Machado de Assis é o maior escritor brasileiro de todos os tempos. Sua memória deveria ser sempre exaltada em todos os lugares do país. Chama a atenção que em São Paulo o artista não mereça um único monumento, nem um pequeno busto em uma praça importante.
O que existe de referência urbana ao escritor carioca na cidade é o nome de uma rua na Vila Mariana, na zona Sul, ponto final de uma linha de trólebus, a 408A-10, chamada de Machado de Assis. Ela parte da rua Cardoso de Almeida, em Perdizes. Fora isso há três escolas com seu nome e nada mais. Uma delas é escola privada, outra, Emei e a terceira, de educação básica.
É incrível como um personagem tão gigantesco possa ficar tão escondido e sem referências na paisagem paulistana. Poderia haver, por exemplo, uma estátua de Machado ao lado do Anhanguera, na entrada do parque Trianon, como símbolos da civilização e da barbárie. Também é defensável um monumento no estilo Borba Gato. Seja como for, o escritor, por sua grandiosidade, merece mais do que a cidade lhe dá.
Sua relação com São Paulo era nula. Machado que viveu entre 1839 e 1908, assistiu de longe o lugarejo interiorano se transformando em um local mais cosmopolita. Mas até a primeira década do século, quando ele ainda vivia, a cidade ainda não tinha dado seu salto industrial, urbanístico e muito menos artístico, que aconteceria nos anos 1920.
Uma das razões de Machado ser pouco homenageado em São Paulo está em sua profunda relação com o Rio de Janeiro e sua falta de interação com a cultura paulista. Ele estava pouco preocupado com o estado vizinho. Não era assunto de suas crônicas. Não é um cenário frequente em sua obra. Na verdade, aparece muito ocasionalmente. Valeria uma tese: "São Paulo na obra de Machado".
Para o escritor, cujo olhar partia da capital federal, São Paulo era mais um estado brasileiro e um centro emergente de progresso e modernidade. Pode-se dizer que ele via a cidade como uma província promissora, mas pouco interesse demonstrava por ela.
Interessava-lhe mais os acontecimentos na capital e os labirintos da alma do que eventuais lampejos econômicos e literários na província. Não há notícias de viagens suas para São Paulo e talvez a cidade estivesse completamente fora do seu radar. Fala-se de alguma correspondência com intelectuais paulistas. Se Machado fosse um abolicionista engajado, ele poderia ter trocado cartas hipotéticas com o defensor dos negros Luiz Gama. Seria um bom diálogo.
Machado deveria ser para o Brasil o que Giuseppe Garibaldi é para a Itália: um símbolo de unificação. Como na Itália, onde há alguma referência a Garibaldi em todas as cidades que se visite, o Brasil poderia fazer o mesmo com Machado. São Paulo precisa fazer mais reverência ao bruxo do Cosme Velho.
Matéria na íntegra: https://www1.folha.uol.com.br/blogs/andancas-na-metropole/2024/11/a-presenca-de-machado-de-assis-em-sao-paulo.shtml
27/11/2024