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ABL na mídia - Valor - Primeiro romance policial brasileiro traz história de vingança contra banqueiro

 

Em 1920, o jornal carioca “A Folha” publicava o primeiro romance policial brasileiro, com o título um tanto óbvio: “O mystério”. Escrito por três literatos de renome (Coelho Neto, Afrânio Peixoto e Viriato Corrêa) e pelo jornalista Medeiros e Albuquerque, dono de “A Folha”, o livro se perdeu na bruma dos tempos.

Embora não fossem cultores do gênero, os autores já tinham à sua disposição um cânone noir estabelecido desde 1841, quando Edgar Allan Poe publicou a primeira história policial, “Os assassinatos da rua Morgue”.  Nela, um amigo - fiel escudeiro ao estilo de Sancho Pança - narra como o investigador C. Auguste Dupin, com sua brilhante mente dedutiva, resolve o caso, considerado insolúvel. A dupla é o protótipo da parceria Sherlock Holmes-Dr. Watson, de Arthur Conan Doyle, que estreou em 1887.  

Dupin atua em Paris, Sherlock, em Londres. Nosso primeiro investigador (ainda não se usava a palavra detetive) se desloca pela cidade do Rio de Janeiro, recém-saída do choque de modernização do prefeito Pereira Passos.

O enredo até que é engenhoso e meio chegado à metalinguagem. Assim como Dom Quixote, o Cavaleiro da Triste Figura, ficou louco de tanto ler romances de cavalaria, Pedro Albergaria é fanático por romances policiais. Mas, com seu espírito pragmático, pretende usá-los no planejamento da vingança contra o banqueiro Sanches Lobo.

É quando entra em campo o major Mello Bandeira, com sua lanterna furta-fogo, tropeçando atabalhoadamente numa trama cheia de homens chamados Pedro e mulheres chamadas Rosa. Conseguirá ele descobrir quem matou o banqueiro?  

É no ano de 1920 que o romance policial começou a tomar conta do mundo. A inglesa Agatha Christie publicou o primeiro de uma série de mais de 100 livros, “O misterioso caso de Styles”, que marcou a estreia do excêntrico detetive belga Hercule Poirot.  

Em 1930, o belga Georges Simenon lançou o primeiro dos 75 romances protagonizados pelo comissário Maigret, da polícia judiciária de Paris. Do outro lado do Atlântico, os americanos respondem com o policial de ação (o “hardboiled”) em revistinhas baratas vendidas nas bancas, a “pulp fiction”.  
 
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Voltando ao major Mello Bandeira, dos tempos em que o camburão de polícia era conhecido como “viúva alegre”, sua caracterização “100% tropical” é elogiada por Tito Prates, fundador da revista “Mystério Retrô”: “O protagonista é cheio de ginga, um autêntico malandro carioca, daqueles com terno branco de linho”.  

Demorou, mas a fila andou, e o major Mello Bandeira fez escola. Em 1957, inspirado no amigo João Leite, delegado de homicídios em São Paulo, Luiz Lopes Coelho lançou o seu detetive Doutor Leite. Seu livro “A ideia de matar Belina” (1968) vendeu 50 mil exemplares.

Consagrado por uma minissérie de TV estrelada por Marcos Palmeira, o detetive Mandrake, lançado por Rubem Fonseca em 1967, circula tão à vontade pela alta sociedade como pelo submundo do crime. Apreciador de charutos e mulheres, gosta de levar vantagem em tudo. Em 1969, a carioca Maria Alice Barroso lançou uma raridade: o detetive Tonico Arzão, que atua na zonal rural de Minas Gerais, entre coronéis e jagunços.  

Com boa dose de humor, Luis Fernando Verissimo criou em 1979 o minimalista Ed Mort, com direito a versão em quadrinhos por Miguel Paiva. Mort divide em Copacabana um escritório (grafado “escri”, de tão pequeno) com 117 baratas e um ratinho albino chamado Voltaire. Até o guitarrista dos Titãs, Tony Belotto, aderiu à literatura noir e lançou, em 1995.

Só aos 60 anos de idade o psicanalista Luiz Alfredo Garcia-Roza publicou seu primeiro livro policial, “O silêncio da chuva” (1996). O sucesso do protagonista, inspetor Espinosa, da DP de Copacabana e da vizinhança do Bairro Peixoto, levou a outros 15 títulos, muitos filmes e uma série de TV.  
 
Tudo isso é uma prova da força da literatura noir e do prazer que sua leitura nos traz. O relançamento do primeiro romance policial brasileiro, 125 anos depois, nos permite desvendar o mistério de “O mystério”.  
 
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17/03/2025