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À beira da irrelevância

 

O novo ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira terá uma tarefa árdua pela frente: tirar o Brasil da quase irrelevância nas relações políticas e econômicas internacionais. Ele destacou no discurso de posse a necessidade de ampliar o comércio internacional, o que parece indicar que o Itamaraty dará mais atenção ao comércio exterior - uma necessidade - do que à política, que pode vir a ser uma consequência. A quase irrelevância política brasileira, dentro e fora dos BRICS, foi confirmada em recente pesquisa do Ash Center para Governança Democrática e Inovação, da Harvard Kennedy School, que perguntou a cidadãos de 30 países suas opiniões sobre 10 influentes líderes nacionais que têm impacto global.

Enquanto Rússia e China surgem como lideranças reconhecidas, Brasil e África do Sul aparecem entre as menos importantes do grupo. As notas médias mais altas de conhecimento são para o presidente Barack Obama, dos Estados Unidos (93,9%), para o presidente Vladimir Putin, da Rússia (79,3%), e para o presidente Xi Jinping, da China (59,12%).

Os líderes nacionais menos conhecidos são o presidente da África do Sul Jacob Zuma (27,8%) e Dilma Rousseff do Brasil (25,4%). O diretor do Ash Center, Tony Saich, comenta que “claramente nenhum dos dois é visto como capaz de desempenhar um papel importante”.

O primeiro-ministro da Índia, Narandra Modi, recebe um tratamento neutro na interpretação de Tony Saich, pois ao mesmo tempo em que aparece em antepenúltimo lugar na percepção dos cidadãos de outros países, está em terceiro lugar como um dos líderes mais bem avaliados por sua própria população.

Saich atribui essas contradições ao fato de que Modi foi eleito no ínicio de 2014 e se ainda vive uma lua de mel com seus eleitores, é desconhecido no resto do mundo. O Presidente Putin divide opiniões com apenas 1/3 dos países dando a ele nota acima de 6, mas é bem visto no Vietnam e na China.

Essa opinião dividida faz com que a média para Putin entre os 30 países (6) seja a mais baixa entre os 10 líderes. O Presidente chinês Xi Jinping tem a nota mais alta (7.5) por que, com exceção do Japão, ele é razoavelmente bem recebido em todos os países da pesquisa. O Presidente Obama aparece em sexto lugar, com a nota 6.6, ficando abaixo da Presidente Dilma Rousseff que obteve nota 6,8.

A presidente Dilma Rousseff consegue uma média mais alta na avaliação dos cidadãos de outros países do que no Brasil (6,3), em especial por que recebe nota 7 ou pouco mais nos países dos BRICS e nos Estados Unidos.
A chanceler Merkel obtém o melhor resultado na avaliação de quem tem mais condições de lidar com as questões domésticas e internacionais por ter sido colocada entre os três primeiros por 23 países, sendo que em 13 deles está colocada em primeiro.

Merkel não é bem vista, no entanto, na Rússia, país que ela tem criticado muito, e na Espanha, devido à sua liderança européia pela contenção de gastos. O presidente dos Estados Unidos Barack Obama, apesar de notas desfavoráveis dos próprios americanos, tem boas notas em outros países, com exceção da Rússia e do Paquistão.

Tony Saich diz que se por um lado essas notas são esperáveis, a avaliação baixa (5,8) no Japão é surpreendente. A pesquisa define que existem quatro líderes que têm altos níveis de confiança pela maneira como lidam com questões internas e externas: o chinês Xi Jinping; o russo Vladimir Putin; o indiano Narandra Modi e a alemã Angela Merkel.

Os Presidentes Dilma Rousseff, do Brasil, François Hollande, da França e Jacob Zuma da África do Sul não inspiram confiança na maneira como lidam com estas matérias. 

Mau sinal
O recuo do Ministério do Planejamento com relação à mudança da fórmula para definir o aumento do salário mínimo é um mau sinal. Ou o Ministro Nelson Barbosa falou demais, antes do tempo, e mostrou que não tem sensibilidade política, ou a presidente Dilma voltou atrás da autorização que dera para rever a fórmula, que o ministro considera equivocada.

O Globo, 04/01/2015