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Marta e a Petrosal

 

Em tempos de Olimpíadas, nenhum assunto pode deixar de estar interligado, entre jogos e aconte-cimentos. Assim é o imbróglio entre Rússia e Geórgia – por sinal a terra onde nasceu Stálin –, violando uma lei dos gregos, que mandava suspender todas as guerras durante os Jogos Olímpícos, assim como uma regra da xaria islâmica diz que um homem pode separar-se da mu-lher desde que não seja no período menstrual.


Quando eu era jovem, vivi as emoções da luta pelo “petróleo é nosso”, que desembocou na criação da Petrobrás. Getúlio, precavido e manhoso, não estabelecia o monopólio estatal no projeto de lei que encaminhou ao Congresso, o que afinal ficou por conta de uma emenda do Deputado Bilac Pinto, da UDN, que levou a culpa de xenófobo, sendo na verdade contra estatismos.


Agora, surge a idéia de uma nova companhia petrolífera que a imprensa já batizou de Petrosal, dando a impressão para os menos avisados de que se trata do monopólio do sal, o que faria sentido nos tempos da Colônia com a “civilização do couro”, tão carente desse produto nas charqueadas do sertão. Mas não se trata de nada disso, apenas de resguardar para o povo brasileiro, e em seu beneficio, a nova situação do Brasil que, com essas gigantescas reservas, passa de um país importador de petróleo para a condição de exportador. Não devemos estranhar nada, porque essa é uma política seguida mundialmente, reservar para o país as riquezas do subsolo, como já estabelece a lei brasileira. E se o regime é de concessão, dá quem pode, com os resguardos dos inte-resses do país, estabelecendo regras.


Outra coisa que tem que ser mexida diante da nova situação são os royalties, cuja lei foi promulgada durante meu governo. Se nacional é a riqueza, nacional tem que ser sua distribuição.


O Padre Vieira, no Sermão em que pregava aos pei-xes, e não aos homens, invoca a natureza do sal: vos estis sal terrae (sois o sal da terra), para dizer que a palavra do pregador não surtia efeito “quando o sal não salga ou a terra não se deixa salgar”. E afirma que a função do sal “é impedir a corrupção”. A camada do pré-sal não deve ser misturada com petróleo e, talvez, devêssemos aproveitar tanto sal para esta propriedade que será útil ao Brasil, com a fundação da Salbrás, a começar pela Bacia de Campos.


E de onde vem Marta nessa história? Não é a Marta, candidata a prefeita de São Paulo. Falo da Marta olímpica, essa mulher que está dando tanta alegria ao povo brasileiro, mostrando que futebol não é só para homens, como podiam pensar os machistas. É ela que seria a garota-propaganda da Petrosal.


Jornal do Brasil (RJ) 15/8/2008