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ABL na mídia - Agência Cenarium - ‘Amazônia não é símbolo, é território’, afirma Ailton Krenak sobre COP30 no Pará

 

Krenak, que esteve na capital paraense nesta quarta-feira, 4, para participar do 1º Seminário de Educação Ambiental, na Universidade Federal do Pará (UFPA), falou à reportagem sobre os desafios e contradições de um evento que promete colocar a floresta no centro das discussões, porém, segundo ele, pode ignorar os direitos e as necessidades das populações locais. 

“A Amazônia não pode ser o símbolo da COP30. Ela é o território onde esse evento global vai acontecer, mas, muito provavelmente, terá um custo social muito grande. Não imagino que as comunidades locais receberão benefícios diretos desse evento”, declarou Krenak. 

Ele ainda destacou que as comunidades que vivem na floresta não podem ser ignoradas em mais um evento global onde a economia dita as regras. “Se queremos realmente mudar o rumo, precisamos ouvir essas populações e garantir que elas sejam protagonistas”, completou. 

Krenak destacou que a conferência, embora seja uma oportunidade de colocar a Amazônia em evidência, corre o risco de transformar a região em um palco simbólico para debates que, na prática, favorecem interesses econômicos globais em detrimento das populações locais.

“Transformar a Amazônia em um símbolo é uma maneira de sublimar a realidade climática, os problemas sociais, a pobreza e a desordem ambiental que vivemos no planeta. É como desviar o foco do que realmente importa”, acrescentou. 

Para o líder indígena, as comunidades amazônicas poderão receber impactos apenas a longo prazo, e ainda assim de forma compensatória, uma abordagem que ele considera insuficiente. “As possíveis medidas compensatórias para as perdas históricas dessas populações talvez venham no longo prazo, mas elas não serão transformadoras. Isso acontece porque o verdadeiro debate aqui não é sobre salvar o clima, mas sobre economia”, afirmou. 

Contradições globais 

Krenak também apontou contradições no circuito global das conferências climáticas, que frequentemente acontece em países com economias baseadas em combustíveis fósseis. Ele citou como exemplo as edições mais recentes da COP. 

“A grande discussão sobre as matrizes energéticas aconteceu na Arábia Saudita, um país que pretende continuar extraindo petróleo até 2050. Depois tivemos a COP29 no Azerbaijão, onde o presidente abriu a conferência dizendo que o petróleo era um presente de Deus. Agora será na Amazônia, e alguém muito provavelmente vai dizer que ela também é um presente divino”, disse. 

O líder indígena elencou ainda que essa narrativa serve para camuflar a real intenção desses eventos, que é mapear recursos naturais ainda disponíveis para a exploração econômica. “É um inventário de onde ainda existem rios, florestas e os chamados recursos naturais para que o capitalismo continue crescendo. O debate sobre o clima acaba sendo apenas um pretexto”, comentou. 

Krenak também questionou a presença de grandes corporações, como mineradoras e bancos, entre os principais patrocinadores das conferências climáticas. Ele destacou o impacto negativo dessas empresas nas populações locais e no meio ambiente. 

“São essas grandes empresas que patrocinam as rodadas climáticas, seja aqui no Brasil, seja na África ou na Ásia. Elas tocam o disco. Cabe a nós decidirmos como e onde nos posicionamos, porque, se não formos, elas continuarão fazendo do mesmo jeito”, concluiu. 

História de luta

Ailton Krenak, membro do povo Krenak, é uma das vozes mais importantes no ativismo ambiental e indígena. Primeiro indígena a integrar a Academia Brasileira de Letras, é autor de obras como “Ideias para Adiar o Fim do Mundo” e “A Vida Não É Útil”, que traduzem sua visão de um futuro em harmonia com a ancestralidade e o meio ambiente.

Ao longo de décadas, ele tem denunciado injustiças ambientais e sociais, reivindicando um modelo de desenvolvimento que respeite os direitos dos povos originários e a integridade dos territórios.

Matéria na íntegra: https://agenciacenarium.com.br/amazonia-nao-e-simbolo-e-territorio-afirma-ailton-krenak-sobre-cop30-no-para/

04/12/2024