lideranças internacionais, segundo Lula), o branco já não é mais bonito, a indústria está tratando de escurecer a farinha com caramelo. Portando, olhem a embalagem e certifiquem-se de que se trata mesmo de pão integral. Aprendam a não julgar aliemntos (ou pessoas) exclusivamente pela aparência.
Zero Hora (RS), 25/4/2009