ELIO GASPARI , há alguns anos, escreveu que duas coisas jamais desapareceriam: o livro e o jornal. Eles venceriam todas as tecnologias de informação e com elas disputariam o seu espaço. Li, ontem, em Clóvis Rossi, que a crise dos jornais fez parte da agenda do Fórum Econômico de Davos, com a conclusão de que ainda não é hora do suicídio. Eterna vida.
Com o livro nesta cesta, creio que nenhum dos dois sumirá do mapa. O aquecimento global pode levantar o nível dos mares, e a água invadirá as cidades, mas salvaremos os livros, se não pudermos salvar os prédios das bibliotecas.
É que o livro e o jornal são tecnologias avançadíssimas. A história só existe a partir do livro. Sem Homero, cego, descrever a Guerra de Tróia, nada saberíamos sobre a Antigüidade. Relembro que graças a “Ilíada” Schliemann descobriu Tróia.
Há 40 anos comecei a luta, isolado, para o Brasil iniciar um programa de incentivos fiscais para a cultura, minha causa parlamentar. Depois de apresentar quase uma dezena de projetos, tive a felicidade de, como presidente da República, fazê-los realidade.
Mas ainda precisamos proteger o livro. Apresentei um projeto, já sancionado, de Estatuto do Livro e outro para a criação de um fundo para a difusão da leitura e a proteção ao livro. Precisamos socorrer as bibliotecas, disseminá-las por todos os municípios do Brasil.
Gilberto Dimenstein nos conta de experiências simples para resolver grandes problemas. Dá um exemplo: a bibliojegue, que é uma biblioteca ambulante colocada em jumentos distribuindo livros na área rural. No Amapá, é um sucesso a Arca do Livro. Um baú cheio de livros levado a localidades isoladas na floresta, onde o livro é recebido como rei.
Na última eleição, cheguei a Calçoene, um pequeno município quase na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa. O que me pediram? Estradas, hospitais, casas? “Senador, mande livros para nós.
Livros!” Meu coração doeu, e dessa dor quero comungar com todos os meus leitores.
O livro tem sido muito perseguido. Queimaram-se livros por religião, por ideologia, por preconceito. Queimam-se bibliotecas para acabá-lo como propulsor de idéias. Não foi só a biblioteca de Alexandria; mas a Corvina, fundada pelo rei Matias Corvino em 1476, na Hungria, a Fatímida, no Egito, com mais de cem mil livros, e milhares e milhares delas. Livros isolados, não sei quantos: bilhões.
Mas ele resiste e resistirá, com o jornal, que é como seu derivado.
Tribuna do Norte (RN) 28/1/2007