Ao ler a notícia de que os bancos vão limitar os créditos, o leitor comum não sabe que um banco não faz outra coisa se não limitar créditos. Tem muita ilusão o cliente de banco ao supor que o banqueiro vai abrir a carteira de crédito para todos os candidatos que desejem fazer empréstimos, sem limites, quando a regra bancária é ter sempre limites para os empréstimos.
Quando a dona de casa tem dinheiro na poupança, ou fez alguns investimentos, já como classe média, e lê nos jornais que os bancos vão limitar o crédito, não sabe se ri ou chora, pois os bancos não estão fazendo outra coisa se não equilibrar o crédito nas mãos dos devedores.
É essa a engrenagem do banco. É difícil mesmo compreender como um gerente de banco no interior de São Paulo, habilitado a analisar crédito com as limitações vindas da matriz, não pode mudar o crédito para qualquer cliente.
Os clientes são escolhidos antecipadamente e o mercado evolui de acordo com a disponibilidade de crédito. É tudo uma alquimia, muito delicada, exigindo longos anos de prática do funcionário bancário, em perfeito diapasão com a gerência de crédito central.
No período de aquisições bancárias, em que vemos a passagem do controle bancário de uma mão para outra, admitimos que é possível toda essa transferência de poder -e, principalmente, da carteira de crédito - por estarem já determinados os clientes aptos a receberem o volume de crédito fixado pela matriz, com variações segundo os setores a que pertencem.
Foi possível a rede bancária paulista adaptar-se às normas do regime de fixação de novas operações porque vinha de outras facilidades - os clientes recebiam a nova parte segundo o gerente, que já estava habilitado a transmitir a eles as novas regras. Foi possível a aliança entre cliente e bancos, que se acertaram perfeitamente bem; o banqueiro dando a conhecer ao cliente o seu crédito no início do ano ou do período bancário, acertando-se os vários créditos ou as várias quantias para o acerto final da operação. Tudo isso não é nada fácil, exige uma aptidão desenvolvida há anos para poder se desincumbir bem e atender, com efeito, os clientes não habituados às normas bancárias.
É essa a vantagem que levam os bancos tradicionais ao abrirem o regime de crédito com segurança absoluta do que vão receber e do que vão reformar.
Tudo o que dissemos no corpo deste artigo está sujeito, evidentemente, a atualizações, mas em regra é o que prevalece nos meios bancários.
Diário do Comércio (SP) 14/7/2008