Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Noticias > Teatro Municipal aplaude de pé Ana Maria Machado

Teatro Municipal aplaude de pé Ana Maria Machado

 

Não é todo dia que se vê uma plateia do Teatro Municipal, templo da música e do teatro, de pé aplaudindo uma escritora. Foi o que se viu na noite do dia 27, quando foi anunciado o nome da Acadêmica Ana Maria Machado como Personalidade Literária de 2025, na cerimônia de entrega do Prêmio Jabuti. No telão do palco, um vídeo mostrava depoimentos dos amigos e amigas Ruth de Souza, Antonio Torres, Ruy Castro, Pedro Rodrigues e a professora Dirce Waltrick do Amarante. “Fiquei com medo de me emocionar, e me emocionei”, disse, confessando que foi difícil subir ao palco depois de ouvir os amigos.

“Fiquei com medo de me emocionar, mas me emocionei. Receber o prêmio foi uma linda surpresa e me encheu de gratidão. Foi inteiramente inesperado. Todo mundo merece sempre ter seu trabalho reconhecido e quando isso acontece, a gente fica sempre muito emocionada, ainda mais quando é assim, inesperado, surpreendente”.

O Acadêmico Ruy Castro também saiu consagrado. Com “O ouvidor do Brasil: 99 vezes Tom Jobim”, editado pela Companhia das Letras, recebeu o troféu mais importante da noite: o de Livro do Ano, depois de ter recebido o Jabuti de melhor crônica.

Com o Jabuti de Fomento à Cultura recebido pelo projeto Rio Capital Mundial do Livro, do qual a ABL foi o primeiro parceiro da prefeitura do Rio e o Jabuti Acadêmico na categoria História e Arqueologia com o livro “Imagens da Branquitude: a presença da ausência”, recebido pela Acadêmica Lilia Schwarcz no início do mês, a ABL foi a grande vencedora do ano. Arrebentou!!"

“Esse bichinho aqui eu recebo em nome de todos os leitores que estão me acompanhando nesses 35 anos como autor de livros. E pretendo continuar. O Rio é inesgotável e tem muitas histórias que precisam ser contadas”, disse o escritor.

O livro tem 99 crônicas sobre Tom Jobim, que Ruy Castro entrevistou pela primeira vez em 1968, com 20 anos. Muitos anos depois, o compositor seria uma importante fonte para “Chega de Saudade”, livro de Ruy sobre a Bossa Nova. Mantiveram sempre uma relação próxima, que permitiu ao escritor conhecer muitas histórias da intimidade da vida de Tom, contadas magistralmente no livro, onde mostra o lado humano, crítico e plural de Tom Jobim.

Leia aqui o discurso de Ana Maria Machado na íntegra:

“Fiquei com medo de me emocionar, mas me emocionei. Receber o prêmio foi uma linda surpresa e me encheu de alegria e de gratidão. Foi inteiramente inesperado.

Todo mundo merece sempre ter seu trabalho reconhecido, e quando isso acontece, a gente fica muito emocionada, ainda mais quando é assim, inesperado, surpreendente”.

Porque afinal atualmente eu vivo tão reservada, recolhida, distante da mídia e das redes sociais, e a emoção é dupla porque é um reconhecimento que vem do povo do livro, da minha gente. Editores, livreiros, leitores, ainda mais num ano em que a festa é na minha cidade, no meu Rio tão querido e neste maravilhoso Teatro Municipal, aonde eu vim pela primeira vez aos 4 ou 5 anos, trazida por meus pais para ver uma peça infantil de Lucia Benedeti, chamada O Casaco Encantado. E voltei depois para tantos espetáculos, e shows, concertos, óperas e ballets, e inesquecíveis bailes de carnaval.

Tudo se soma para a alegria deste momento de celebração, então só posso agradecer de coração, mesmo não sendo original isso. E agradeço também a todos os que vêm me acompanhando estes anos todos, Brasil adentro e por estes anos a fora. Leitores fiéis, de todas as idades, professores, bibliotecários, estes escritores maravilhosos meus amigos que falaram de mim com tanto carinho que me emocionaram, que foi difícil até eu levantar.

Por mais de meio séculos de escritos e leituras, esses leitores e estes meus colegas escritores vêm me acompanhando. E agradeço muito especialmente à minha família, meus amados que sempre estiveram incondicionalmente a meu lado, e sempre souberam compreender e respeitar esta mulher meio maluca sobrecarregada de trabalho, que muitas vezes não podia ser interrompida, com horários apertados, driblando tarefas domésticas, escrevendo em silêncio diante da máquina ou do computador, ou me ausentando por ter de viajar em um calendário super sugador , sobrecarregada de compromissos que ajudassem a pagar as contas. Mas estes meus amores – marido, filhos, netos – inclusive um filho que também ganhou um prêmio Jabuti de tradução há alguns anos – esses meus amores sempre souberam me apoiar, confiantes no amor incondicional que nos une em cumplicidade. Por isso sabem que hoje a festa é deles também, que estão aqui. E com todos, eles e vocês que estão aqui e os que nos ouvem em todo canto e os que me leem e me apoiam, eu compartilho este momento tão feliz. Muito, muito obrigada.

28/10/2025