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ABL na mídia - O Globo - Documentário 'Helô' estreia no Canal Brasil com 'pensamento vivo' de Heloisa Teixeira, que completa 85 anos nesta sexta-feira

 

Aniversariante do dia — 85 anos! — Heloisa Teixeira aparece em estado bruto no documentário “Helô”, que estreia hoje, às 20h, no Canal Brasil. O longa partiu do desejo de seu filho, o diretor e produtor Lula Buarque de Hollanda, de capturar o “pensamento vivo” da professora, pesquisadora, escritora, ensaísta, editora, crítica literária e imortal da Academia Brasileira de Letras. É um retrato íntimo e afetivo, mas também biográfico — relembra seu papel de agitadora de diversos movimentos culturais a partir da década de 1960 ao mesmo tempo que acompanha seu dia a dia frenético na atualidade, entre aulas, palestras, reformas na casa e instantâneos familiares e conversas com os filhos, netos e amigos de longa data como Zuenir Ventura.

— O filme tem essa espontaneidade do convívio com Helô no dia a dia, mostra como ela constrói sua produção intelectual e como ela conseguiu fazer essa transposição da academia para algo real — diz o filho orgulhoso, Lula Buarque de Hollanda. — Acompanhar ela é frenético, o cotidiano dela é uma usina de acontecimentos, reuniões, viagens... Ela não para.

O filme, que tem roteiro de Isabel De Luca, Julia Anquier, Bianca Oliveira e Jordana Berg, dá liberdade para deixar Helô ser Helô, divertida e surpreendente, limpando batom nos dentes (“a minha marca”), digerindo alimentos e palavras em reuniões com os netos, refletindo sobre o trivial e o profundo e chamando de mentiroso quem a trata como a maior intelectual viva.

— Isso de maior e melhor é uma bobajada — diz Helô, em entrevista por telefone. — Essa coisa heroica da grande intelectual acho meio brega. Isso dá um peso, um comportamento meio paralisante.

Helô toma controle do documentário, apontando caminhos para o filho-diretor, que não se limita a ficar apenas atrás das câmeras, aparecendo à frente também. Perguntada sobre como um filme a seu respeito deveria ser, Helô não precisa pensar muito. Diz que não deseja um retrato dela, mas das pessoas que encontrou e que fizeram parte de sua trajetória.

O filme retrata a vida de Helô como uma arte do encontro, relembrando seu papel como interlocutora e divulgadora de pautas, debates e movimentos renovadores das últimas décadas. Surgem histórias e imagens raras dos tempos de denúncia das patrulhas ideológicas do fim dos anos 1960, da poesia marginal dos anos 1970, da trupe Asdrúbal Trouxe o Trombone (ela dirigiu o único registro audiovisual da peça “Trate-me leão”) nos anos 1980, da produção periférica dos anos 2000 e da nova onda feminista de 2010 em diante.

— Toda a minha vida foi um exercício de escuta, sou uma profissional da escuta — diz. — Porque é assim que eu crio vontade de entender o que está acontecendo, de detectar os sinais das pessoas, dos encontros.

O filme já tinha um primeiro corte em 2023, quando Helô decidiu concorrer à Academia Brasileira de Letras. Lula Buarque de Hollanda fez então um novo final, adicionando imagens de bastidores da eleição da mãe para a instituição, com direito a telefonema emocionado da imortal Fernanda Montenegro e imagens da posse da nova eleita. Em seu discurso de posse, ela afirma que a ABL é sua última missão como intelectual.

‘Feliz de fardão’

O ingresso de Helô na Casa de Machado de Assis acabou sendo uma virada irônica em sua biografia, já que ela própria conta que nunca havia se imaginado como acadêmica. O processo de democratização da ABL, que se abriu para um quadro mais diverso nos últimos anos, fez a intelectual mudar de ideia.

Desde que assumiu a cadeira 30 da ABL, Helô idealizou projetos como o “Machado Quebradeiro”, um curso de formação de escritores da periferia que uniu a ABL à Festa Literária das Periferias (Flup) e à Universidade das Quebradas. Desde abril, o projeto vem promovendo oficinas, palestras e seminários, trazendo discussões em torno do tema “Machado afrodescendente e periférico”, que dá ênfase às origens sociais e raciais de Machado de Assis. Ela também coordenou o ciclo de conferências “Machado de Assis e a questão racial”.

— Estou apaixonada pela ABL — derrete-se. — Tem muito espaço para a ação, é o lugar mais livre em que já estive. Coisas que são uma luta para realizar em outros lugares, aqui é fácil. Achava que seria um escândalo falar sobre esse Machado negro na ABL, mas não foi nada disso. A ABL será meu último ato, o que é algo inexplicável. Se me dissessem cinco anos atrás que eu estaria feliz de fardão, acharia loucura.

Matéria na íntegra: https://oglobo.globo.com/cultura/noticia/2024/07/26/documentario-helo-estreia-no-canal-brasil-com-pensamento-vivo-de-heloisa-teixeira-que-completa-85-anos-nesta-sexta-feira.ghtml

26/07/2024