Um novo mural que representa a vida do escritor Machado de Assis foi inaugurado na fachada da Academia Brasileira de Letras (ABL), situada no centro do Rio de Janeiro. O mural, que se estende por 150 metros, retrata a casa onde o autor residiu, localizada no Morro do Livramento, a Rua do Ouvidor, que era especialmente significativa para ele, sua esposa Carolina Augusta, bem como suas paixões pela música clássica e pela literatura. O mural também evoca reflexões sobre a vida e a morte, temas recorrentes na obra machadiana.
A obra apresenta, à esquerda, uma letra “M” ornamentada, reminiscentes das aberturas de livros antigos, que simboliza o primeiro trabalho formal de Machado de Assis como tipógrafo. No centro da composição, um elemento central é destacado: o xadrez. Esta representação aborda questões relacionadas à cor da pele do escritor, ilustrando um xeque-mate em que o Machado de Assis negro vence um Machado de Assis embranquecido, reafirmando a identidade do primeiro presidente da ABL como um homem negro.
A inauguração do mural ocorreu no dia 23 de setembro de 2024 e faz parte do projeto Negro Muro, concebido pelo produtor e pesquisador Pedro Rajão e pelo artista Fernando Cazé. O projeto abrange a criação de 62 murais pela cidade, com o objetivo de mapear e valorizar a memória negra por meio da arte urbana.
Fernando Cazé, um dos idealizadores do projeto, destacou o significado especial da obra. Ele afirmou que o mural encerra a narrativa de que Machado era branco, desafiando a visão tradicional que perpetua essa ideia. Cazé enfatizou a relação entre arte e educação antirracista, afirmando que o projeto busca reconhecer e celebrar personalidades negras dentro dos contextos históricos que marcaram suas vidas.
Pedro Rajão explicou que o projeto Muro Negro se dedica à produção de murais, uma forma de arte que considera democrática, pois está disponível ao público nas ruas, sem custos. Ele ressaltou a importância de identificar e registrar figuras significativas da história negra em locais que refletiram suas trajetórias.
A visita à ABL foi descrita por Rajão como uma emoção intensa. Ele pontuou que Machado de Assis é uma unanimidade nacional e que a escolha da ABL para a realização do mural visa dar visibilidade ao impacto do autor na literatura brasileira, cuja relevância permanece viva na memória cultural do país.
Machado de Assis, nascido em 1839 e falecido em 1908, é amplamente reconhecido como um dos autores mais influentes do Brasil. Sua produção literária inclui dez romances, 205 contos, dez peças teatrais, cinco coletâneas de poemas e sonetos, além de mais de 600 crônicas. Ele é conhecido por obras como “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, “Quincas Borba”, “Dom Casmurro”, “Esaú e Jacó” e “Memorial de Aires”, tendo sido também um dos fundadores e o primeiro presidente da ABL.
A cerimônia de lançamento do mural contou com apresentações e uma mesa-redonda com pesquisadores. A professora Dandara Suburbana, uma das debatedoras, sublinhou a importância histórica do mural em homenagem a Machado de Assis, ressaltando sua contribuição à literatura nacional e internacional como um autor negro de renome.
Dandara também defendeu a formação de novos leitores, desafiando a noção de que as gerações mais jovens não se interessam pela leitura. Segundo ela, as redes sociais podem ser aliadas nesse processo, pois diversas páginas estão promovendo a literatura negra de maneiras acessíveis e inovadoras, conectando diferentes mídias.
O escritor Godofredo de Oliveira Neto, membro da ABL e presente na inauguração, afirmou que o mural representa uma maneira de a ABL se conectar com a nação brasileira. Ele enfatizou que Machado é fundamental para a identidade da Academia, sendo considerado um dos principais pensadores da cultura brasileira.
Matéria na íntegra: https://jornalgrandebahia.com.br/2024/09/academia-brasileira-de-letras-inaugura-mural-de-machado-de-assis/
01/10/2024
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