Sr. Antonio Olinto,
Desde que, nas condições em que me encontro, me convidastes para receber-vos no instante de vossa sagração acadêmica, implicitamente dispensastes um discurso que, pela forma, pelo conteúdo, pela essência, pelo brilho e pelo esmero de sua composição artística, estivesse à altura da pompa e da gala desta noite em que vos tomais consórcio ilustre desta centenária companhia.
Tentei declinar deste momento que, se para mim é honroso, para vós inesquecível. Fostes mais forte do que eu e agora aqui me tendes. Chegais a esta Casa pela cuidadosa e laboriosa obra literária que vindes realizando com paciência e carinho através de uma longa jornada inteiramente dedicada à Cultura e ao amanho das Letras.
Curiosas e inexplicáveis as estradas de nossa vida, a princípio nos parecem retas, destorcem, bifurcam nas surpresas que se justificam sob o vasto espaço que se chama acaso.
Sem dúvida o que surge em determinado instante, num célere faiscar de olhos, se amplia num acontecimento transcendente com repercussões posteriores.
Será acaso, será destino?
Sem querer entrar em contradições teóricas, inclino-me pelo livre-arbítrio, porque temos a capacidade de escolher, de discernir. Incontestavelmente um mistério envolvido nas brumas desvia nossos passos, e, por mais que queiramos obedecer à orça imaginada, nos desligamos do rumo que tencionávamos seguir.
Será o encontro do homem consigo mesmo ou a situação apontada por Guimarães Rosa referente ao aventureiro que, ao iniciar a nado a travessia de um rio, assinala no barranco o ponto em que quer chegar e, no entanto, vai dar metros além.
Como as águas que o levaram, as circunstâncias de nós se apoderam e teimosamente nos arrastam.
Será isto fatalismo?
Não – respondo eu.
É a vocação que como um botão de rosa vai crescendo, vai constituindo-se, vai compondo-se até triunfalmente abrir-se na beleza espontânea de uma flor.
Um poeta de Minas Gerais, Honório Armond, a quem caberia justa nomeada nas Letras Nacionais e que preferiu ocultar-se na paz bucólica das montanhas de Barbacena, encontrou também o mistério que se esconde nas brumas e nô-lo revela nestes versos que não são de protesto, mas ao contrário de tranquila aceitação:
Fatalidade em vão nós te evitamos!
Em vão traçamos nós retos caminhos
Mas de que servirão nossos reclamos
Se estes caminhos pelos quais nós vamos
Enche-os tu de meandros e de espinhos?
Deduz-se que para o poeta os meandros são desvios imperceptíveis e os espinhos o embate que se dá dentro do próprio eu.
Sentia-o também Goethe no Fausto ao afirmar que duas almas viviam no seu peito. Talvez o bem e o mal, o sim e o não.
A maior luta de um homem é consigo mesmo entre querer e realizar, insistir e não conseguir. Triunfa aquele que atende à sua vocação. Vocatur, ser chamado, e para as Letras, Sr. Antonio Olinto, fostes sorteado. De uma forma lenta, ouvistes os sonidos longínquos da vossa chamada.
Muitas voltas destes, estágios e tentativas, mas enfim nas Letras vos realizastes numa obra peregrina e copiosa.
No capítulo das guerras púnicas, Cipião, o Africano, deixou na Ibéria contingentes romanos de soldados e mercenários misturando o sermo castrensis e o sermo plebeius com os elementos fonéticos locais de onde nasceu o linguajar das Hispânias e deste a nossa Língua. Quando Portugal se constituiu, a Língua já se revestia de roupagens próprias numa evolução lenta e contínua.
No século XV, os portugueses se fizeram aos mares d’outrem nunca navegados, e a Língua depois de ter passado pela África chegou à Ásia e desembarcou na Terra de Santa Cruz.
No século XVI, Camões, o maior épico da Renascença, salvando das águas revoltas do oceano os Lusíadas, salva também a Língua Portuguesa e dá-lhe foros de beleza, de suavidade, de independência, de “turba de alto clangor”, tornando-a cantante e forte.
Sr. Antonio Olinto,
Esta Língua é o nosso instrumento de trabalho e é ela que vos traz de Ubá a esta Academia secular.
Meu caro consócio,
Ambos somos mineiros, e basta esta circunstância para que entre nós se estabeleçam laços estreitos e indestrutíveis de afinidades plurais.
A Cultura Mineira, eu diria, os hábitos mineiros são simples, mas revelam peculiaridades alicerçadas na sua psicologia e na sua estrutura social. O mineiro é o homem da convivência amena, ama a ordem e detesta o que lhe parece espalhafatoso, contrário à sua maneira de ser. Gosta da fartura e do adorno do seu lar, é prudente e reservado.
Em pleno regime colonial, sopita em Minas um núcleo cultural em que esplendem a Pintura, a Arquitetura, a Escultura, a Literatura e a Música Barroca. A mais antiga orquestra de toda a América nasceu em São João del Rei e até hoje existe.
Os seminários instituíram o gosto pelo Latim, e Saint-Hilaire registra as casas da província em que se ouvia fluentemente o Francês.
A história política de Minas se inicia com a Inconfidência. Preservamos o respeito a uma noção verdadeira de todas as atividades, mas, se as circunstâncias impõem aos mineiros a restauração da lei desrespeitada ou da ordem ameaçada, não fugiremos à luta, e ainda mais uma vez Guimarães Rosa com precisão habitual: “Mas sendo a vez, sendo a hora, Minas entende, atende, toma tento, avança, peleja e faz.”
O mineiro sente fascinação pela Literatura, tem um xodó pelo poeta, pelo orador, pelo escritor, parecem-lhes seres privilegiados. A Academia tem para ele a altitude de um Olimpo. De resto, as academias constituem uma das mais belas tradições de nossas Letras. Mal se formavam na Europa, não tardou, repercutiram no Brasil, e vamos encontrá-las na Bahia e no Rio. Grêmios ingênuos formados por espíritos simplórios dominados por um acendrado respeito às Letras. Só esta motivação absolve seus modestos membros de qualquer pretensão vaidosa. A Academia significava para eles a nave de um templo onde se pudesse homenagear a deusa das Letras.
A França ensaiava seu domínio intelectual sobre o mundo, quando despontou a sua Academia.
Organismo composto de homens com suas fraquezas e suas exaltações certamente terá claudicado na escolha de seus membros.
Vultos preclaros por motivos que a lógica não explica não lograram o assento naquela loja literária.
Alguém que jamais conheceu o sucesso assim redigiu seu magoado epitáfio:
Ci gît Pirron qui ne fût rien
Pas même academicien.
As investidas sem razão e com perfídia não cessavam de alvejar a Academia Francesa, e então um dos seus membros compôs com graça e humor estes versos precisos:
Quand nous sommes quarante,
Tout le monde se moque de nous;
Alors que nous devenons trente et neuf
Tout le monde est à nos genoux.
Há cem anos, ao cabo de várias tentativas, Lúcio de Mendonça e edeiros e Albuquerque fundaram esta Casa, que também teve seus adversários e detratores, cujos nomes se esfarelaram na esteira do tempo.
Nossos cem anos representam um quinto da existência do nosso País.
Hoje, mais do que nunca, faz-se mister a vigilância atenta na defesa dos valores superiores e sociogeográficos de nosso idioma em face da permissividade antissintática, com que a alvejam os meios de comunicação.
Nada mais procedente do que a aspiração de um autor à auréola acadêmica. Todo aquele que preza a sua obra deseja vê-la aceita pelo voto deste colegiado. Longe de ser elitista, longe de posições predispostamente sectárias, a Academia Brasileira de Letras, esta a que ora pertenceis, ainda que pareça um paradoxo, é a mais democrática de todas as instituições nacionais. Não opõe veto à inscrição de qualquer pretendente, e aqui dentro não se formam núcleos de apoio ou células de conspiração contra um candidato. Lêdo Ivo afirmou que um candidato pode ser estadista, diplomata, militar, máximo homem de letras, cientista, clérigo, magistrado, mestre de finanças, mas que, uma vez eleito, passa a ser única e exclusivamente acadêmico.
As universidades se formaram sob a evocação da alma mater e a Academia sob a evocação do espírito acadêmico, que é simples, ou seja, a convivência harmoniosa e a rigorosa fidelidade às Letras.
Sr. Antonio Olinto,
Vossa paixão pelas Letras inicia-se no lar materno, pois que, para espanto de vossa família, aos três anos conhecíeis as letras do alfabeto e precocemente já formáveis frases com sentido nítido e completo.
Nascestes em Ubá, na mata mineira onde a fazenda constituía a maior expressão econômica do município. No tempo da monocultura, os campos retinham o homem, as cidades eram tranquilas, hospitaleiras e risonhas.
Fostes estudar no Seminário de Campos, passastes para o de Belo Horizonte e, finalmente, completastes vossa preparação eclesiástica no Seminário de São Paulo. Mas não vos sentíeis capaz de assumir o sacerdócio católico e em boa paz com a Igreja o deixastes. Viestes para o Rio e na sequência natural dos fatos, dono de invejável formação humanística, fostes lecionar. Estabelecido nesta cidade, organizadas as vossas atividades de magistério, pudestes então convosco encontrar e abraçastes a carreira das Letras, que tem sido o vosso pão e o vosso vinho. Apareceis organizando uma exposição de Poesia sob a égide de Malraux, e este acontecimento lítero-artístico ocorreu dois dias após o término da guerra de 1939. Em 10 de maio de 1945, dáveis o primeiro passo no caminho da Arte Literária.
Crítico, poeta, contista, romancista, ensaísta, conferencista, biógrafo e jornalista, vossa atividade neste campo não sofreu solução de continuidade. Vosso talento na Crítica foi imediatamente reconhecido, e no jornal O Globo mantivestes uma coluna privativa, “Porta de Livraria”, em que comentáveis autores, muitos principiantes, assustados e apreensivos.
Era no tempo dos grandes suplementos literários, e a sua leitura aos sábados e domingos se impunha como festa da inteligência.
Fostes um crítico analítico, impessoal e imparcial, jamais vos deixastes levar pela emoção. Soubestes com habilidade separar o escritor da sua obra. A pessoa física do autor não vos interessava, queríeis conhecer, analisar a peça escrita. Nunca deixastes de salientar os elementos aflorados. Mesmo discordando, vossa sentença era polida, acaso encorajadora, respeitando a capacidade criadora de todo aquele que não temia atirar-se no torvelinho da audácia.
“Porta de Livraria”, sem negar ou desconhecer outros méritos, é das marcas mais expressivas da vossa atividade de beletrista. No vosso magnífico trabalho sobre André Gide, manejastes a pena com um profundo conhecimento da matéria, porque o estudado apresenta muitas vezes, na sua obra, aspectos que aparentemente se chocam, mas ao contrário possuem uma fluidez reta e contínua. André Gide foi e será sempre uma presença marcante.
Sois grande no Conto. Não há gênero que demande tantos cuidados como requer o Conto, como um relógio de peças mínimas em que cada uma destas tem de ser rigorosamente encaixada, tal como a palavra certa, na sua colocação precisa, pois ao contrário se perderia o equilíbrio narrativo.
Na Poesia, vosso estro nada fica a dever ao estro de nossos grandes poetas. Considero a Poesia Brasileira das mais belas e tocantes. Observava Bernanos que a terra brasileira, por seus atrativos, pelo seu telúrico poder de assimilação e sobretudo pela suavidade da nossa alma, é uma sugestão permanente ao verso. Quem lê vossa poesia não a esquece, porque ela envolve o leitor numa intensa emoção.
Vossa poligrafia literária compreende conferências em que versais temas atraentes intimamente ligados à nossa terra. Centenas de palestras vindes pronunciando, posso dizer sem exagero, nas universidades da América, da Europa, da Ásia e da África.
Com uma fertilidade impressionante, nunca vos repetistes. Se a originalidade não é fácil, sabeis de tal modo trabalhá-la, que nas vossas mãos constantemente se renova.
Poliglota, soubestes traduzir com fidelidade o texto vernáculo sem contorcê-lo, nem alterá-lo.
Como adido cultural em Lagos e em Londres, divulgastes, com incessante atuação, não só os escritores como igualmente o Brasil em toda sua formação econômica e cultural.
Sr. Antonio Olinto,
Tendes praticado todos os gêneros da Literatura, tão vasta e comprida é a vossa obra que só por amostragem posso inseri-la nesta saudação. Tenho para mim que o fulgor do vosso talento criador se acusa na prosa dos vossos romances, todos eles revestidos da característica essencial – a forma, o tema e a mensagem. Transportais para cada um deles não só experiência e vivência, mas ainda o poderio de vossa imaginação, sabendo criar um universo fictício que perfeitamente se aproxima da realidade. Vosso romance Copacabana é uma fotografia tão bem tirada, tão bem revelada, que não necessita de retoques. O Cinema de Ubá retrata não só a casa de projeção daquela cidade, mas os cines de todas as cidades interioranas – o filme, o piano, o violino. Esse cinema é parte integrante de vossa infância. Propriedade de vosso pai, para lá leváveis vossos companheiros daquela quadra.
Extraordinário veículo de cultura o cinema, tanto o mudo quanto o sonoro!
Tempo de Palhaço é a realidade de braço com a fantasia. O mineiro de Piau deixa Minas, vai para Paris, se envolve nas manifestações estudantis de protesto a propósito do 14 de julho e acaba matriculando-se numa escola de palhaço em Londres, integrando-se na nobre profissão que só deseja fazer o bem através do riso.
Sr. Antonio Olinto,
Em 1961, Tancredo Neves vos nomeou adido cultural em Lagos. Por sua natureza um cargo de divulgação da inteligência brasileira, não vos esquecendo de vossa obrigação primacial, mergulhastes na alma da África, continente espoliado.
Iniciada a colonização da América Atlântica, o negro foi trazido para cá como escravo e força de trabalho.
A ambição argentária reduziu a África numa praça de negócios, explorando todas as suas fontes de riqueza, desde as minerais até a maior, que é o homem. Ignoraram os valores estruturais da raça camítica, a força de seus elementos morais, com suas lendas, com sua religião, com suas tradições tão fortes que, apesar da escravidão, se mantiveram acesos e sobrevivem até hoje em toda a América.
De vossa ternura pela África, nasce a trilogia A Casa da Água, O Rei de Keto e Trono de Vidro, que formam a saga de uma das mais belas aventuras com o espírito de uma gesta moderna. Extraordinária sequência de fatos que tiram a escrava do Piau com sua família e a levam de volta à África com os seus.
Sancionada a Lei da Abolição, se deslocam daquele lugarejo e tomam na Bahia um veleiro que durante seis meses ara os mares que levam à Nigéria.
Travessia de “tanta tormenta e tanto dano” com a morte apercebida. Tudo suportaram com estoicismo, porque a viagem da esperança compensa todos os males.
Mariana, que foi escrava, imediatamente se integra nas suas origens, e a ideia de construir um poço para vender água torna-a tão rica e poderosa que passa a influir na vida da nação.
O segundo romance da trilogia é O Rei de Keto. A neta de Mariana, também chamada Mariana (filha de Sebastian), estuda em Paris e volta à África, onde faz amizade com Abioran, mulher de mercado, e resolve acompanhar as mulheres que nos quatro dias da semana iorubá mudam de cidade em cidade para vender nos mercados locais, voltando no quinto dia ao mercado n.º 1, situado em Keto, reino de onde vieram escravos para o Brasil. Com estes, veio também a religião dos Orixás. Abioran sonha em ver seu filho rei de Keto.
No terceiro romance da trilogia, Trono de Vidro, depois da morte de Sebastian, o país chamado Zorei cai nas mãos de uma série de ditadores. A filha, Mariana, resolve enfrentar o último deles e candidatar-se à Presidência da República do Zorei. Organiza um partido, faz a campanha e durante esta o ditador morre num desastre de avião; Mariana é eleita presidente e como tal vai às Nações Unidas e na volta aceita convite para visitar o Brasil. Vai ao Piau, terra da avó, hospeda-se como presidente onde sua avó foi escrava. De volta ao seu país, é vítima de um atentado político, mas não morre, e o romance termina com as meditações de Mariana, a presidente, ao lado de sua avó, a velha Mariana, agora com 98 anos.
A África que conhecíamos antes da vossa trilogia era o continente dos predadores, dos matadores de elefante, dos desalmados exploradores do negro, enfim a África inviável ou então só possível se se submetesse ao guante dos colonialistas insaciáveis.
Sr. Antonio Olinto,
Sois um africanista que traçastes da África um perfil exato, defendeis os valores da cultura local, dais-nos uma África humana, esperançosa de viver em paz com seus mitos, com seus deuses, com suas tradições.
Vossa atividade é incansável. Não há muito elaborastes uma história da Literatura Brasileira em que mais uma vez mostrastes vossa capacidade de reflexão, de análise e de julgamento, que se inclui na vossa folha de serviços às Letras Brasileiras. Publicada na Itália, não só alcançou sucesso como se tornou fecunda fonte de informações.
Vossa obra está traduzida em todos os continentes, em dezenove línguas, discutida, comentada em mais de setenta universidades, e, sem exagero, sois um dos brasileiros mais lidos no exterior. Possuís o raro dom de saber comunicar-vos não só no vernáculo, quanto em Inglês, Francês, Espanhol e Italiano, que com sobranceria dominais.
Na Inglaterra, fundastes um jornal em Língua Inglesa, Brazilian Gazete, veículo de curso rápido e com seleta receptividade.
Fui, como fostes, professor de História, já estudada sob os postulados modernos, que afastam a narrativa e exigem o debate profundo da razão dos fatos. Na sua apreciação, tanto fria quanto objetiva, Chesterton, tão amado e querido por nosso inesquecível Alceu, ensina que só existe uma lei histórica, o imprevisto.
Sem dúvida, por mais que veladamente a Espanha viesse conspirando contra a independência de Portugal, jamais se admitiu que um dia o Velho Reino, por um inesperado erro na batalha de Alcacer-Kibir, favorecesse às artinhosas maquinações da corte de Madri. Este episódio histórico desenvolveis no vosso último romance, Alcacer-Kibir. Soubestes escrevê-lo com maestria, fugindo da seca efabulação. Nele introduzistes ajustadas linhas de ficção, sem, contudo, prejudicar aquele imprevisto estratégico no solo da África, que tão fortemente beneficiou o Brasil, eliminando a linha de Tordesilhas, que reduzia o nosso território a pouco mais de dois milhões de quilômetros quadrados.
As vossas páginas emocionam tanto, como as aventuras fantásticas da trama e dos rasgos dos destemidos enamorados da morte.
Sr. Antonio Olinto,
Vossas atividades gerais não se cingiram ao nobre ofício de escritor, se bem que esta foi a linha norteadora de vossas ações.
Diretor do Serviço de Documentação do Ministério da Viação, criastes ali um instrumento de divulgação, a revista Brasil Constrói, em Português, Francês e Inglês, e mais adiante publicastes igualmente ricos volumes daquela secretaria de estudos sob a adequada denominação “Coleção Mauá”.
Preocupado com a dificuldade de autores encontrarem seus editores, tivestes a iniciativa de instituir prêmios literários e dentre esses o Walmap, até então o de maior valor econômico, com larga repercussão nacional e mesmo internacional.
A Academia Brasileira de Letras vos observava com interesse e na primeira oportunidade vos concedeu o prêmio Machado de Assis, reservado para o conjunto de obras.
Na vossa caminhada ascensional, tendes tido ao vosso lado extraordinário vulto de mulher, a vossa mulher Zora Seljan. Escritora, também polígrafa, também teatróloga, com peças encenadas em Londres, coroadas de justo e merecido sucesso.
Possuidora de grande cultura, soube entender-vos e compreender-vos, proporcionando-vos sobretudo um lar feliz. Sempre junto de vós, tem sido a estrela que ilumina vossos caminhos. Administradora eficiente, está ao vosso lado na direção do jornal Brazilian Gazete e jamais permitiu que nas horas difíceis, comuns a todos os homens, o desânimo vos dominasse.
Mineira de Ouro Preto, pode sentir-se orgulhosa de ser conterrânea do árcade Cláudio Manuel da Costa, podendo para seu gáudio repetir:
Destes penhascos fez a natureza
O berço em que nasci...
Vossa mulher e vós vos completais numa afinidade que vos mantém unidos.
Sr. Antonio Olinto,
Nesta noite, a Academia Brasileira de Letras se engrandece, pois vem nela conviver um espírito de autêntica formação humanística, de extraordinária atividade intelectual, de rara sensibilidade que moldura seus livros com o mais puro lavor artístico.
Esta Casa está feliz, porque de agora em diante é também vossa.
12 de setembro de 1997