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Contraponto

 

O PMDB está fazendo um movimento em direção à classe média em oposição ao PT, anunciando a divulgação de um documento no seu fórum nacional ainda esta semana onde se posicionará contra a criação de um imposto semelhante à CPMF para financiar a Saúde, e também contra qualquer tentativa de controle da mídia.

Com isso, o PMDB resgata o compromisso que assumiu com seu eleitorado quando fechou um acordo político com o PT para ter seu presidente nacional, Michel Temer, como vice na chapa de Dilma Rousseff.

O ex-presidente Lula montou toda sua estratégia para eleger Dilma com base no apoio do PMDB, embora a princípio não quisesse que o vice fosse Michel Temer. O PMDB, por seu lado, queria fazer parte da chapa presidencial, sem dúvida, mas para apagar sua imagem fisiológica, baseou sua adesão a compromissos com os valores democráticos, colocando-se como um contraponto ao radicalismo do PT que parecia àquela altura, final do segundo governo Lula, querer tomar conta do futuro governo com uma linha mais à esquerda.

Quando o ex-deputado José Dirceu, em uma palestra para sindicalistas, disse que o governo Dilma seria o governo do PT, porque Lula era maior que o partido e Dilma teria que governar com ele, ficou claro que a direção petista se preparava para imprimir sua marca no futuro governo.

No decorrer da campanha presidencial, enquanto Lula levava sua candidata pelo braço nos palanques nacionais, o PMDB tinha conversas estratégicas com setores da sociedade se comprometendo a atuar como um anteparo a eventuais manobras radicais que setores petistas porventura pudessem querer ressuscitar, como o controle dos meios de comunicação ou uma revisão da lei da anistia, dois temas que estiveram na ordem do dia no final do governo Lula por conta de um recrudescimento da atividade da ala mais esquerdista do PT.

Nos dois casos, foi o PMDB que conseguiu reverter a situação, especialmente em relação à anistia. O então ministro da Defesa Nelson Jobim negociou muito com os militares e com o governo até chegar a uma formatação aceita por todos para a instalação da Comissão da Verdade que, na versão aprovada e que precisa ser ratificada pela nova cúpula da Defesa, não contempla a revisão da Lei de Anistia.

Será apenas um fórum para recuperar a memória dos tempos de chumbo, sem efeitos retroativos de punição a quem quer que seja.

O caso do controle dos meios de comunicação, que o PT vem tentando aprovar desde o primeiro governo Lula, é outra questão que encontra no PMDB um firme adversário já antes de o acordo político abrangente que levou o partido ao centro da decisão federal, posição reafirmada agora.

A intenção do partido é, no documento do fórum nacional, definir uma posição clara a favor da liberdade de imprensa, contra qualquer restrição ou constrangimento dos meios de comunicação.

Na interpretação do PMDB, adiantada pelo deputado Elizeu Padilha, presidente do instituto de estudos políticos do partido, "regulação de mídia não se incorpora às práticas das modernas democracias".

A negativa à criação de uma nova CPMF tem a ver com a proximidade que o PMDB quer ter com a nova classe média, para neutralizar a imagem de fisiológico que o prejudica junto a esse mesmo setor do eleitorado.

Um dos ministros do PMDB, Moreira Franco, da Secretaria de Ação Estratégica, está coordenando um amplo trabalho de pesquisa e análise para definir o perfil dessa nova classe média, para que o governo - e obviamente o PMDB - tenha estratégias para esse novo nicho social e eleitoral.

Mesmo com a presidente Dilma a princípio tendo incentivado o movimento dos governadores para a defesa do novo imposto, o partido não endossou a tese, deixando que seus governadores assumissem o ônus de defender o aumento da carga tributária em caráter individual.

Foi o que aconteceu com o governador do Rio de Janeiro que, provavelmente estimulado pela presidente, saiu de um encontro com ela defendendo enfaticamente o novo imposto, chegando a dizer que foi "uma maldade" o fim da CPMF.

Logo se viu que o governador que estava sintonizado com a opinião pública era o de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, que rejeitou liminarmente o novo imposto, defendendo uma gestão pública mais eficiente como remédio para a melhoria da saúde no país.

Mais adiante, ficou demonstrado que os governadores que defenderam em manifesto a Contribuição Social para a Saúde (CSS) eram justamente os que menos investiam no setor, ficando fora do mínimo que a lei exige.

A própria presidente Dilma, depois de incentivar a criação da CSS - que teve o apoio explícito da ministra das Relações Institucionais Ideli Salvatti e do líder Cândido Vaccarezza - recuou enfaticamente, enterrando a ideia com declarações definitivas a Patrícia Poeta no "Fantástico".

Mais uma vez ficou demonstrado que nenhuma ação mais radical, seja na área política, seja na criação de novos impostos que imponham à sociedade mais um ônus, terá espaço político para prosperar.

O impostômetro da Associação Comercial de São Paulo chegou a 1 trilhão ontem, marcando um novo recorde de recolhimento mais cedo do que aconteceu no ano passado, indicando que o ritmo de crescimento da cobrança de imposto está aumentando.

Não é, definitivamente, um tema palatável para a classe média, que hoje já representa mais da metade da população brasileira, ainda mais com a proximidade de uma crise econômica que pode afetar o atual estado de bem-estar que ela experimenta, com o dólar barato e a inflação baixa, situações que estão se invertendo perigosamente.

O Globo, 14/9/2011