“Não sou ficcionista nato. Não tenho a menor imaginação (para criar uma história). Eu nasci para pesquisar”, disse Ruy Castro durante a mesa-redonda Corações e Mentes, realizada no sábado (28/10), como parte da quarta edição da Feira Literária de Tiradentes (Fliti), explicando o motivo de preferir escrever biografias em vez de ficção. E foi justamente sobre a escrita biográfica que o jornalista, escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) conversou com o Estado de Minas.
“O biógrafo tem que se mudar para a vida da pessoa que ele está escrevendo”, justifica Ruy. Metódico e detalhista, o escritor entra de cabeça no mundo de seu biografado, criando pastas no computador referentes a cada ano de vida do personagem, com histórias, fotos e entrevistas feitas com quem conviveu com o biografado naquela época. Quando pesquisava a vida de Carmen Miranda, por exemplo, só ouvia músicas da cantora portuguesa radicada no Brasil. Foram cinco anos ouvindo somente a Pequena Notável para desespero de Heloísa Seixas, sua mulher, e da filha Júlia.
Muitos dos métodos de pesquisa e produção de biografias utilizados por ele foram herdados do seu tempo de repórter em jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo. Contudo, garante ele, um bom repórter não é necessariamente um bom biógrafo.
Sem gravador
São essas pessoas desacostumadas com a imprensa, inclusive, que ele prefere entrevistar. Delas, diz o escritor, saem os melhores casos e as melhores histórias a respeito do biografado.
Ainda que prefira escrever sobre pessoas que já morreram – e, mesmo assim, depois de “esperar não só o cadáver esfriar, mas virar pó”, conforme costuma brincar –, por não haver nenhum tipo de autocensura e constrangimento por parte do biógrafo, Ruy Castro não se opõe às biografias de personalidades que ainda estão vivas.
Defesa da narrativa de vida
Desde que começou a se dedicar à escrita de livros, em 1990, com “Chega de saudade”, sobre o surgimento da Bossa Nova, Ruy já publicou 40 títulos, quase todos do gênero biografia. São dele, por exemplo, as biografias de Carmen Miranda (“Carmen – Uma biografia”), Nelson Rodrigues ("O anjo pornográfico") e Garrincha (“Estrela solitária – Um brasileiro chamado Garrincha”). Também escreveu sobre a vida de pessoas marcantes para o Bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro, e para a cultura brasileira entre as décadas de 1910 a 1970, no livro "Ela é carioca", e o desenvolvimento artístico e cultural do Rio de Janeiro dos anos 1920, em “Metrópole à beira-mar”.
Mais recentemente, em 2021, ele voltou à década de 1920 para fazer uma antologia da produção literária, poética e jornalística dos escritores dessa época, no livro “Vozes da metrópole: Uma antologia do Rio dos anos 20”.
Segredos do novo projeto
31/10/2023