Há décadas, eu voltava da Jornada de Literatura de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, evento criado pela professora Tania Rösing.
Ninguém no Brasil conseguiu superar a grandeza daqueles encontros que, nos últimos tempos, colocava oito mil pessoas na plateia, vindas de todo o Brasil.
As jornadas foram extintas por “ordem” de um reitor da universidade, enciumado com o sucesso de Tânia, notável pau para toda obra.
Fiz escala em Porto Alegre e no café do aeroporto Salgado Filho encontrei Antonio Callado, Otto Lara Resende, Fernando Sabino e Moacyr Scliar.
Disseram: “Estávamos falando de crônica. Para você, como elas nascem?”. Para um, era uma visão, uma lembrança, uma palavra, um rosto na janela, assim por diante.
Lembrei disso em uma cidade, há poucos dias, no interior. Depois de uma fala, uma estudante indagou:
– Como uma pessoa sabe que tem uma crônica na cabeça?
Outra emendou:
– Última questão. O senhor tem 88 anos e não tem voz de velho.
– O que é voz de velho?
– Voz frágil, hesitante. O senhor falou e respondeu a perguntas por duas horas e está firme. Qual o segredo? Nunca fumou? Nem bebeu? Nunca usou drogas? Faz exercícios todos os dias? É regrado, disciplinado? Caminha? Corre? Tem regime alimentar? Dorme bem? Levanta cedo? É disciplinado no comer?...
– Nada disso, sou ansioso, como bem, bebo vinho, nunca fumei, não tenho disciplina nenhuma.
– E como chegou assim a esta idade?
– Ora! Não morri!
Uma gargalhada.
Todos percebemos que a crônica estava pronta. Bastava digitar. Digitei.