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afrofuturismo

Classe gramatical: 
s.m.
Palavras relacionadas: 

afrofuturista adj.2g. s.2g. (movimento afrofuturista, conto afrofuturista)

Definição: 

Movimento cultural, estético e político que se manifesta no campo da literatura, do cinema, da fotografia, da moda, da arte, da música, a partir da perspectiva negra, e utiliza elementos da ficção científica e da fantasia para criar narrativas de protagonismo negro, por meio da celebração de sua identidade, ancestralidade e história; em geral, obras pertencentes a este movimento procuram retratar um futuro grandioso, caracterizado tanto pela tecnologia avançada quanto pela superação das condições determinadas pela opressão racial, dentro do contexto da vivência africana e diaspórica. [Esta definição não exclui outras formas de descrever ou abordar o movimento, que possui conceituações variadas de diversos estudiosos e pesquisadores do tema.]

Exemplos de uso: 

“Em 1994 Mark Dery cunhou o termo afrofuturismo a partir de uma análise da cena cultural-literária dos Estados Unidos com base em entrevistas que o crítico fez com três artistas e intelectuais negros, Greg Tate, Tricia Rose e Samuel R. Delany, em que se questiona a ausência de autores afro-americanos na ficção científica. O termo busca descrever as criações artísticas que, por meio da ficção científica, inventam outros futuros para as populações negras. Embora a origem do afrofuturismo se situe no campo da produção literária, a mencionada entrevista, em que Dery aponta também para a produção literária de escritores como Samuel R. Delany e Octavia Butler, acabou estendendo o movimento também ao campo do cinema, da fotografia e das artes visuais, bem como ao campo musical.”1

“Duas foram as perguntas que inspiraram a definição do afrofuturismo: pode uma comunidade cuja história foi deliberadamente apagada imaginar um futuro possível? E qual seria o caráter desse futuro? Resulta interessante, 30 anos depois de sua formulação, tentar responder às perguntas relacionando a noção de afrofuturismo com aquela de afropolitanismo que, segundo alguns teóricos, definiria uma futura geração de africanos no mundo.”2

“[Achille] Mbembe acredita que o futuro do planeta esteja justamente no continente africano e aponta que, nos próximos 30 ou 50 anos, uma em cada três pessoas na Terra será africana ou afrodescendente. ‘O afrofuturismo deixa de ser uma questão étnica ou continental e se torna planetária, é preciso entender que o futuro negro é o futuro da Terra’, afirma Kênia Freitas, pós-doutoranda em Comunicação na Unesp (Universidade Estadual Paulista) e pesquisadora de afrofuturismo.”3

“Um dos precursores do afrofuturismo na cultura foi o jazzista estadunidense Sun Ra (1914-1993), que nos anos 1960 fazia uma música futurista inspirada na ‘filosofia cósmica’. Entretanto, a primeira vez que o termo afrofuturismo foi utilizado foi na década de 1990, através do estudo ‘Black To The Future: Ficção científica e Cybercultura do século XX a Serviço de uma Apropriação Imaginária da Experiência e da Identidade Negra’ (...).”4

“Para o escritor Ale Santos, autor do livro ‘Rastros de resistência: Histórias de luta e liberdade do povo negro’, e também do conto afrofuturista ‘Cangoma’ (2019), o afrofuturismo vai muito além de um cerne exclusivo na literatura, na música ou no cinema: ‘O afrofuturismo surge como um movimento social e uma ação política de artistas negros. Ele, basicamente, traz a perspectiva negra, sob os aspectos da estética e sob os aspectos culturais da ancestralidade negra, para as discussões da ciência, para as discussões da ficção científica e para as discussões da tecnologia. Ele acaba utilizando tudo isso para produzir algumas narrativas, que questionam a sociedade, e que colocam o negro em um futuro que ele nunca foi imaginado para estar’.”5

“Ela [Kênia Freitas] explica que o Afrofuturismo é ‘amplo e abrangente’, e engloba música, quadrinhos, cinema, moda, artes plásticas e literatura. Atualmente, sua estética é visível, por exemplo, nos clipes futuristas da cantora Janelle Monáe, nas ‘canções cósmicas’ de Erykah Badu e Outkast e, ainda, nas telas de Jean-Michel Basquiat, que carregam referências de um passado ancestral com toques contemporâneos. No cinema, além de Pantera negra, o longa Uma dobra no tempo, com estreia prevista para março, também se enquadra na estética: dirigido por Ava Duverney, o filme de aventura tecnológica é protagonizado por uma jovem atriz negra, Storm Reid, e por Oprah Winfrey. Já no Brasil, as maiores expressões afrofuturistas estão em filmes como Branco sai, preto fica (2014), de Adirley Queirós, na música do grupo Senzala Hi-Tech e na ficção científica de Fábio Kabral, autor de O caçador cibernético da rua 13 (Malê) – romance que mistura crenças do Candomblé a um planeta tecnológico semelhante a Wakanda.”6

“Em contraposição, surgiu um movimento estético, cultural e social, mais tarde batizado de afrofuturismo, que inseriu o negro na visão de futuro – um posicionamento que vai além do entretenimento, mas também fala sobre sobrevivência e resistência. Recentemente, o filme Pantera Negra (2018) se tornou um expoente moderno do afrofuturismo, ao misturar a estética tecnológica aos elementos da cultura africana. Beyoncé explora em Black is King o movimento com o uso abundante de cores metálicas, visuais e coreografias robóticas e batidas eletrônicas misturadas a cores, figurinos e danças de culturas tribais africanas.”7

 

1  BUROCCO, Laura. Afrofuturismo e o devir negro do mundo. Revista Arte e Ensaios, n. 38, julho de 2019. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/ae/article/view/26373/15167. Acesso em: 14 nov. 2020.

2  Idemibidem.

3  MUITO além de ‘Pantera Negra’: o que é afrofuturismo e como entendê-lo. Uol Tab, 5 set. 2020. Arte e Design FAQ. Disponível em: https://tab.uol.com.br/faq/alem-de-pantera-negra-o-que-e-afrofuturismo-e.... Acesso em: 16 nov. 2020.

4 VIEIRA, Vinícius. Por que Beyoncé é a rainha do pop e do afrofuturismo. Revista Exame, 10 ago. 2020. Casual. Disponível em: https://exame.com/casual/por-que-beyonce-e-a-rainha-do-pop-e-do-afrofutu.... Acesso em: 14 nov. 2020.

5 Idemibidem.

6  D’ANGELO, Helô. Afrofuturismo: fantasia, tecnologia e ancestralidade. Revista Cult, 5 mar. 2018. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/afrofuturismo-tecnologia-ancestralid.... Acesso em: 16 nov. 2020.

7  CARNEIRO, Raquel; CRUZ, Felipe Branco. Beyoncé vai do afrofuturismo à Bíblia em ‘Black is King’; veja referências. Revista Veja, 18 ago. 2020. Cultura. Disponível em: https://veja.abril.com.br/cultura/beyonce-vai-do-afrofuturismo-a-biblia-.... Acesso em: 16 nov. 2020.

 

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