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Agora, é sem sorrisos

 

Até ontem, o DMLU já tinha recolhido mais de 80 toneladas de cartazes, de santinhos, de panfletos diversos, um reflexo do peso do marketing político na campanha eleitoral. Pode ser um alívio, mas algumas coisas talvez deixem saudade. Por exemplo: as fotos dos candidatos sorrindo.


Trata-se de um sorriso que obedece à sugestão do fotógrafo (“Sorria, por favor”), mas que envolve uma clara mensagem: confiem em mim, votem em mim. Não é um sorriso irônico, escarninho, debochado; e também não é um sorriso enigmático, como o da Mona Lisa, de Leonardo, que por séculos gerou interpretações variadas (uma delas: a jovem estaria grávida, o que para os candidatos, ao menos do sexo masculino, não se aplica). Também não é gargalhada, coisa que pareceria no mínimo estranha, quando não ofensiva: “Tá rindo de que, cara?


Já olhou os juros do cartão de crédito? Já teve o nome no Serasa? Fique sabendo que não há motivos para rir neste país”. Enfim, era sorriso mesmo, o que a gente via até domingo, e isso as pessoas aceitam, mesmo porque pessoas sorridentes não são parte habitual do cenário urbano. Motoristas, por exemplo, em geral mostram caras amarradas, que refletem a tensão constante do trânsito. Ao volante ninguém sorri; a pessoa que faz isso é olhada com suspeição: esse aí não deve estar muito bom da cabeça.


Mas agora os cartazes da imensa maioria dos candidatos serão retirados e com eles irão embora os sorrisos. Teremos um segundo turno, o que, segundo a maioria dos analistas políticos, reflete a insatisfação do público com os debates do primeiro turno (a Veja desta semana faz uma gozação a respeito: a capa anuncia a lista dos assuntos importantes discutidos pelos candidatos; segue-se um enorme espaço em branco). Agora, é falar sério.


Brasileiro pode votar no Tiririca para deputado, mas não para presidente; equívocos como os de Collor representaram uma lição suficiente. Por outro lado, a lição de Marina Silva foi muito ilustrativa. Se ela fosse eleita, provavelmente teria enormes dificuldades para formar um governo, pela falta de quadros; mas os quase 20 milhões de votos que recebeu mostram que os brasileiros olham com preocupação a questão ecológica.


Também para os eleitos começa agora um período de esperada seriedade; chegou a hora de colocar mãos à obra, de transformar as promessas em realizações. Podem até esboçar um grato sorriso na festa de comemoração da vitória; mas, se mantiverem a fisionomia sorridente o tempo todo, os eleitores vão acabar se irritando: votei nesse cara e ele fica aí rindo à toa.


Claro, outras eleições virão e os sorrisos voltarão, como componente da festa democrática, em que todos nós, de uma ou outra forma, participamos. Com prazer, aliás. Festa, desde que não seja feita com dinheiro público, nunca é demais.


Este 5 de outubro assinala os cem anos da União Israelita de Porto Alegre, tradicional instituição da Rua Barros Cassal que, nesse século, funcionou ininterruptamente, sem jamais fechar as portas. A comunidade judaica é, assim, parte da história do RS; daí a homenagem que lhe será prestada, por proposição do deputado Adão Villaverde, pela Assembleia Legislativa.


Zero Hora (RS), 5/10/2010