Durante oito meses, todas as terças-feiras, 50 jovens da periferia carioca frequentaram a Academia Brasileira de Letras para examinar vida e obra de Machado de Assis sob a perspectiva racial, no curso de formação de escritores. Escritores como Jefferson Tenório, Geovani Farias, Marcus Faustini e estudiosos da obra de Machado de Assis como Ana Flavia Magalhães Pinto e Paulo Dutra, entre outros, comandaram as aulas na ABL.
Neste período, os alunos assistiram a várias palestras da ABL, como as de Lilia Schwarcz e Ailton Krenak, padrinho da turma. Os alunos contaram suas próprias histórias por meio da escrita, que serão imortalizadas no livro que será publicado e lançado pela FLUP.
A cerimônia de formatura será nesta terça-feira, dia 12, às 11h, na sede da ABL.
No próximo ano, o escritor Ariano Suassuna será o autor escolhido para a turma.
Criadora da Universidade das Quebradas há mais de duas décadas e idealizadora do curso, a Acadêmica Heloisa Teixeira (Buarque de Holanda) diz que tudo é uma troca de saberes.
“A gente dá para a periferia o melhor que a universidade tem a compartilhar. Aulas de literatura, filosofia, antropologia, história da arte, e eles respondem com “territórios quebradeiros”, ressoando de forma diferente a instigação feita em sala. É uma troca de saberes, já que a Academia não tem acesso ao saber das periferias. O programa é parte do Programa Avançado de Cultura Contemporânea da Faculdade de Letras da UFRJ.
Para ela, fazer um curso na ABL para estudantes da periferia tem um valor simbólico da maior importância.
“Ao mesmo tempo que legitima o trabalho desses aspirantes ao ofício da escrita, mostra o interesse da ABL pela força da literatura emergente, vinda de segmentos plurais na cena literária. Eles fazem coisas maravilhosas, a graça é ser na ABL, que era um lugar inacessível para eles. Tem impacto na autoconfiança deles e da ABL. Chegaram odiando Machado e se apaixonaram ao conhecê-lo melhor.” O curso foi uma parceria da ABL com a FLUP e organização do Instituto Odeon.
12/11/2024