A conversa com a professora Maria Auxiliadora Freitas, Secretária Municipal de Educação de Campos (RJ), é das mais esclarecedoras. Segundo nos confessou, é impossível existir uma boa relação ensino-aprendizagem numa escola suja, quebrada e mal-cheirosa. Foi assim que ela recebeu o sistema municipal, com suas 248 escolas, e hoje se esforça para renovar os prédios, licitando 138 obras prioritárias.
No "Prova Brasil", realizado pelo MEC, a cidade campista não foi das mais bem aquinhoadas. O seu professorado, desmotivado pelas más condições de trabalho e salários incompatíveis , padece de um mal que se alastra pelas redes públicas, como se fosse uma epidemia: autoestima. É um problema comum aos prefeitos que tomaram posse recentemente e que terão de dar atenção especial aos seus planos de cargos e salários na área de educação. Num ano de crise, as coisas são ainda mais complicadas, até mesmo para os municípios beneficiados pelos royalties do petróleo, pois o governo federal viu-se obrigado a promover um inesperado e devastador contingenciamento desses recursos (cerca de 30%).
Vida que segue, não é possível parar a roda do tempo. Falando a 600 professores, no Teatro Trianon, em Campos, procurei demonstrar que somos compelidos a sair da "zona de conforto", onde nada de relevante acontece, para buscar a claridade das ações práticas que podem conduzir a bons resultados. Isso inclui a compreensão do significado das condições de pertinência do magistério. Expressão emprestada da matemática, representa a adesão dos professores a sua missão, sem se deixar abater pelas adversidades. É claro que sempre esteja fora do conjunto, mas importa que a maioria esteja disposta a caminhar, unida, em busca do aperfeiçoamento das suas atividades dentro da escola. Com mais estudo e inovações.
Surgiram perguntas na platéia e o interesse dos mestres pôde ser medido pelo levantamento de questões fundamentais, como a aplicação do Acordo ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa. Com a experiência de membro da Academia Brasileira de Letras, por onde o assunto transitou durante muitos anos, pude esclarecer pormenores essenciais do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, hoje o instrumento básico de compreensão das modificações havidas. São 381 mil vocábulos que constituem a riqueza da nossa língua (desse total só 1.500 são estrangeirismos), com particularidades que são relativamente simples, com exceção do processo de hifenação, mais complicado e cheio de exceções.
O melhor remédio para absorver com propriedade essas alterações é a leitura de livros já adaptados, acostumando os olhos e o cérebro a modificações que, no Brasil, não chegam a 1 do total de verbetes antes existentes. Complicações maiores estão ocorrendo em Portugal, apesar da boa vontade das suas autoridades e da maioria dos membros da Academia das Ciências de Lisboa. Ainda há resistências extemporâneas, sobretudo por parte de intelectuais inconformados, que certamente serão vencidas com o tempo, dada a disparidade de populações na comunidade lusófona. Não que o Brasil queira se impor pela força dos seus 190 milhões de habitantes, mas é um dado inexorável, que logo prevalecerá na balança dos acontecimentos.
Jornal do Commercio (RJ), 3/4/2009