Como muitos, tive meu cartão de crédito clonado. Felizmente, o Banco do Brasil foi rápido em detectar o problema e em adotar as providências (obrigado, gerente Marisa Giareta), e assim o aborrecimento durou pouco. Mas quando recebi o extrato com as despesas feitas por Mr. Clone fiquei impressionado.
O cartão foi clonado nos Estados Unidos (quem disse que escritores brasileiros não são reconhecidos no Exterior?) e o feliz beneficiário da clonagem deitou e rolou. Para começar, ele, pelo jeito, rodou de carro por toda a costa leste, enchendo o tanque em todos os postos, decerto com a melhor gasolina. Fez compras, foi a restaurantes, enfim, terminou gloriosamente o ano de 2009.
O que inspira certas reflexões. Em primeiro lugar, não deixa de ser irônico que um brasileiro tenha ajudado a economia americana. Certo, o dólar está desvalorizado, e o pessoal está viajando para lá e comprando adoidado; mas a renda per capita dos Estados Unidos continua sendo três vezes maior que a do Brasil.
Por outro lado, será que Mr. Clone se deu conta disso? Será que, ao saborear um delicioso jantar em algum dos vários restaurantes que frequentou, lembrou-se do seu generoso financiador e derramou por ele alguma lágrima de gratidão? Será que ele sabe, pelo menos, onde fica o Brasil, o Rio Grande do Sul, Porto Alegre?
No mundo em que vivemos, a vigarice se sofisticou. Agora é feita via computador, por hackers que têm um fantástico domínio da tecnologia. Que saudades da época em que se guardava o suado dinheirinho embaixo do colchão. Ninguém o clonava.
Zero Hora (RS), 10/1/2010