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ABL na mídia - Quarentena News - Revista Brasileira: Uma luz sobre as sombras do país

 

Pontualmente às 12h, ouve-se as 12 badaladas do sino, nos campanários da Igreja de Santa Luzia, a protetora dos olhos e padroeira dos deficientes visuais, no Centro do Rio de Janeiro. Nesse hora exata, a 160 metros dali, a acadêmica Rosiska Darcy de Oliveira, ocupante da cadeira 10, fala com entusiasmo, mas sem perder a elegância, a um grupo de jornalistas, sobre a “Revista Brasileira” -- espécie de farol de milha da Academia Brasileira de Letras, que lança luz sobre o país “que está cheio de zonas de sombra”, como diz Rosiska, a primeira mulher a dirigir e editar a revista lançada em 1855, a segunda publicação mais antiga do Brasil, depois da revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. A revista da ABL foi criada 42 anos antes da própria academia que nasceu no prédio onde funcionava a redação da publicação, na Rua do Ouvidor 31, no Centro do Rio. O cenário da conversa com Rosiska é o salão de chá da ABL, onde os imortais se reúnem toda quinta-feira, no Petit Trianon, o pavilhão francês construído para a exposição internacional comemorativa do Centenário da Independência, em 1922. Faz cem anos que o edifício, réplica do Petit Trianon de Versailles, foi doado à Academia pelo governo francês.

O Brasil está mais difícil de ser entendido. A cada dia acontece algo mais insólito. A Revista Brasileira reflete o momento de abertura da Academia Brasileira de Letras e busca apresentar o invisível por trás da notícia. O país está cheio de zonas de sombra e isso me interessa – explica Rosiska, com uma fluência e lucidez impecáveis, num delicioso café da manhã com os jornalistas. Para produzir a “Revista Brasileira”, trimestral, Rosiska reuniu uma equipe coesa e cheia de elã, que faz reuniões de pauta em conversas animadas no café da Livraria Argumento, uma espécie de quartel-general da revista, no Leblon, Zona Sul do Rio. A direção de arte e o projeto gráfico são assinados por Felipe Taborda, designer gráfico que deu à publicação um caráter mais contemporâneo. A produção editorial é de Monique Cordeiro Figueiredo Mendes. A editora assistente é Cristina Aragão, experiente jornalista e documentarista. A pesquisa iconográfica é de Anselmo Maciel e a revisão, de Fatima Fadel.

Além da equipe da revista, Rosiska conta com uma redação de fazer inveja a qualquer publicação. Na atual edição, por exemplo, a revista tem matérias assinadas por acadêmicos como Fernanda Montenegro, Eduardo Gianetti, Joaquim Falcão e Ruy Castro. O tema atual é “Cultura Viva". A edição apresenta, entre outros assuntos, um perfil do escritor João Ubaldo Ribeiro (1941-2014), textos sobre Literatura de Cordel e entrevistas com a atriz e diretora Bia Lessa e o médico Drauzio Varella, assinadas por Rosiska, que não nega o amor pelo ofício de repórter de cultura.

“O sertão é dentro da gente”, já sabia e nos ensinou Riobaldo [personagem de Grande Sertão Vereadas, de Guimarães Rosa]. A cada um, a travessia do seu grande sertão, suas veredas. Mas há um dentro da gente que é comum a todos nós e a isso se chama Cultura. É ela que faz um povo. É ela, a que nasce do povo, e que, viva, o mantém vivo. É ela, a cultura que toma a palavra para falar de si, de nós, nesse número da Revista Brasileira. Uma cultura viva que nos dá forma e identidade”, escreve Rosiska no editorial número 116 da décima fase da revista que traz artigos, ensaios e entrevistas.

Há um ano e meio à frente da publicação, a convite do atual presidente da ABL, Merval Pereira, a jornalista Rosiska procura produzir edições em torno de temas específicos que têm como pano de fundo o Brasil que deu certo. Com isso, ajuda a jogar mais luzes sobre temas muitas vezes mal compreendidos por parte da sociedade brasileira. A revista já publicou edições sobre a Amazônia (“Amazônias” foi o título), a identidade nacional (“Nós, os brasileiros”), política (“Democracia”, que foi sucesso de vendas) e Inteligência Artificial.

A Revista Brasileira da ABL é para todos que acreditam que o direito de escolher já é em si a democracia. Os que detestam a democracia detestam exatamente o direito de escolha; é uma revista para pessoas com capacidade de enfrentar a complexidade do mundo, o Brasil complexo. Esses, com a sua leitura, talvez nos ajudem a responder as perguntas – diz Rosiska, no site da revista, onde é possível baixar em PDF edições desde 2001.

Manter uma publicação impressa nesses dias não é nada fácil. Em 2021, houve uma redução de 28% na circulação de revistas impressas no Brasil e, desde a pandemia, tem ocorrido a extinção de títulos, incluindo tradicionais como a “National Geographic”, do Brasil, que acabou em 2019 (a edição americana, publicada desde 1888, tem previsão de encerrar os trabalhos impressos ano que vem). Prestes a completar 170 anos, a “Revista Brasileira” torna-se ainda mais essencial para quem escreve e para quem lê. “Esta a glória que fica, eleva, honra e consola” é o lema da revista, frase de Machado de Assis, o fundador da Academia. A revista publicou folhetins de Machado, que mais tarde viraram livros como “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de 1881.

Ao final da entrevista, Rosiska convida os jornalistas para um tour pela ABL, que tem duas bibliotecas monumentais, mobiliário histórico (como a escrivaninha e a cama de Machado de Assis) e salões com muita pompa e circunstância. "Fechei a manhã com chave de ouro, comendo um filé a Osvaldo Aranha, do outro lado da rua, na Casa Villarino, tradicional bar e restaurante onde Tom e Vinícius compuseram as músicas de “Orfeu da Conceição”, musical apresentado no Theatro Municipal, em 1956. É dura a vida de repórter.

Matéria na íntegra: https://www.facebook.com/100063558969766/posts/pfbid02v8p3eHc89kAdVAmwseDkfsdgzvmrZpkZU58oBmDjoATfGWY9Sp7tq1tKi6P5w2efl/

04/10/2023