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ABL na mídia - Tribuna do Norte - Almino, o ensaísta

 

Mas, o ensaísta de ‘500 anos de Utopia’, Vento Norte, RS, 2017, e ‘O Diabrete Angélico e o Pavão’, MG, 2009, este uma leitura, quase exegese, sobre “o enredo do amor em Brás Cubas”, o célebre romance de Machado de Assis, no qual busca as frestas machadianas entre dissimulações, mentiras e segredos.

É com simplicidade, como se escrevesse para os mais simples, que Almino abre caminhos, depois de quinhentos anos, com olhos afiados para perceber, na Utopia de Thomas More, como que escondido nas entrelinhas de clara antevisão, aquilo que o mundo vive hoje. Como se, mesmo num país de muitos países utópicos, nele já existisse, também, os mundos do Século 21. Agudo, Almino encontra sinais do realismo político com as suas ideologias “que surgiram mais tarde”.

Almino não desconhece os rígidos controles do povo na Utopia, mundo utópico por More criado – sem dinheiro e sem propriedade privada. É marcante o sistema político, mesmo visionário, que em nada se parece com o absolutismo no tempo real e vivido por ele. Erudito, Almino adverte, com sabedoria e agudeza, que More cria a sua Utopia e sua própria Distopia, uma Utopia negativa. E escreve: “… todo poderoso é intérprete do bem, que se crê detentor dos valores da civilização”.

O segundo ensaio – “O Diabrete Angélico e o Pavão”, revela-se o grande leitor de Machado de Assis. Mais original do que tantos outros críticos das ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’, Almino afasta os enredos colaterais e vai buscar o enredo principal que, para ele, escorre ao longo da “relação amorosa entre Brás Cubas e Virgília”. E pergunta: “Amorosa?”. Almino busca o relevo do papel de Virgília devorado pelos olhos oblíquos de Capitu diante dos antolhos da grande crítica.

Bom arquiteto como contador de histórias, Almino sabe que um dos mais hábeis artifícios de Machado de Assis, como criador de enredos e personagens, é a tessitura das alças sempre bem entrelaçadas não só pelo que acontece, “mas pelo que deixa de acontecer”. É justamente entre essas alças que Machado narra a história do um amor sem culpa. Escreve João Almino: “A tragédia do cotidiano contempla um amor e um enredo possíveis”. Sempre entre segredos, elipses e mentiras.

É encantador o desfecho do ensaio. Almino revela a genialidade de Machado: “Se Virgínia perdesse a cabeça, se respondesse somente ao instinto animal, se menosprezasse a ordem e as convenções por estar louca de amor, se, transportadas para os dias de hoje com a banalização dos divórcios e separações, se Virgínia simplesmente se divorciasse de Lobo Neves para se casar com Brás Cubas, estaríamos diante de um romance convencional… e não seria o grande livro que é”.

Matéria na íntegra: https://tribunadonorte.com.br/colunas/almino-o-ensaista/

27/03/2025