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ABL na mídia - O Tempo - Ailton Krenak fala sobre presença na ABL, crise climática e como é escrever para crianças

 

Com 71 anos recém-completados, o líder indígena, ambientalista, filósofo, poeta e escritor mineiro Ailton Krenak tem uma rotina intensa. Nesta quarta-feira (2), em Belo Horizonte, ele bate um papo com o público ao lado do fotógrafo Hiromi Nagakura, na inauguração de exposição fotográfica que reúne imagens registradas há 30 anos pelo fotógrafo japonês em uma incursão amazônica.

Na sexta (4), o líder indígena participa de um encontro com professores, em que estarão presentes mulheres das aldeias Krikati. Também na sexta, Krenak lança o seu primeiro livro infantil, o “Kuján e os Meninos Sabidos”, feito em parceria com Rita Carelli.

Seus compromissos ainda incluem participações em festivais, entrevistas, rodas de conversas e agendas na Academia Brasileira de Letras – que lhe concedeu título de imortal em abril deste ano – sempre na defesa dos direitos dos povos indígenas e a preservação da Amazônia. Mas Krenak não atribuiu tamanha notoriedade e reconhecimento a si próprio.

“A expressão da cultura indígena não é individual, é coletiva”, resume. Em bate-papo com o Magazine, ele fala sobre a sua agenda em BH, faz reflexões sobre os títulos recebidos e expõe uma visão realista (e nada romântica) sobre o avanço das mudanças climáticas.

Com 71 anos recém-completados, o líder indígena, ambientalista, filósofo, poeta e escritor mineiro Ailton Krenak tem uma rotina intensa. Nesta quarta-feira (2), em Belo Horizonte, ele bate um papo com o público ao lado do fotógrafo Hiromi Nagakura, na inauguração de exposição fotográfica que reúne imagens registradas há 30 anos pelo fotógrafo japonês em uma incursão amazônica.

Na sexta (4), o líder indígena participa de um encontro com professores, em que estarão presentes mulheres das aldeias Krikati. Também na sexta, Krenak lança o seu primeiro livro infantil, o “Kuján e os Meninos Sabidos”, feito em parceria com Rita Carelli.

Seus compromissos ainda incluem participações em festivais, entrevistas, rodas de conversas e agendas na Academia Brasileira de Letras – que lhe concedeu título de imortal em abril deste ano – sempre na defesa dos direitos dos povos indígenas e a preservação da Amazônia. Mas Krenak não atribuiu tamanha notoriedade e reconhecimento a si próprio. “A expressão da cultura indígena não é individual, é coletiva”, resume. Em bate-papo com o Magazine, ele fala sobre a sua agenda em BH, faz reflexões sobre os títulos recebidos e expõe uma visão realista (e nada romântica) sobre o avanço das mudanças climáticas.

A exposição “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak” chega a BH nesta quarta-feira, trazendo fotos feitas principalmente no território amazônico entre os anos de  1993 e 1998. Você se recorda de algo especial dessa jornada realizada ao lado de Nagakura?

Esta foi uma jornada foi memorável. O fato de ela se expressar agora por meio de uma exposição fotográfica mostra a vitalidade desse trabalho e a relevância do grande fotógrafo japonês Hiromi Nagakura.

A exposição começou pelo Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, e foi uma verdadeira celebração, porque conseguimos promover a vinda de pessoas do Pará, do Amazonas, do Acre e ao Maranhão que estão presentes nas imagens. Muitas delas foram fotografadas na infância e agora se tornaram pais e avós. 

Você vai lançar seu primeiro livro infantil nesta sexta-feira. São muitos os seus trabalhos na literatura, mas nunca tinha escrito para este público. Como foi fazer uma obra para crianças?

O lançamento do livro ‘Kuján e os Meninos Sabidos’, que acontece quase ao mesmo tempo do início da exposição, representa um grande prazer, porque ainda não tinha aberto meu pensamento para esse público. Estou preocupado sempre com tantas questões, os povos indígenas têm sofrido tantas perseguições, então, por que lançaria um livro para crianças?

Mas no início deste ano, fui sensibilizado por uma leitura que deu origem ao livro, que fala do tempo em que Deus andava pelas aldeias. É o fragmento de um mito do povo Krenak. Então, ao lado da minha amiga Rita Carelli, que é ilustradora, buscamos apresentar uma história que criasse nas crianças um sentimento de pertencimento à vida. São elas as promotoras de condições para a vida continuar existindo no planeta.

Então, você gostou de ter feito o livro?

A melhor coisa que fiz nos últimos anos foi este livro para as crianças. É uma obra que poderei ler para os meus netos, bisnetos, tataranetos, sentindo que nunca os enganei sobre o futuro. Sobretudo, porque, no fim do livro, o criador fala que as criaturas são “mais ou menos.”

É importante que os seres humanos saibam que são, no máximo, mais ou menos. Vivemos uma euforia tão grande, em que todos querem ser o máximo, representando um egoísmo tão grande que dá até vergonha. Mas quando uma criança entende que ela é mais ou menos, a pressão social sobre ela diminui. 

É como reconhecermos que somos medíocres?

Não gosto dessa palavra, porque, no português, ela tem um peso negativo, uma conotação moral. Eu prefiro dizer que seria suficiente que fôssemos simplesmente comuns. Comuns como nossos antepassados, que nos deixaram este mundo.

Foram eles que produziam na terra sem drogar o solo, nem comer as montanhas, nem envenenar os rios. São os incríveis que fazem esse tipo de coisa, como as tragédias de Brumadinho e de Mariana: estas são obras dos incríveis. Os comuns não têm tanta ambição assim. 

Recentemente, você foi eleito para a Academia Mineira de Letras, e, mais recentemente ainda, para a Academia Brasileira de Letras. Esta é a primeira vez que um indígena ocupa este posto. Você acredita que essa honraria chegou com um certo atraso?

Fui muito bem acolhido no evento da ABL deste ano. Estive cercado de pessoas ilustres, como Fernanda Montenegro, Rui Castro e o próprio presidente da ABL, o jornalista Merval Pereira. O que me interessa é que os povos indígenas foram bem recebidos, não propriamente o Ailton. Não acho que tenha sido tardio, tudo em seu tempo.

Quando você fala que o que importa é a representação do indígena na Academia Brasileira de Letras, e não a figura do Ailton, quer dizer exatamente o quê com isso?

A missão da ABL é a difusão da língua portuguesa, não a de Portugal, mas a daqui. O Brasil tem mais de 300 povos indígenas, cada um têm a sua língua, e a minha contribuição para a Academia Brasileira de Letras é justamente poder apresentar lá dentro as obras textuais, orais e imagéticas das línguas nativas. Além disso, estando lá dentro, cria-se uma expectativa nos jovens indígenas de se tornarem escritores e obterem esse tipo de reconhecimento público. 

Estar na Academia Brasileira de Letras têm a ver com representatividade, então.

A expressão da cultura indígena não é individual, é coletiva. Você nunca encontrará um artista indígena que não esteja, de certa forma, ligado à comunidade. Ele aprendeu tudo com a mãe, com a avó, com o tio… Inclusive, o livro que estou lançando tem a ver com uma história que é contada para várias pessoas.

Os indígenas se obrigam a ficar nesse ajuntamento, também, para sobreviver. Se cada um resolvesse inventar uma moda sozinho, acho que não iríamos muito longe. É o sentido coletivo e comunitário que fortalece iniciativas indígenas. As candidaturas indígenas foram vitoriosas, por exemplo, somente por conta do apelo comunitário.

Por falar em política, qual é a avaliação que você faz do Ministério dos Povos Indígenas após quase dois anos de sua criação?

Percebo mudanças muito positivas. Em primeiro lugar, porque o Brasil nunca teve uma instituição de relevância dentro do governo federal sob responsabilidade indígena. A FUNAI sempre cuidou dos interesses indígenas, mas de maneira tutelar. Então, mesmo que este seja o mais pobre dos ministérios, é importante, pois é pensado e liderado por indígenas, e, não, por pessoas que têm perspectivas completamente diferentes. 

Em relação às mudanças climáticas, você acredita que esse é o tema tratado seriamente, depois de tragédias como as queimadas e os alagamentos do Rio Grande do Sul, ou ainda existe um logo caminho a ser percorrido?

Vivemos recentemente a tragédia da pandemia, e todos pensávamos que, após o fim dela, diminuiríamos a velocidade da retomada da economia. Mas me admira a fúria com que todos saímos correndo após a abertura da porteira: a economia continua sendo a prioridade número um, antes mesmo da vida. Naquela época, a ciência já mostrava que entraríamos em um período de extremos climáticos. E se o próprio secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que marchamos céleres para o inferno, não sou eu quem vai desmenti-lo.  

Nós estamos em um processo de mitigação de danos, e qualquer pessoa que tentar dizer algo diferente disso é mentirosa. Os negacionistas vão continuar falando para comprar um carro novo, para morar em apartamentos cada vez menores, porque, quando as coisas estiverem ainda piores, eles terão para onde fugir, poderão morar até em outro planeta, enquanto os comuns terão de suportar os córregos poluídos e as montanhas carcomidas. Mas eu não posso colocar isso em um livro para crianças, não é?

SERVIÇOS

O quê. Exposição “Hiromi Nagakura até a Amazônia com Ailton Krenak”
Quando. De quarta-feira (2) até 30 de novembro, de quarta a segunda, das 10h às 22h
Onde. CCBB-BH (praça da Liberdade, 450, Funcionários)
Quanto. Gratuito, mediante retirada de ingressos no site do CCBB-BH ou na bilheteria do teatro.

Matéria na íntegra: https://www.otempo.com.br/entretenimento/2024/10/1/ailton-krenak-fala-sobre-presenca-na-abl--crise-climatica-e-como

01/10/2024