Um bom desfile de escola de samba não é só um espetáculo de som e de cores para a multidão embevecida. Busca também mostrar a essa multidão, na desenvoltura do cortejo dos foliões, a expressão da própria engenhosidade de um povo que se recria e se traduz como imagem da cultura nacional. Reflexos dessa lição de identidade, desfilam enaltecidos os valores e as riquezas da pátria encarnados pelos seus heróis históricos, pelas suas figuras míticas e pelas riquezas da natureza fértil e dadivosa. Um desfile busca, enfim, ser um espetáculo para os olhos e para a alma.
O vínculo maior, responsável e fautor da magia da expressão concreta desse espetáculo de identidade cultural dos brasileiros, é a Língua Portuguesa, corporificação nacional em todos que a falam nela, na diversidade social e regional, veiculam, democraticamente, seus pensamentos, propósitos, emoções e anseios, numa sociedade milagrosa e irmâmente pluricultural e plurilíngüe.
Por tudo isto, se justifica e se aplaude a feliz idéia da Mangueira de destacar, no conjunto dos bens patrimoniais da cultura brasileira, a Língua Portuguesa, e fazê-la tema de enredo no desfile do carnaval de 2007, rememorando-lhe a longínqua história, sua transplantação para os continentes que os navegadores portugueses desvendaram ao mundo, a manifestação literária de seus escritores, seu encontro com indígenas e africanos já em terras brasileiras, acrescido depois com o calidoscópio humano dos imigrantes.
Na multidão embevecida, juntamente com o espetáculo mágico de som e cores, deve ecoar também o apelo ao cultivo da riqueza da língua pátria, especialmente neste momento histórico que o mundo globalizado atravessa, dentro do qual os idiomas das nações hegemônicas se impõem ao comércio da política econômica e às relações internacionais.
Há que se aplaudir a conscientização do empenhamento em defesa e ilustração da Língua Portuguesa como expressão da alma, da história e da identidade cultural dos brasileiros.