Eu estava em Chicago exatamente no dia em que a cidade perdeu para o Rio a disputa para sediar a Olimpíada. Minha viagem nada tinha a ver com essa amável briga; fui lá para duas conferências promovidas pelo consulado brasileiro (cujo titular, o embaixador João Almino, é excelente escritor) em conjunto com a Universidade de Chicago e com o Instituto Cervantes. Conferências e encontros à parte (foi uma satisfação rever meu colega Nelson Kanter, que é lá médico bem-sucedido), pude acompanhar a torcida dos brasileiros, que já são 20 mil na cidade, e a decepção, dos “chicagoans”. A verdade, porém, é que eles não têm do que reclamar. Mesmo com a atual crise, Chicago continua sendo uma cidade rica, um dinâmico polo industrial, financeiro – e cultural. O Instituto de Arte de Chicago tem um dos maiores acervos do mundo, e está localizado num prédio belíssimo. Aliás, Chicago é famosa por sua arquitetura arrojada e inovadora, e um dos tours mais interessantes é feito de barco, no Rio Chicago, com uma guia falando sobre os gigantescos prédios que a gente avista no trajeto e que evocam arquitetos como Frank Lloyd Wright e Mies van der Rohe.
A magoada imprensa (o Chicago Tribune dava, todos os dias, manchetes de primeira página sobre o tema) atribuiu a vitória do Brasil à habilidade do presidente Lula, que bateu na tecla certa: a América Latina nunca havia sedidado uma Olimpíada. Os analistas também acharam que a intervenção de Obama não foi das mais eficientes. Para quem, como o presidente, já está às voltas com uma difícil e complicada reforma do sistema de saúde, o resultado não foi bom. Temos de reconhecer, contudo, que o presidente americano enfrenta as adversidades com muita coragem. Se houvesse uma Olimpíada de presidentes, sem dúvida ele ganharia.
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A coluna sobre o presidente do Irã que, de um lado nega o Holocausto e de outro quer se ver como líder de uma potência nuclear, gerou um dilúvio de e-mails. Alguns eram do tipo “sim, mas”: “Sim, Ahmadinejad pode ser perigoso, mas o governo de Israel também não faz muito pela paz...”. A vida me ensinou, amigos, que esse tipo de raciocínio está longe de ser imparcial, ou justo, ou útil. A melhor coisa é usar nosso bom senso, nossa inteligência e dizer com todas as letras o que consideramos certo ou errado, lembrando sempre que um erro não justifica outro, e que o raciocínio do tipo “se eles acertam no atacado, podem errar no varejo” tem seus perigos, sobretudo quando há uma situação de guerra potencial. Não, gente, temos de dizer as coisas como elas são, ou deveriam ser. Assim: a solução do problema do Oriente Médio passa pela criação de um Estado palestino – ponto. Os assentamentos nos territórios ocupados não favorecem a causa da paz – ponto. Todos os países da região têm direito a segurança – ponto. Os erros que o governo de Israel possa ter cometido não transformam o presidente do Irã em mocinho – ponto. Qualquer governo, qualquer partido, qualquer grupo, qualquer ser humano tem a obrigação de reconhecer seus erros, sem culpar adversários ou inimigos por isso. Ou, se não o fizer, tem a obrigação de pagar por esses erros. Ponto.
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Ainda falando em e-mails, quero agradecer, muito comovido, as dezenas de mensagens de congratulações pelo prêmio Jabuti. Prêmios são importantes, sobretudo quando se trata de um prêmio sério, consolidado pelo tempo e pelo apoio da intelectualidade brasileira. Mas o reconhecimento dos amigos, dos leitores, dos escritores é, na verdade, o grande prêmio. Obrigado, amigos.
Zero Hora (RS), 6/10/2009