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ABL na mídia - O Globo - Universidade das Quebradas: Campo aberto para os sucessores de Machado

 

No ano em que o Rio ostenta o título de Capital Mundial do Livro, concedido pela Unesco, o foco não está apenas no leitor, mas também na formação de novos autores. Dados do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) mostram que nunca se escreveu tanto. Segundo Martha Ribas consultora de conteúdo do sindicato, 30 mil autores, por ano, estão lançando suas publicações fora do mercado tradicional.

Antes de buscar uma editora para apresentar seus originais, muitos desses candidatos a sucessores de Machado de Assis vão refinar a sua escrita em projetos destinados a lapidar os novos talentos. Uma dessas iniciativas é a Universidade das Quebradas, que acontece na Academia Brasileira de Letras (ABL) em parceria com o Instituto Odeon.

Acesso democratizado

A iniciativa foi idealizada pela professora e acadêmica Heloisa Teixeira com o objetivo dar vez e voz à periferia. Surgido em 2009 na Faculdade de Letras da UFRJ, de lá para cá o projeto sofreu transformações em seu formato e foi levado para a ABL, quando sua criadora conquistou uma cadeira na casa, em meados de 2023 — Heloisa morreu em março deste ano. Já com o foco na formação de novos autores, o primeiro curso foi realizado em 2024, tendo também como parceira a Festa Literária das Periferias (Flup), e abordou o tema “Machado Quebradeiro”.

O objetivo foi fomentar a escrita periférica num momento em que Machado de Assis passou a ser reconhecido como o autor negro que efetivamente foi.

— O projeto é voltado prioritariamente para pessoas que não tiveram acesso à universidade, mas com a política de cotas vem mudando de perfil e o nosso alvo tem sido a periferia que já escreve, mas precisa de mais espaço, técnica e capacidade de publicação — explica a professora Drica Madeira, coordenadora pedagógica da Universidade das Quebradas desde 2022.

O último curso formou 45 novos escritores periféricos e resultou na publicação do livro “Machado Quebradeiro”, em parceria com a Flup, lançado na Bienal do Livro. A segunda edição do curso teve início em abril e será concluída em outubro. Dessa vez, a inspiração vem da obra de Ariano Suassuna e da riqueza cultural do Nordeste.

As aulas de “Suassuna Quebradeiro” terão a participação de mais de 50 “quebradeiros”, como são chamados os alunos do projeto, todos moradores do Rio. Os encontros acontecem semanalmente às terças-feiras, no formato presencial, das 13h às 17h, e contam com palestras oferecidas pela ABL, das 16h às 17h.

Também acontecem oficinas virtuais e programação diversificada de seminários, debates e saídas culturais, que resultam numa experiência formativa ampla e interdisciplinar. Ao longo do curso, os participantes desenvolverão textos em grupo, sob a orientação de um especialista, que, ao final, serão publicados em um livro. 

A escolha por Ariano Suassuna também partiu de Heloisa Teixeira, que deixou idealizada esta nova edição do curso, junto com a professora Numa Ciro. A acadêmica também concebeu o ciclo de conferências que acontece desde maio, com a participação de nomes como Bráulio Tavares, Durval Muniz de Albuquerque Júnior, Joaquim Falcão e Gilberto Gil.

— É um projeto a muitas mãos, com vários parceiros. Tem o Instituto Odeon como captador de recursos, a ABL como fomentadora desse incentivo para a formação de novos escritores e Heloisa como a grande idealizadora incansável para dar vez e voz à periferia, especialmente dentro da universidade. Ela defendia uma universidade de portas abertas. O projeto tem muito essa cara, esse perfil — define Drica Madeira.

A chegada às salas de aula A Universidade das Quebradas surgiu como laboratório de tecnologias sociais, baseado na troca entre saberes e práticas de criação e produção de conhecimento. A proposta era de criação de novas relações entre as experiências culturais e intelectuais produzidas dentro e fora da academia. A iniciativa nasceu como projeto de extensão da UFRJ.

Em 2022, o curso aconteceu no Museu de Arte do Rio (MAR) com o tema “Arte Preta: Filosofia, História e Curadoria”, com enfoque em perspectivas antirracistas e decoloniais. Em 2023, o tema foi “Invenção do Nordeste”, com a participação de palestrantes da região. No ano seguinte chegou à ABL, com apoio do presidente Merval Pereira.

—Nós continuamos o trabalho da Heloisa Teixeira, fazendo com que o pessoal das quebradas tenha acesso, além do que já fazem lá, ao nosso ciclo de palestras, que acompanham com todo afinco, numa demonstração de que esse intercâmbio dá resultado — diz Merval.

Matéria na íntegra: https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2025/06/27/universidade-das-quebradas-campo-aberto-para-os-sucessores-de-machado.ghtml

27/06/2025